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      Movimentos sociais criticam criação de lei antiterrorismo

      Mais de 80 entidades e personalidades ligadas aos movimentos sociais assinaram um manifesto se posicionando de forma contrária ao Projeto de Lei nº 101, de 2015, de iniciativa da Presidência da República, que tipifica o crime de terrorismo no Brasil; temor é que o texto acabe por criminalizar os movimentos sociais, uma vez que deixa a critério de promotores e delegados a responsabilidade de estabelecer se uma determinada conduta é típica de movimento social ou deva ser enquadrada como terrorismo; projeto deveria ter sido votado pela Câmara nesta quinta-feira (8), mas foi adiado para a próxima semana

      Mais de 80 entidades e personalidades ligadas aos movimentos sociais assinaram um manifesto se posicionando de forma contrária ao Projeto de Lei nº 101, de 2015, de iniciativa da Presidência da República, que tipifica o crime de terrorismo no Brasil; temor é que o texto acabe por criminalizar os movimentos sociais, uma vez que deixa a critério de promotores e delegados a responsabilidade de estabelecer se uma determinada conduta é típica de movimento social ou deva ser enquadrada como terrorismo; projeto deveria ter sido votado pela Câmara nesta quinta-feira (8), mas foi adiado para a próxima semana (Foto: Paulo Emílio)
      Paulo Emílio avatar
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      247 - Grupos da sociedade civil organizada, entidades ligadas aos movimentos sociais e de direitos humanos, além de personalidades de diversas áreas, assinaram um manifesto contrário ao Projeto de Lei nº 101, de 2015, de iniciativa da Presidência da República, que tipifica o crime de terrorismo no Brasil. O temor é que o texto, caso venha a ser aprovado da maneira como foi redigido, deixe a critério de promotores e delegados a responsabilidade de estabelece se uma determinada conduta é típica de movimento social ou deva ser enquadrada como terrorismo. Projeto deveria ter sido votado nesta quinta-feira (8), mas acabou ficando para a próxima semana.

      Segundo as mais de 80 organizações e personalidades que assinam o manifesto, caso o projeto seja aprovado o risco de criminalização dos movimentos sociais é bastante elevado. É de se repudiar também emenda apresentada ao projeto que inclui "razões de ideologia e política" às motivações do terrorismo. É sabido que as lutas e manifestações de diversos movimentos sociais são causadas por motivos ideológicos e políticos, o que, certamente, é amplamente resguardado pela nossa Constituição. Assim, fica claro que este dispositivo, caso seja aprovado, será utilizado pelos setores conservadores contra manifestações legítimas dos diversos movimentos sociais, já que tais lutas são realmente capazes de trazer indignação para quem há muito sobrevive de privilégios sociais", diz um trecho do documento.

      Confira abaixo a íntegra do manifesto.

      MANIFESTO DE REPÚDIO A TIPIFICAÇÃO DO TERRORISMO

      Está na Ordem do Dia do Senado Federal o PLC n° 101/2015, de autoria do Poder Executivo, e que tipifica o crime de terrorismo.

      A proposta já aprovada no Plenário da Câmara dos Deputados prevê reclusão de 12 a 30 anos para a prática, por um ou mais indivíduos, de atos por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia ou religião, com a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública.

      Ainda que faça a ressalva explícita de que não se enquadra na lei a conduta individual ou coletiva de movimentos sociais, sindicais, religiosos ou de classe profissional se eles tiverem como objetivo defender direitos, garantias e liberdades constitucionais, a proposta representa um grande retrocesso para os direitos de participação política no Brasil, porque deixará nas mãos de delegados e promotores o filtro para dizer se tal conduta é ou não de movimento social.

      Democracia se faz pelo voto e pela participação direta do povo. Essa participação se dá inclusive pela militância em movimentos sociais. Inúmeros militantes, entretanto, foram e estão sendo, através de suas lutas cotidianas, injustamente enquadrados em tipos penais como desobediência, quadrilha, esbulho, dano, desacato, dentre outros, em total desacordo com o princípio democrático proposto pela Constituição de 1988.

      A proposta incrementa esse Estado Penal segregacionista, que funciona, na prática, como mecanismo de contenção das lutas sociais democráticas e eliminação seletiva de uma classe da população brasileira. O inimigo que se busca combater para determinados setores conservadores brasileiros, que permanecem influindo nos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, é interno, concentrando-se, sobretudo, nos movimentos populares que reivindicam mudanças profundas na sociedade brasileira.

      Além disso, combater o terrorismo propriamente dito não é uma necessidade brasileira. Depredação, homicídio, uso de explosivos, etc., já são crimes no Brasil. A criação de uma figura específica atende, sim, a pressões externas, sobretudo dos Estados Unidos e de outros países da OCDE, que têm em consideração realidade muito diferentes da nossa, sem qualquer histórico de episódios que se assemelhem ao terrorismo.

