CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
Brasil

Luis Miguel: é preciso gritar não para todos os que querem tutelar a soberania popular

Segundo o cientista político Luis Felipe Miguel, é preciso "gritar 'não' também para todos os que querem manter tutelada a soberania popular, que querem impedir a democracia e a justiça social"; analista também critica a decisão de do ministro do STF Luiz Fux de proibir o ex-presidente Lula de conceder entrevistas; "a decisão de Fux torna claro uma vez mais, Lula não é um preso comum. É um preso político"

Luis Miguel: é preciso gritar não para todos os que querem tutelar a soberania popular (Foto: Dir.: em cima (Adriano Machado - Reuters))
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Por Luis Felipe Miguel, em seu Facebook

O juiz bolsomínion que queria dar um golpe na véspera das eleições, Eduardo Luiz Rocha Cubas, é provavelmente só um aloprado. Ele não tem importância por si mesmo, mas como sintoma de processos mais profundos - sendo o primeiro deles o declínio alarmante do nível intelectual dos integrantes do nosso judiciário.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Rocha Cubas foi pessoalmente ao Comando do Exército, em Brasília, para acertar os ponteiros de seu plano infalível para impedir as eleições. É uma ilustração da parceria entre forças armadas e judiciário contra a democracia - anedótica, mas nem por isso menos significativa.

Nos últimos tempos, colecionamos declarações preocupantes de chefes militares, vestindo farda ou pijama, que abrem a porta para um novo golpe. Entre eles, o comandante do Exército, general Eduardo Villas-Bôas. Ontem, entrevistado no hospital, o Bozo fez praticamente um chamamento a uma intervenção militar, para logo depois de sua previsível derrota nas urnas.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Está certo que Rocha Cubas é apenas um juiz de primeira instância do interior de Goiás, assim como o Bozo é só um capitão da reserva. Mas eles vocalizam um sentimento muito presente entre seus pares. Quantos oficiais militares, quantos juízes - e também quantos procuradores do MP ou policiais - estão de fato comprometidos com a democracia?

Em caso de um novo golpe, de que lado ficarão Sérgio Moro, Deltan Dallagnol ou Erika Marena?

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

A cúpula do judiciário também não tem esse compromisso. O novo presidente do STF, Dias Toffoli, tomou a preocupante iniciativa de buscar um general para assessorá-lo. E, também ontem, Luiz Fux proibiu que o presidente Lula seja entrevistado pela imprensa, impondo até censura prévia para que o veto seja obedecido.

Presos concedem entrevistas com frequência. Mas, como a decisão de Fux torna claro uma vez mais, Lula não é um preso comum. É um preso político. Está na cadeia não como punição por um crime que tivesse cometido, mas porque julgam que é necessário calá-lo.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Até onde Fux está disposto a ir contra a democracia? Todos os indícios mostram que ele vai longe, muito longe.

Em 1968, com o AI-5, cinco ministros deixaram o Supremo. Três foram cassados e outros dois renunciaram em protesto. Se ocorresse um novo golpe, quantos integrantes da nossa corte superior seriam atingidos? Será que chegaria a dois?

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

A maioria deles estaria, é claro, muito ocupada encontrando meios de legitimar a nova ordem. Mas é pior do que em 1964, quando o judiciário se curvou ao golpe. Hoje, ele é co-autor. Do que ocorreu em 2016 e do que desponta como uma possibilidade para o futuro próximo.

A imprensa burguesa também cumpre, com brio, seu papel. O resultado "errado" na eleição é apresentado como o caos. Outro dia, um colunista qualquer da Folha quis mostrar como o PT era a ameaça e pegou um documento da direção nacional, lançado logo após a derrubada de Dilma, em que o partido fazia autocrítica por não ter enfrentado questões como a educação militar (um reconhecido calcanhar de Aquiles da redemocratização brasileira, segundo dez entre dez especialistas) ou a pluralização da mídia (idem, idem). Está aí, brada o colunista, é o aparelhamento!

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

É o que torna tão difícil desarmar a bomba-relógio que nos tem acompanhado por tanto tempo. Militares, judiciário e mídia são tabus; qualquer iniciativa no sentido de torná-los mais compatíveis com uma ordem política democrática e plural recebe uma resposta desproporcional.

E esses cães de guarda, assim protegidos, cumprem a contento seu papel que é proteger por sua vez as iniquidades e as violências estruturais da sociedade brasileira. O que os preocupa na eleição de 2018, mais do que a eventual volta do PT ao poder, é que, até por conta dos excessos do governo Temer, alguns assuntos têm entrado no debate público, em particular a necessidade de dar um caráter progressivo à tributação e os riscos associados à perda da soberania nacional.

Nosso futuro, não tenho dúvidas, depende da nossa capacidade de resistir - e, a partir da resistência, avançar. Por isso, hoje vou atender à convocatória das mulheres e ir à rua gritar #EleNão.

Gritar "não" para o fascista que hoje trama um golpe de uma cama hospitalar.

Mas gritar "não" também para todos os que querem manter tutelada a soberania popular, que querem impedir a democracia e a justiça social.

"Não" para a violência contra as mulheres, para aqueles que tentam impedir que elas sejam donas de seus corpos e de suas vidas. "Não" para o racismo, que nega humanidade à maioria dos brasileiros. "Não" para a homofobia e toda a fieira de agressões que ela provoca todos os dias. "Não" para as intimidações a professores e estudantes interessados em construir o conhecimento crítico sobre a sociedade. "Não" para a destruição dos direitos.

Aproveito e acrescento "não" para a manipulação da mídia, "não" para a violência policial, "não" para a entrega das riquezas nacionais, "não" para insensibilidade ambiental e, claro, meu "não" muito especial para o capitalismo.

O movimento de hoje representa muito. Todos nós - as mulheres, a classe trabalhadora, a população negra, os povos indígenas, a comunidade LGBT, a juventude estudantil e trabalhadora, o professorado, a intelectualidade - vamos marcar o que nos une, que começa pela defesa de existirmos como sujeitos políticos, e mostrar que nossas diferenças não nos enfraquecem.

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247,apoie por Pix,inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Cortes 247

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO