Ivan Valente relata métodos de tortura na ditadura
Deputado enfatizou que o dia 31 de março, data que marca o golpe militar de 1964, não deve ser comemorado, mas sim lembrado como um golpe sangrento na história do Brasil
247 — Durante uma participação no UOL News, o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) relatou as torturas que sofreu enquanto esteve preso durante a ditadura militar no Brasil. Ele mencionou a cadeira do dragão, uma máquina que dava choques elétricos em presos políticos, além da “geladeira”, uma máquina de tortura que isolava acusticamente e monitorava por câmeras.
“Todo preso político era torturado no nosso país para arrancar informações rapidamente. Nós passamos por várias torturas. Na prisão, a tortura física que sofremos foi a cadeira do dragão, uma espécie de cadeira de barbeiro a qual eles amarravam os presos e colocavam encapuzados e nus, com fios elétricos com uma maquininha de girar chamada Maricota. Davam choques elétricos em todos os órgãos sensíveis do corpo humano: ouvido, dente, órgãos genitais, nos dedos, nas pernas, nos pés, etc. Isso tudo encapuzado. Quando não era acompanhado de pontapés no peito. Eu mesmo sai do DOI-Codi com problemas gravíssimos no joelho, meu joelho até hoje não funciona, e sai precisando de um pneumologista urgente”.
Comentando sobre a geladeira, realtou: “Era um cubo de 1,5 metro x 1,5 metro dentro de um cubo de 2 m x 2 m. E era porta de geladeira, frigoríficas. Eram monitoradas por câmeras, uma luz que ficava o dia todo, acusticamente isolada, então você não ouvia os gritos de tortura lá dentro”.
Além disso, Ivan mencionou a tortura conhecida como “a cruz”, na qual os presos tinham as mãos abertas para receber múltiplas pancadas, e o pau de arara, no qual os presos eram pendurados.
“Isso durou dez dias ininterruptamente. Cinco dias depois eu estava na antessala da geladeira, sendo torturado o tempo todo, eu desmaiei. Quando fui acordar eu estava numa cela bem forte de aço. O que me recordo até hoje, estava passando um jogo de futebol de domingo, eu fui preso numa terça-feira no final da tarde. Eu fiquei cinco dias sem dormir, sem comer, sem nada”.
Ele enfatizou que o dia 31 de março, data que marca o golpe militar de 1964, não deve ser comemorado, mas sim lembrado como um golpe sangrento na história do Brasil.