      A justificativa de que a tipificação ao terrorismo atenderia à recomendação do GAFI (Grupo de Ação Financeira contra a Lavagem de Dinheiro e o Financiamento do Terrorismo) tampouco é válida. A Lei sobre organizações criminosas – e todos seus instrumentos tais como colaboração premiada e infiltração — já se aplica às organizações terroristas internacionais cujos atos de suporte, de preparação ou de execução ocorram ou possam ocorrer em território nacional.

      É de se repudiar também emenda apresentada ao projeto que inclui "razões de ideologia e política" às motivações do terrorismo. É sabido que as lutas e manifestações de diversos movimentos sociais são causadas por motivos ideológicos e políticos, o que, certamente, é amplamente resguardado pela nossa Constituição. Assim, fica claro que este dispositivo, caso seja aprovado, será utilizado pelos setores conservadores contra manifestações legítimas dos diversos movimentos sociais, já que tais lutas são realmente capazes de trazer indignação para quem há muito sobrevive de privilégios sociais.

      Cumpre ao Congresso Nacional defender a jovem democracia brasileira e rechaçar projetos de lei cujo conteúdo tangencia medidas de exceção abomináveis como o nada saudoso 'AI-5'. Desta maneira, repudiamos veementemente estas propostas de tipificação do crime que, sobretudo, tendem muito mais a reprimir e controlar manifestações de grupos organizados, diante de um cenário já absolutamente desfavorável às lutas sociais.

      A Presidenta Dilma Rousseff, que já foi acusada da prática de terrorismo pela Ditadura Militar não deveria ter enviado este projeto ao Congresso e, caso aprovado no Senado, deverá ter a dignidade de vetá-lo. É o mínimo que se espera.

      Abaixo assinamos:

      — ENTIDADES —

      Ação Educativa – Assessoria, Pesquisa e Informação
      Actionaid Brasil
      Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre – ANEL
      Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo – ABEA
      Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais no Estado da Bahia – AATR
      Associação dos Especialistas em Políticas Públicas do Estado de São Paulo – AEPPSP
      Associação dos Geógrafos Brasileiros – AGB
      Associação ECCOS – CAMPINAS
      Associação Juízes Para a Democracia – AJD Associação Missão Tremembé – AMI
      Associação Nacional de Pós Graduandos
      Associação Nacional de Transportes Públicos – ANTP
      Campanha pelo Plebiscito Constituinte
      Central de Movimentos Populares – CMP
      Centro de Assessoria à Autogestão Popular – CAAP
      Centro de Assessoria Popular Mariana Criola
      Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza – Fortaleza, CE
      Centro de Direitos Econômicos e Sociais – CDES Direitos Humanos
      Centro de Direitos Humanos de Cascavel – PR
      Centro Dom Gaspar de Direitos Humanos
      Centro Dom Helder Câmara de Estudos e Ação Social – CENDHEC
      Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos
      CFEMEA – Centro Feminista de Estudos e Assessoria
      Coletivo de Artistas Socialistas – CAS
      Coletivo Desentorpecendo a Razão – DAR Comboio
      Coletivo Juventude Socialismo e Lierdade – JSOL Campinas
      Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da Associação Brasileira de Imprensa – ABI
      Comissão de Direitos Humanos do Sindicato dos Advogados de São Paulo
      Comitê Pela Desmilitarização
      Comitê Popular da Copa de SP
      Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas do Rio de Janeiro
      Comunidades Eclesiais de Base – CEBS Sorocaba
      CONAM
      Conectas
      Confederação Nacional de Associações de Moradores – CONAM
      CONIC – Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil
      Conselho Federal de Serviço Social – CFESS
      Conselho Indigenista Missionário – CIMI
      Conselho Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de Campinas
      Conselho Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de Campinas
      Consulta Popular
      Coordenação do Fórum Nacional de Reforma Urbana
      CSP – Conlutas
      CUT- Central Única dos Trabalhadores
      Dignitatis Assessoria Técnica Popular
      Escola de Governo
      Espaço Kaleidoscópio – Criciúma-SC
      Esquerda Marxista
      Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional – FASE
      Federação Interestadual dos Sindicatos de Engenharia – FISENGE
      Federação Nacional das Associações de Empregados da Caixa Econômica – FENAE
      Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas – FNA
      Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil – FENEA
      Fora do Eixo
      Fórum da Amazônia Oriental/ GT Urbano – FAOR
      Fórum Nordeste de Reforma Urbana – FneRU
      Fórum Sul de Reforma Urbana
      Fórum Urbano da Amazônia Ocidental – FAOC
      Frente de Resistência Urbana
      Greenpeace
      Grito dos Excluídos Contiental
      Grupo Lambda LGBT Brasil Grupo Tortura Nunca Mais – RJ
      Grupo Tortura Nunca Mais – SP Habitat para a Humanidade
      IBASE
      Identidade – Grupo de Luta pela Diversidade Sexual Instituto Brasileiro de Administração Municipal – IBAM
      Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas – IBASE
      Instituto Brasileiro de Ciências Criminais – IBCCRIM
      Intersindical
      Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social
      Jornal Página 13
      Juventude Revolução
      Juventude Revolução
      Levante Popular da Juventude
      MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens
      Midia NINJA
      Movimento de Moradia da Cidade de São Paulo / MMC
      Movimento dos Pequenos Agricultores / MPA
      Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra- MST
      Movimento dos Trabalhadores/as Assentados/as, Acampados/as e Quilombola CETA/BA
      MTST- Movimento dos Trabalhadores Sem Teto
      NAÇÃO HIP HOP BRASIL
      Nação Hip Hop Brasil
      Pastoral Anglicana da Terra – Cascavel – PR
      Plataforma de Direitos Humanos – Dhesca Brasil
      Rede nacional de advogados populares, RENAP
      Tendência Revolucionária, Psol
      Terra de Direitos
      União Brasileira de Mulheres
      União de Negros Pela Igualdade – UNEGRO
      União Nacional dos Estudantes- UNE
      União Nacional por Moradia Popular

