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O incrível charme do bom ladrão

De como um delinquente simpático e cheio da nota criou o modelo para o assalto aos cofres do Itaú, e outras histórias reais

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O fato de Adalberto Chady ser rico, bonito e inteligente era culpa da sociedade. Um dos fatos que comprovam essa inteligência: ele arquitetou o roubo, executado por uma quadrilha, nos cofres particulares da agência central do Banco da Amazônia (Basa) em Belém do Pará. Assalto espetacular, com direito a nome e sobrenome na escalada no Jornal Nacional no fim dos anos 1970, que deixou a polícia brasileira tonta por meses. Tão rumoroso e sensacional quanto este na agência do Banco Itaú, na Avenida Paulista, no qual evaporaram fortunas de ricos e famosos, cujos autores, ainda não descobertos, podem muito bem ter usado know-how adquirido naquele dos trópicos.

Adalberto era mesmo um Cary Grant tropical e mereceria estrelar um filme de Alfred Hitchcock. Advogado, de tradicional família paraense, de origem libanesa, antes de ficar famoso com os golpes na praça, o varão deu um golpe do baú. Casou com a herdeira do pau-rosa. Na Amazônia, seu sogro era dono da maior concentração da árvore que fornece a essência fixadora de perfume, como o Channel 5, o preferido de Marilyn Monroe.

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Adalberto tinha três irmãos: Salim, outro que deu um golpe do baú, casando com a herdeira da castanha, mas não deu nenhum golpe na praça – por ser honesto, é conhecido como “ovelha negra” da família; Alberto, que se dedicava ao contrabando de café, trocado nas Guianas por carrões americanos e uísque, num tempo em que Belém, sem ligação rodoviária, vivia apartada do país; e Armando, que armou uma indústria pesada, tráfico de cocaína, o que o levaria igualmente à escalada do JN.

O assalto à agência do Itaú dia 28 de agosto de 2011 também tem um crânio privilegiado por trás. Sem violência física alguma, na manha, trabalhando durante 10 horas, abriram 170 cofres e levaram o equivalente a 200 mil reais por hora. Haverá entre os 16 assaltantes do Itaú um Adalberto Chady. Como haverá, entre os policiais paulistanos, gente com a vocação para o trambique: levaram uma semana fazendo cera até começar a investigar o assalto. Nesse passo, os assaltantes já estarão em Honolulu.

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Eram tantos cofres, que alguns ricaços escaparam dessa esquisita divisão de renda. Um deles revelou a um amigo que em seu cofre estavam suas últimas economias, reles 600 mil reais, e que se mataria se os colegas metessem a mão no seu pé-de-meia.

A maldade desse gente é uma arte. Não estou falando dos ladrões. Estou falando dessa gente que acha que todo ladrão é 100% maligno. É uma generalização que, como qualquer outra, leva a equívocos. A mente larápia pode esconder boas figuras. O célebre Gino Amleto Meneghetti, por exemplo, era ladrão convicto. Escolado em suas leituras dos filósofos anarquista, dizia, como Proudhon, que “toda propriedade é um roubo”. Jamais praticou assalto a mão armada. Foi preso pela última vez aos 92 anos, em 1970, tentando entrar, em altas horas da madrugada, numa residência da Vila Madalena.

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Adalberto Chady era dessa estirpe. Boa praça, mão aberta. Apaixonado pelo Paysandu, o bicolor de gloriosas façanhas do futebol paraense, bancava suas equipes amadoras, de basquete e futebol, para onde me transferi, vindo do Remo, “subornado” por ele. Não suportava ver jogando no tradicional adversário o filho do goleiro Palmério, meu pai, que não deixou a bola estufar suas redes uma só vez no inesquecível, histórico 7 a 0 aplicado no Remo nos anos 1940. Todo mês eu ia no escritório de Adalberto, no centro de Belém, receber meu “salário”.

Adalberto acabou preso, no saguão do Hotel Othon Palace do Rio de Janeiro, cidade onde ele mantinha um apartamento. Levou uma surra absurda da polícia, cumpriu uma pena de prisão. E voltou para Belém, onde reencontrou os amigos e seguiu distribuindo charme e simpatia até que se manifestou em seu organismo uma leucemia fatal, provocada, segundo os amigos mais próximos, pelos maus tratos recebidos quando o prenderam.

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