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      Juristas, intelectuais e movimentos sociais repudiam pacote de Temer

      Nota diz que Temer lidera o maior desmonte dos direitos sociais e trabalhistas da história recente

      Nota diz que Temer lidera o maior desmonte dos direitos sociais e trabalhistas da história recente (Foto: Leonardo Attuch)
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      Vermelho – Em nota divulgada na sexta-feira (23), juristas, intelectuais e movimentos sociais externaram apoio à nota da CUT e CTB que repudiaram o "pacote de maldades" do presidente Michel Temer, desde que assumiu a presidência, liderando o maior desmonte dos direitos sociais e trabalhistas da história recente.

      De acordo com a nota, as medidas adotadas para o país se convertem em "propostas que se colocam na contramão de história, na medida em que, enquanto na Europa discutem-se políticas de aumento do salário mínimo, no Brasil, apesar das imensas desigualdades sociais, alvitram-se medidas redutoras de direitos que mais atingem os que mais necessitam da proteção social, sacrificando o trabalho em detrimento do capital e sem qualquer aceno à redução dos juros, a um imposto de renda progressivo que não penalize os assalariados, à tributação da renda e das grandes fortunas".

      Leia a íntegra da nota:

      Quando o saco de maldades vira presente de natal

      A reforma trabalhista inconstitucional proposta pelo governo Temer insere-se em um amplo pacote de maldades que atropela os direitos sociais, incluídos os do trabalho, evidenciando um modelo de Estado e de sociedade que já se comprovou nefasto em outros países, com políticas de austeridade propaladas como sendo a via única para recuperar a economia e equilibrar as contas públicas cujos resultados, porém, têm sido catastróficos em outros experimentos internacionais, não resultando em crescimento e em equilíbrio fiscal [1].

      Nesse pacote, além da já aprovada PEC 55 (que congela o gasto público por vinte anos mas, por outro lado, permite a transferência de valores e riqueza aos rentistas do Tesouro), estão a Reforma da Previdência, penalizando os mais necessitados, e a Reforma Trabalhista que se expressa em projetos de lei em andamento (PLC 30/2015 que amplia a terceirização para quaisquer atividades, PEC 300/2016, entre outros) e nas recentes medidas anunciadas como “presente de natal” que, fundadas na tese da prevalência do negociado sobre o legislado, rompem com o princípio da hierarquia dinâmica das fontes (que autoriza seja aplicada a norma mais benéfica ao trabalhador), aliás, uma das expressões do princípio da proteção, razão de ser do Direito do Tabalho.

      O sistema constitucional de 1988, ao prever a força normativa dos acordos e convenções coletivas, condicionou sua validade e eficácia à observância dos princípios da dignidade humana e do valor social do trabalho, deixando expresso no artigo 7º, caput, que às disposições inscritas nos incisos podem ser agregadas outras que “visem à melhoria das suas condições sociais”.

      Daí ser inconstitucional qualquer proposta que parta da possibilidade de redução ou supressão de direitos assegurados pela legislação trabalhista.

      As medidas anunciadas como “presente de natal” são presente de grego para os trabalhadores e trabalhadoras do país, como diz nota conjunta da Central Única dos Trabalhadores, CUT, e da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, a CTB, aqui integralmente endossada.

      Essas medidas, fundamentadas em premissa equivocada e não comprovada empiricamente de que é flexibilizando a tela social de proteção que serão ampliados postos de trabalho e atingidos melhores índices de produtividade e competitividade, são inaceitáveis para os que têm ciência de que tais elementos somente poderão ser alcançados com a dinamização da economia, jamais com supressão de direitos que asseguram patamar civilizatório mínimo.

      Ao consagrar, na lei, a supremacia do acordado sobre o legislado, as medidas, acaso aprovadas, ampliarão a margem para o empregador contratar e gerir a força de trabalho como lhe aprouver, segundo suas conveniências e necessidades, acirrando as inseguranças no mundo do trabalho e aprofundando a precariedade.

      De resto, sociedades menos injustas e mais inclusivas supõem uma regulação social pública do trabalho a qual somente terá eficácia enquanto existir uma regulação pública do capital que lhe coloque freios e limites.

      No caso das medidas propostas, regressivas e intoleráveis por privilegiarem o polo mais poderoso da relação capital e trabalho, permitem, em síntese, que o acordado se sobreponha ao legislado.

      São onze os pontos que, segundo a proposta, poderão ser alterados nesse encontro “livre” das “vontades iguais”, tais como: jornada de trabalho, férias, repousos, horários de descanso para refeição, entre outros.