      — PERSONALIDADES —

      Adriano Espíndola Cavalheiro – Presidente da Comissão de Movimentos Sociais da 14ª Subsecção da OAB/MG
      Adriano Ferreira – Movimento dos trabalhadores e trabalhadoras do campo MTC- Brasil
      Aleida Guevara March – Medica cubana.
      Alexandre Conceição, MST
      Anarquistas Contra o Racismo – ACR
      André Alcântara – Centro de Direitos Humanos de Sapopemba
      Anivaldo Padilha, militante dos direitos humanos, São Paulo.
      Ariovaldo Ramos, Pastor Evangélico
      Bento Rubião – Centro de Defesa dos Direitos Humanos Cearah Periferia
      Bruno Elias, secretário nacional de movimentos populares do PT
      Carlos A. C. Baccaglini – diretor de Comunicação do Sinpro Campinas e Região
      Cesar Sanson – Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
      Claudia Korol, educadora feminista, Argentina
      Cloves Barbosa – Professor da UNIFESSPA
      Dainis KAREPOVS, historiador
      Dr. Clifford Andrew Welch – Professor da História Contemporânea do Brasil, Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo / Brazil
      Erina Batista Gomes – Advogada Popular
      Fabiano Morales – Canoas RS
      Fabio Konder Comparato, professor emérito da Faculdade de Direito da USP.
      Fernanda Maria da Costa Vieira – professora adjunta UFJF
      Fernando Vieira. Oposição Sinpro-Rio
      Gérson Wasen Fraga – UFFS – Campus Erechim
      Günter Adolf Wolff – Pastor
      Heloísa Fernandes Silveira – Sociologa
      Henrique Parra – Departamento de Ciências Sociais/Unifesp
      Iris Kantor – Universidade de São Paulo-Brasil
      Issa Fernando Sarraf Mercadante – Medico
      Ivan Valente – Deputado Federal PSOL/SP
      Jacqueline Ramos Silva Carrijo, auditora fiscal do trabalho
      Jean Tible, professor, USP
      Jorge Luiz Souto Maior, professor da Faculdade de Direito da USP
      José Antonio dos Santos da Silva – Coordenador do Fórum Permanente de Educação e Diversidade Etnicorracial do RS.
      José arbex jr – professor de jornalismo – pucsp
      Kátia MARRO, docente da UFF
      Kenarik Boujikian, co-fundadora da Associação Juizes para a Democracia, juiza TJSP
      Laura Tavares – FLACSO Brasil
      Leda Maria Paulani – Professora titular FEA-USP
      Lisete Regina Gomes Arelaro – Professora da Faculdade de Educação /USP – Presidente da Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da Educação (FINEDUCA).
      Lúcio Gregori – engenheiro, ex-secretário municipal de transportes de São Paulo
      Luís Carlos Dalla Rosa – Professor – Porto Alegre/RS
      Luiz Henrique Ribeiro – Advogado, Procurador-Geral do Município de Coronel Fabriciano – MG
      Maíra Streit – Repórter
      Manhana de Castro – SIT – Superintendência de Infraestrutura e Transporte do Estado da Bahia
      Maria Beatriz Costa Carvalho Vannuchi – psicanalista
      Maria Laura de Abreu d'Avila
      Maria Marta Azzolini
      Maria Victoria de Mesquita Benevides, socióloga, professora titular da USP
      Mariana Cavalcante Moura – Advogada Popular
      Marluce Melo – Comissão Pastoral da Terra Nordeste 2 – CPT NE 2
      Miguel do Rosario – Editor do blog o cafezinho
      Nelia Reis – UFAL
      Otilia Beztriz Fiori Arantes – Professora USP
      Páulia Maria Cardoso Lima Reis
      Paulo Bufalo – Presidente Estadual PSOL São Paulo e Vereador – Campinas SP
      Paulo Eduardo Arantes – Professor USP
      Prof. Dr. Marcos Barbosa de Oliveira – Universidade de São Paulo
      Prof. Horacio Martins – Curitiba
      Rafael Litvin Villas Bôas, Professor da Universidade de Brasília
      Ramatis Jacino, historiador – São Paulo – SP
      Renato da Silva Queiroz, FFLCH-USP

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