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Brasil

O último voo do Flamengo

A Light atribuiu as explosões de bueiros no Rio de Janeiro à falta de manutenção, mas buscar explicações sensatas pruma situação completamente absurda não tem a menor graça. Tenho um palpite melhor: os bueiros explodem em protesto patriótico contra a FIFA

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Não o time, o bairro. Os bueiros estão (estavam, estarão?) explodindo por lá, entre outros pontos do Rio de Janeiro. As tampas voam, os orelhões pegam fogo e a Light não consegue explicar o que está acontecendo. Quer dizer, a Light atribuiu as explosões à falta de manutenção da rede subterrânea da cidade, mas esse negócio de buscar explicações sensatas para situações completamente absurdas não tem a menor graça – e, no fundo, também carece de sentido. É por isso que busquei o agualusano (ou seria moçambicano?) Mia Couto, atrás de uma explicação delirantemente plausível para o fato, e cheguei ao nome da Federação Internacional de Futebol, vulga FIFA.

O nome do livro é O último voo do Flamingo e ele fala sobre uma série de explosões de oficiais das Nações Unidas a serviço das forças de paz em Moçambique. Se eu entendi bem – e o mais importante nos livros do Mia Couto não é exatamente entender –, as explosões de capacetes azuis são uma resposta à interferência estrangeira no país. Pois bem, concluo eu, as explosões no Rio de Janeiro são igualmente manifestações patrióticas dos bueiros cariocas, que, ofendidos pelos desmandos da FIFA no Brasil, resolveram tomar uma atitude em nome da nação.

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Se nem os governos municipais, estaduais e federal estão dispostos a questionar os prejuízos causados pela interferência estrangeira em assuntos nacionais, que sejam as entranhas da Cidade Maravilhosa a se manifestar explosivamente contra projetos de mobilidade urbana que não vão melhorar o transporte público e estádios que, depois da Copa do Mundo, transformar-se-ão em grandes monumentos em memória ao erário perdido. Ah, se a Copa do Mundo de fato contribuísse para melhorar a qualidade dos nossos aeroportos e acabasse de vez com a lotação das salas de embarque.

Foi em nome de todas essas promessas de melhoria que o governo nos convenceu de que era um bom negócio sediar o maior evento esportivo do mundo. Mas aí vêm a FIFA e a CBF e aprovam que São Paulo sedie o campeonato numa maquete, impõem colaboradores às cidades-sede e proíbem que jornalistas da concorrência acompanhem o sorteio das eliminatórias para o torneio.

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Atrasados, vamos tocando tudo de forma atropelada, trocando os pés pelas mãos e as rodas pelos trilhos na indecisão sobre o melhor transporte que não vai nos levar a lugar nenhum. Se é pra ser assim, que pelo menos os patrióticos bueiros sigam alertando ao mundo sobre os problemas do Brasil, antes que seja tarde demais. Sigamos juntos até o voo da última tampa de bueiro do Flamengo, nobres amigos da nação. Se possível, sem machucar mais ninguém.

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