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Brasil

Os bandoleiros do ensino superior

Os revoltosos da USP foram chamados de tudo na última semana, menos de estudantes. O pior é que eles precisavam de uma bela lição, e não falo da ação policial que os tirou da reitoria

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Com essas palavras jogo a lei aos meus pés...
Friedrich Schiller

Amotinados, encapuzados, maconheiros, bandidos, vagabundos. Os jovens que tomaram a reitoria da Universidade de São Paulo (USP) foram chamados de tudo na última semana, menos de estudantes. O pior é que era exatamente de uma bela lição que o grupo de 70 alunos precisava, e não estou falando da ação policial que os botou para fora do prédio.

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Que bela sala de aula não daria a ocupada reitoria da USP. Pousado com carinho na cabeça dos estudantes, um livro de Rousseau teria efeito mais devastador que qualquer cassetete ou coquetel molotov. Não me entenda mal, mas a opção cada vez mais recorrente dos universitários brasileiros pela ação física na hora de reivindicar não deixa de ser um sintoma da situação de miséria do ensino superior no país. Se um universitário não consegue argumentar a ponto de convencer, que dirá um cidadão que não frequenta a academia.

A verdade é que nossa educação superior pública fez, há algum tempo, uma duvidosa opção pelo ativismo social em detrimento da excelência científica. Hoje, as universidades brasileiras – ou pelo menos essa parte mais visível e barulhenta das ciências sociais – oferecem uma educação partidarizada, que incute na cabeça mesmo dos alunos mais abastados que eles não fazem parte da estrutura do país, que estão à margem e que, por não terem todas suas vontades contempladas, têm o direito revolucionário de flanar acima da lei.

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Fragilizados por essa marginalização postiça – e completamente absurda, tendo em vista que fazem parte da elite intelectual do país –, alguns estudantes se encantam pelo canto da sereia do ativismo político mais vazio. Sem habilidade para pensar por conta própria ou qualquer estrutura intelectual – cujo desenvolvimento lhes negamos desde o ensino básico – eles se tornam massa de manobra de luxo e bem alimentada nas mãos de professores e sindicalistas ressentidos.

Acompanhei do início ao fim a invasão da reitoria da Universidade de Brasília (UnB) que levou à queda do reitor Timothy Mulholland e não tenho dúvida de apontar o professor agitador como a figura mais pérfida desse tipo de movimento. Na UnB, esse papel era protagonizado por um senhor evidentemente fraco e covarde, que soprava incentivos aos ouvidos dos revoltosos para, em seguida, contemplar de longe a ação estudantil. Era Schiller puro, ao vivo e a cores – e o melhor, diria a apresentadora de tevê, era de graça!

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Obviamente que cada invasão de reitoria tem suas peculiaridades, mas, perceba, a raiz é a mesma. Baseados em uma ideia curta da democracia, adotamos eleições diretas para escolher a condução das reitorias, num processo que partidariza o campus e leva à formação de grupos que não se falam e tentam sucessivamente derrubar uns aos outros. A democracia, aliás, é dos conceitos mais violentados por esses movimentos de reivindicação, que a utilizam como argumento até para ações anti-democráticas, como a paralisação das atividades de uma reitoria por 70 pessoas numa universidade de 50 mil.

Que isto não soe como lição de moral, mas esses jovens deveriam estar nos apresentando a novas soluções e não reproduzindo táticas e chavões de movimentos como os sem-teto ou sem-terra, cujos membros realmente dependem da truculência para apresentar seus pleitos e reivindicações. Ocupação? Greve? Que tal, por exemplo, se os estudantes insatisfeitos com a presença da PM na USP propusessem capacitar, eles mesmos, os seguranças da universidade, de modo a melhorar sua atuação e dispensar a polícia – ou a ideia é apenas trocar de grupo político na reitoria mesmo?

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É com base em tudo isso que digo que os estudantes universitários devem ser tratados como pessoas que precisam aprender, inclusive e principalmente nas situações de conflito. Chega de preguiça e incompetência dos educadores também. É hora de botar a molecada para pensar. Não defendo que os universitários devam aprender a respeitar a lei cegamente, mas a compreendê-la e questioná-la – para não apenas violar a legislação quando for necessário apontar seus defeitos, mas contribuir para melhorá-la. Do contrário, de fato não teremos mais motivo para chamá-los de estudantes.

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