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Brasil

O assassinato da USP é maior do que a USP

A universidade é insegura porque São Paulo é insegura. E a cidade é insegura porque o Brasil é inseguro

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O assassinato do estudante Felipe Ramos de Paiva, 24, na última quarta-feira no estacionamento da FEA-USP, está suscitando uma nova discussão sobre segurança pública. É pressuposto que, ainda mais do que nas ruas, dentro do ambiente universitário pudéssemos nos sentir seguros para ir e vir. Não é o que acontece e disso já se sabe há muito tempo. O crime desta semana não é o primeiro a acontecer na USP e nem será o último. Assaltos, estupros, roubos de automóveis... tudo isso já aconteceu na Cidade Universitária e ocupa as manchetes nos jornais há anos.

Agora o caso em que alguém é morto, obviamente, causa ainda mais repercussão e reações de todas as partes. É neste momento que ficamos indignados e que nosso sangue ferve, clamando por justiça. E que, com razão, passamos a exigir todo tipo de atitude das autoridades. Mas é neste momento também que precisamos nos esforçar a manter a cabeça fria e pensar exatamente no que devemos exigir delas e de que segurança pública precisamos. Digo isso porque esta discussão já está correndo o risco de ser mal encaminhada.

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Explico-me. Tal como aconteceu no massacre de Realengo, muitos cidadãos estão indignados com o fácil acesso que "qualquer um" tem acesso à Cidade Universitária. Aonde estão os seguranças que não barram na entrada os que não são estudantes, professores ou funcionários da USP? Como assim, qualquer pessoa pode entrar sem ser identificada? Vamos reforçar as fronteiras!

Não é por aí. Uma das maiores belezas de uma universidade pública - tal qual a USP e a Unicamp - é ser de fácil acesso a toda população. Que todos possam desfrutar do seu ambiente e de sua estrutura, como bibliotecas, museus etc. Transformar a Cidade Universitária em um condomínio como Alphaville pode ser uma solução - mas uma solução ruim. Ruim porque privaria a população do acesso de um centro de estudo e igualmente porque é uma pseudo-solução, nada além de um paliativo.

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O problema da falta de segurança na USP não se origina, exclusivamente, dentro da própria USP - mas na sociedade como um todo. A USP é insegura porque a São Paulo é insegura. São Paulo é insegura porque o Brasil é inseguro. Por fim, o Brasil é inseguro por uma série de razões, como o péssimo monitoramento que o governo faz de nossas fronteiras.

Quando nos deparamos com crimes como o de Realengo e o da USP nos sentimos tentados a olhar para as soluções imediatistas, logo aquelas que não costumam ser boas soluções. Esta é uma oportunidade para pensarmos na segurança pública de um modo mais amplo. O raciocínio é simples: se as ruas forem seguras, as escolas e universidades também o serão. Este deve ser o foco. Termos tranqüilidade para ir e vir, sem a necessidade de muralhas nos separando do "perigo lá fora". Sem precisarmos transformar a USP em uma Alphaville universitária. E, diga-se de passagem, em Alphaville também ocorrem assaltos, estupros e assassinatos...

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Sim, a USP deve continuar aberta à sociedade e suas portarias não devem ser fronteiras pelas quais só passa quem tiver passaporte. Não é aí que está a origem do problema. O que não quer dizer que não devamos exigir mais segurança na Cidade Universitária. Que tem muitas falhas que facilitam a ocorrência de crimes, destacando-se vigilância insuficiente de seguranças desarmados e a péssima iluminação noturna. Mas se não aproveitarmos eventos como o triste assassinato de Felipe Ramos de Paiva para olhar a questão de maneira mais ampla, podemos desistir que o problema da segurança pública seja solucionado algum dia.

Particularmente, sonho com o dia em que Alphavilles não sejam mais necessárias e que não precisemos nos isolar do resto do mundo para nos sentirmos seguros...

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Gabriel Mallet Meissner é editor do site Revista Entremundos.

http://entremundos.com.br/revista

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www.twitter.com/gabrielgauche

gabriel@entremundos.com.br

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