      Também consta dos direitos que podem ser “negociados” (para menos): as horas de deslocamento do trabalhador (horas in itinere), em desrespeito a entendimento consagrado pelo TST, os planos de cargos e salários, os bancos de horas.

      Mas talvez a grande novidade seja a previsão da organização por local de trabalho via comissão eleita que poderá ou não contar com a participação do sindicato.

      Uma vez adotada a supremacia do negociado, essa comissão poderá dispor sobre direitos empresa por empresa, o que, em cenário de crise econômica grave, brutal recessão, terceirização ampla e fragmentação da organização sindical, além de não representar a abertura de novos postos de trabalho, ampliará o poder das empresas de negociar, por exemplo, jornadas intermitentes, com implicações diretas na remuneração e nas contribuições previdenciárias, podendo levar a uma situação de total supressão de direitos diante da insegurança do desemprego que ameaça a sobrevivência pessoal e familiar.

      Estudos mostram que os acidentes e os adoecimentos se ampliam diante da sobrecarga de trabalho.

      A proposta, ao permitir que as regras da jornada sejam alteradas, respeitado o limite de 12 horas diárias e 220 horas mensais, além de consistir afronta direta à conquista das 8 horas diárias e 44 semanais incorporada pela Constituição de 1988, ampliará de forma alarmante os riscos a que ficam submetidos os trabalhadores, em um país cujos índices de acidentes, sobretudo nos terceirizados, já são altíssimos.

      A intensificação da jornada e o previsível aumento das incertezas quanto à manutenção do emprego repercutirão nas condições de vida e de subsistência das famílias, fazendo expandir os problemas de saúde como depressão, estresse, LER/DORT, entre outros.

      A catástrofe será ainda maior se for aprovada a Reforma da Previdência Social em andamento.

      Não bastasse isso, a proposta contempla a possibilidade de ampliação do tempo em que poderá o fazer uso do contrato de emprego temporário de que trata a lei 6.019/74.

      Ao ampliar esse tempo para 120 dias, com possibilidade de renovação, ao invés de estimular a geração de empregos contribuirá para alimentar uma cadeia de precariedades e de estímulo à rotatividade da mão de obra em um cenário em que grande parte dos contratos por prazo indeterminado não chega a esse limite dilatado pela proposta.

      Diante desse quadro, os signatários desta nota, integrantes do Fórum Nacional em Defesa dos Direitos dos Trabalhadores Ameaçados pela Terceirização, FÓRUM, repudiam com veemência tal proposta que, ao fim e ao cabo, busca eliminar quaisquer obstáculos legais ao “livre trânsito” de um “desejo insaciável” de acumulação de riqueza abstrata.

      Cientes de que são as conquistas incorporadas pela Constituição da República de 1988 que estão em xeque, solidarizam-se com a insatisfação de trabalhadores e de entidades expressa em notas que se ampliam e em manifestações públicas, repudiando toda e qualquer tentativa de regresso àqueles tempos em que não havia diques para conter a ação despótica do capitalismo constituído.

      Assim, colocam-se contrários tanto à PEC 300, por flagrante inconstitucionalidade, inclusive porque limita o direito de reparação aos dois últimos anos do contrato quanto à Reforma Trabalhista anunciada, objeto desta nota, por seu escancarado caráter retrógrado.

      São propostas que se colocam na contramão de história, na medida em que, enquanto na Europa discutem-se políticas de aumento do salário mínimo, no Brasil, apesar das imensas desigualdades sociais, alvitram-se medidas redutoras de direitos que mais atingem os que mais necessitam da proteção social, sacrificando o trabalho em detrimento do capital e sem qualquer aceno à redução dos juros, a um imposto de renda progressivo que não penalize os assalariados, à tributação da renda e das grandes fortunas.

      Nós dizemos não a esse presente indigesto!

      Assinam por ordem alfabética

      André Paiva – Advogado Trabalhista, Pernambuco

      Aparecido Araújo Lima — Jornalista, centro de mídia alternativa, Barão de Itararé

      Carolina Valença Ferraz – Advogada, Professora Universitária, Pernambuco

      Daniel Rodrigues Cruz – Advogado, Paraná

      Denis Batista Santos – Advogado, São Paulo

      Denise Filippetto – Advogada Trabalhista, Coordenadora de Direito e Saúde do Trabalhador do Instituto de Democracia Popular

      Eduardo Alecsander Xavier de Medeiros – Advogado, Distrito Federal

      Eduardo Surian Matias – Advogado, sócio de LBS Sociedade de Advogados

      Elaine d´vila Coelho — Advogada trabalhista e membro da Comissão de Direito Sindical da OAB/SP

