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“Meu crime foi ser professor”, diz irmão de Zico torturado na ditadura

Ex-jogador Nando Antunes, irmão de Zico, conta como preso e torturado durante a militar no final dos anos 1960; "Botaram a gente num corredor onde tinha meia dúzia de jaulas, ficamos a noite inteira com a mão na cabeça, com a cara na parede. Quando o braço descia de cansaço, vinham com um mosquetão e diziam: 'Filho da p... vou furar você, levanta esse braço'. Falavam mil abobrinhas, me esculachavam" 

“Meu crime foi ser professor”, diz irmão de Zico torturado na ditadura (Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)

247 - O ex-jogador Nando Antunes, irmão do ex-jogador Zico, não tem motivos para comemorar neste domingo, 31, quando completa-se 55 anos do golpe militar de 1964. 

Como relata o jornalista Adriano Wilkson, do UOL, em 1963, foi aprovado em um concurso do Ministério da Educação para dar aulas no Programa Nacional de Alfabetização, idealizado por Paulo Freire. Foi o suficiente para entrar no radar do regime que se instalaria um ano depois. No final dos anos 1960, depois de uma passagem frustrada pelo Belenenses de Portugal, Nando Antunes foi preso por quatro dias, suspeito de ter ligação com grupos então considerados subversivos.

"Botaram a gente num corredor onde tinha meia dúzia de jaulas, ficamos a noite inteira com a mão na cabeça, com a cara na parede. Quando o braço descia de cansaço, vinham com um mosquetão e diziam: 'Filho da p... vou furar você, levanta esse braço'. Falavam mil abobrinhas, me esculachavam", relata o irmão de Zico. 

Nando acredita que o fato de ter sido considerado subversivo pelo regime explica o desapreço que os militares (ocupantes de cargos altos na estrutura esportiva da época) nutriam pelos irmãos Coimbra.

"O Edu não foi convocado e deixou de ser campeão do mundo porque os milicos cortaram ele só por ser meu irmão. O Zico era principal jogador da seleção olímpica e foi cortado porque eu tinha sido preso", afirma o aposentado, hoje com 73 anos. Em 2011 ele recebeu o perdão formal do Estado brasileiro depois que os trabalhos da Comissão da Verdade atestaram a perseguição.