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Brasil

IBGE: população indígena no Brasil cresceu 205% em 20 anos

Segundo especialista, um fator que pode explicar o aumento do número de índios é o processo de etnogênese, quando há “reconstrução das comunidades indígenas”

IBGE: população indígena no Brasil cresceu 205% em 20 anos (Foto: Marcello Casal Jr/ABr )
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Agência Brasil - Os índios no Brasil somam 896,9 mil pessoas, de 305 etnias, que falam 274 línguas indígenas, segundo dados do Censo 2010 divulgados hoje (10) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É a primeira vez que o órgão coleta informações sobre a etnia dos povos. O levantamento marca também a retomada da investigação sobre as línguas indígenas, parada por 60 anos.

Com base nos dados do Censo 2010, o IBGE revela que a população indígena no país cresceu 205% desde 1991, quando foi feito o primeiro levantamento no modelo atual. À época, os índios somavam 294 mil. O número chegou a 734 mil no Censo de 2000, 150% de aumento na comparação com 1991.

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A pesquisa mostra que, dos 896,9 mil índios do país, mais da metade (63,8%) vivem em área rural. A situação é o inverso da de 2000, quando mais da metade estavam em área urbana (52%).

Na avaliação do IBGE, a explicação para o crescimento da população indígena pode estar na queda da taxa de fecundidade das mulheres em áreas rurais, apesar de o índice de 2010 não estar fechado ainda. Entre 1991 e 2000, essa taxa passou de 6,4 filhos por mulher para 5,8.

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Outro fator que pode explicar o aumento do número de índios é o processo de etnogênese, quando há “reconstrução das comunidades indígenas”, que supostamente não existiam mais, explica o professor de antropologia da Universidade de Campinas (Unicamp), José Maurício Arruti.

Os dados do IBGE indicam que a maioria dos índios (57,7%) vive em 505 terras indígenas reconhecidas pelo governo até o dia 31 de dezembro de 2010, período de avaliação da pesquisa. Essas áreas equivalem a 12,5% do território nacional, sendo que maior parte fica na Região Norte - a mais populosa em indígenas (342 mil). Já na Região Sudeste, 84% dos 99,1 mil índios estão fora das terras originárias. Em seguida vem o Nordeste (54%).

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Para chegar ao número total de índios, o IBGE somou aqueles que se autodeclararam indígenas (817,9 mil) com 78,9 mil que vivem em terras indígenas, mas não tinham optado por essa classificação ao responder à pergunta sobre cor ou raça. Para esse grupo, foi feita uma segunda pergunta, indagando se o entrevistado se considerava índio. O objetivo foi evitar distorções.

A responsável pela pesquisa, Nilza Pereira, explicou que a categoria índios foi inventada pela população não índia e, por isso, alguns se confundiram na autodeclaração e não se disseram indígenas em um primeiro momento. "Para o índio, ele é um xavante, um kaiapó, da cor parda, verde e até marrom", justificou.

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A terra indígena mais populosa no país é a Yanomami, com 25,7 mil habitantes (5% do total) distribuídos entre o Amazonas e Roraima. Já a etnia Tikúna (AM) é mais numerosa, com 46 mil indivíduos, sendo 39,3 mil na terra indígena e os demais fora. Em seguida, vem a etnia Guarani Kaiowá (MS), com 43 mil índios, dos quais 35 mil estão na terra indígena e 8,1 mil vivem fora.

O Censo 2010 também revelou que 37,4% índios com mais de 5 anos de idade falam línguas indígenas, apesar de anos de contato com não índios. Cerca de 120 mil não falam português.

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Os povos considerados índios isolados, pelas limitações da própria política de contato, com objetivo de preservá-los, não foram entrevistados e não estão contabilizados no Censo 2010.

Fora da terra

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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que 57,7% dos 896 mil índios no país vivem em 505 terras indígenas reconhecidas pelo governo até 2010, o equivalente a 516,9 mil índios. Porém, 379 mil estão fora dessas terras, o que indica a necessidade de ampliação e criação de novas terras, mas também aponta para a migração em busca de educação e de renda, segundo especialistas.

Dos 42,3% índios que não estão nas terras originais, 78,7% habitam áreas urbanas. Dentre as regiões do país, a situação é mais comum no Sudeste, onde 84% dos 99,1 mil índios na região estão fora de suas terras, principalmente em São Paulo (93%) e no Rio de Janeiro (97%). Outros estados como Goiás (96%), Sergipe (94%) e Ceará (86%) também têm percentuais elevados.

No Rio, a busca por uma vida na cidade trouxe índios migrantes para o antigo Museu do Índio, na zona norte da capital. Lá, um grupo de cerca de 20 pessoas - de etnias como Guajajara (MA), Apurinã (AM) e Fulni-Ô (PE) - acabou se fixando. Enquanto as reivindicações por habitação e educação não são atendidas, sobrevivem do artesanato e de apresentações culturais.

No Sudeste, no entanto, também há casos de índios que deixam suas terras por falta de espaço. Se sentindo apertados devido ao pequeno território, os guaranis, do sul fluminense, se desmembraram em aldeias menores. Parte foi para um antigo sítio indígena em Niterói e os demais permanecem próximos às terras Guarani Araponga, Guarani de Bracuí e Parati Mirim, somando 2,8% dos índios no estado.

Para o professor de antropologia da Universidade de Campinas (Unicamp), José Maurício Arruti, a migração econômica é uma das explicações para a quantidade de índios fora das aldeias reconhecidas, mas não o único fator. "Tem a ver também com o estabelecimento de núcleos antigos de migração [nas cidades] e com problemas territoriais na origem, que expulsam, principalmente novas gerações", afirmou.

Outra razão que pode explicar o aumento de índios fora da área original é um fenômeno chamado etnogênese, quando há "reconstrução das comunidades indígenas" que supostamente teriam desaparecido. Há indícios de que seja o caso da Região Nordeste, onde 54% dos índios vivem fora de suas terras, segundo o professor de antropologia da Unicamp.

"Observando o aumento de grupos indígenas no Ceará, por exemplo, nos últimos 20 anos, é de se imaginar que o aumento da autoatribuição tem a ver com a ampliação de grupo indígenas no estado, estejam eles em terras indígenas ou não", avaliou Arruti, mas sem descartar que mais pesquisas e dados são necessários para apontar as razões para o número de índios fora das terras.

Em três unidades da federação, os índios encontrados vivem fora de aldeias - Distrito Federal (6 mil), Piauí (2,9 mil) e Rio Grande do Norte (2,5 mil). Nesses locais, não há território indígena reconhecido.

 

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