      Elisete Aparecida Marques Torrente Munhoz – Advogada, São Paulo

      Elsa Cristine Bevian — Advogada e Professora de Direito do Trabalho/FURB

      Emerson Ferreira Mangabeira – Advogado, Bahia

      Erika de Souza da Silva – Advogada, São Paulo

      Fabio Melmam – Advogado, São Paulo

      Francisco Luciano de Azevedo Frota — Juiz Titular da 3 Vara de Brasília-DF

      FITRATELP (Federação Interestadual dos Trabalhadores e Pesquisadores em Serviços de Telecomunicações)

      Gilberto Augusto Leitão Martins — Juiz do TRT 10

      Glauber Felipe Carneiro – Advogado Trabalhista, Sergipe

      Graça Costa – Secretaria de Relações de Trabalho da CUT Nacional

      Graça Druck – Professora Titular – Sociologia — UFBA

      Grijalbo Fernandes Coutinho – Desembargador do Trabalho e ex-Presidente da ANAMATRA

      Gustavo Ramos – Advogado do escritório Mauro Menezes & advogados

      Hugo Melo Filho — Juiz do trabalho e presidente da ALJT

      Isabel Cristina Machado Valente – Advogada Trabalhista, São Paulo

      João Gabriel Lopes — Advogado trabalhista

      Jocelino Pereira da Silva — Advogado Trabalhista, São Paulo

      Joilson Cardoso – Vice-Presidente Nacional da CTB, Secretário Nacional da SSB-Sindicalismo Socialista Brasileiro

      Jônatas Andrade – Juiz do Trabalho e membro da AJD

      Jorge Otávio Oliveira Lima – Advogado, Bahia

      Jorge Souto Maior — Juiz do Trabalho e Professor de Direito/USP – São Paulo

      José Dari krein – Professor do IE – UNICAMP, Pesquisador CESIT/UNICAMP

      Jose Eymard Loguercio — Advogado sócio de LBS Sociedade de Advogados. Mestre em Direito pela UNB

      José Ricardo Ramalho — Professor, IFCS-UFRJ

      Julio Yamamoto – Advogado, São Paulo

      Karina Pina Pompeu – Advogada, Paraná

      Leopoldina Xavier – Advogada, São Paulo

      Lucas Mendonça Rios – Advogado, Sergipe

      Luciano Gonçalves Toledo — Advogado, São Paulo

      Luís Carlos Moro – Advogado trabalhista — São Paulo, ex-Presidente da ALAL e da ABRAT

      Luiz Filgueiras – Professor Titular — Economia UFBA

      Magda Barros Biavaschi — Desembargadora aposentada do TRT 4, Professora Convidada do IE-UNICAMP e Pesquisadora no CESIT/UNICAMP

      Manoel Frederico Vieira — Advogado Trabalhista, Minas Gerais

      Maria Cristina Carrion Vidal de Oliveira — Advogada Trabalhista, Rio Grande do Sul

      Maria Rosaria Barbato — Subchefe do Departamento de Direito do Trabalho e Introdução ao Estudo do Direito – Faculdade de Direito — UFMG

      Marilane Oliveira Teixeira – Economista, Pesquisadora CESIT/UNICAMP

      Mario Macedo Fernandes Caron — Desembargador do TRT 10

      Mauro de Azevedo Menezes – Advogado trabalhista, diretor — geral de Roberto Caldas, Mauro Menezes & Advogados

      Mary Cohen – Advogada Trabalhista, Paraná

      Maximiliano Nagl Garcez – Diretor para Assuntos Legislativos da ALAL — Associação Latino-Americana de Advogados Laboralistas

      Miguel Pereira – Bancário, Diretor Executivo — Contraf-CUT

      Miguel Rosseto – sociólogo, ex-Ministro do MDA e do Trabalho e Emprego nos governos Lula e Dilma

      Murilo da Silva Cerqueira — Advogado, Bahia

      Osvaldo Sirota Rotbande — Advogado, Rio de Janeiro

      Paulo Sabóia — CGTB/SP

      Roberto Pompa — Juiz do Trabalho, Argentina, ex-Presidente da ALAL

      Sayonara Grillo Coutinho Leonardo Da Silva — Desembargadora do Trabalho TRT1

      Sávio Machado Cavalcante — Professor do Depto. Sociologia-IFCH/Unicamp

      Silvia Marina Mourão — Advogada Trabalhista, Paraná

      SINTTEL-DF (Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações do Distrito Federal)

      Tania Mandarino — Advogada, Paraná

      Vera Lucia Navarro — Professora Associada da Universidade de São Paulo

      Veronica Chaves Salustiano — Advogada, Tocantins

      Victor André Teixeira Lima — Advogado, Paraná

      Vitor Araújo Filgueiras — Auditor Fiscal do Trabalho

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