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    Movimento Passe Livre desconfia de Veja, Jabor...

    Estudante Paulo Motoryn diz que revista do Grupo Abril, ao demonstrar simpatia pelos protestos estudantis, quer, no fundo, "manipular seus objetivos"; critica é generalizada à mídia tradicional; "Sob hipótese nenhuma podemos nos alinhar aos Datenas, Jabores e Pondés", escreveu; íntegra de artigo

    Movimento Passe Livre desconfia de Veja, Jabor...
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    247 – Até mesmo os integrantes do MPL – Movimento Passe Livre – estão intrigados com a posição da mídia tradicional, que vai olhando com simpatia a tomada das ruas, nas principais capitais brasileiras, por estudantes. Em particular, causa estranheza aos líderes do movimento a postura da revista Veja, da Editora Abril, sempre com grandes dificuldades em apoiar iniciativas populares, mas que agora se mostra favorável aos protestos.

    A esse respeito, o estudante Paulo Motoryn, do MPL, escreveu o artigo abaixo:

    O QUE QUEREMOS?

    Por Paulo Motoryn, colaborador da Revista Vaidapé, estudante de Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP).

    Desde o ato da última quinta-feira contra o aumento da passagem do transporte público em São Paulo, em que a violência e a repressão policial viraram notícia em todo o planeta, mais uma ameaça ronda o sucesso das manifestações organizadas pelo Movimento Passe Livre: a instrumentalização do povo.

    A evidente mudança de postura da imprensa em relação aos protestos deve ser motivo de desconfiança, não de festa. Isso porque nos últimos dias imperou o comentário: "Agora até a grande mídia defende as manifestações". Como se isso fosse algo positivo.

    Por um lado, a máxima "não é só pelos 20 centavos" conseguiu convencer diversos setores da população a ir às ruas. Por outro, abriu uma questão polêmica: se o aumento da passagem foi só o estopim, o que mais nos incomoda? Quais são os reais motivos do fim da letargia política em São Paulo?

    É fato, o reajuste do preço transporte só provocou a revolta necessária para que o paulistano percebesse o óbvio: política se faz nas ruas. No entanto, a recusa ao modelo de sociedade atual tem de ser deixada clara. Isso porque os perigos da apropriação do movimento são reais.

    Na sua última edição, Veja contrariou sua linha editorial e se posicionou a favor das manifestações. Quando um veículo que representa o que há de mais reacionário na sociedade apoia movimentos sociais, há no mínimo um ponto de extrema relevância para refletir.

    Mas as páginas de Veja só revelam a nova postura dos veículos da imprensa dominante: já que não podem mais controlar ou evitar a multidão, manipulam seus objetivos. De acordo com a revista, o descontentamento dos manifestantes se deve também à corrupção, à criminalidade...Falácia.

    É evidente que essas questões também são importantes, mas os jovens que estão nas ruas estão preocupados com questões muito mais profundas. A juventude está mostrando que não quer compartilhar dos valores individualistas, consumistas e utilitaristas da geração de seus pais.

    O grito dos jovens está longe de bradar contra os "mensaleiros", contra a inflação, contra as políticas sociais de transferência de renda. O movimento é progressista por natureza e agora tem de saber lidar com uma ameaça feroz: a direitização.

    O aparelho midiático que serve a esses interesses já foi acionado. A grande imprensa já está mobilizada para maquiar o movimento de acordo com um ideário conservador, por isso o povo precisa fazer seu recado ser entendido.

    Sob hipótese nenhuma podemos nos alinhar aos Datenas, Jabores e Pondés.

    O que queremos é derrubar as barreiras entre ricos e pobres, quebrar os muros entre centro e periferia, consolidar o povo como um ator político de importância ímpar e lutar por um Brasil com justiça social, sem desigualdade e com oportunidades iguais para todos e todas. Nada mais. E nada menos.

    Vamos à luta!

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