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Os macacos do planeta

É curioso notar que no último quarto de século o ser humano operou um salto quântico de inteligência

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Não resta dúvida de que o ser humano é primo do macaco. Quem já foi à Água Mineral de Brasília teve o prazer de observar esses trombadinhas que roubam comida e bebida, saqueiam o lixo e fazem outras macaquices. O problema do macaco urbano é comum também em cidades cercadas por florestas como o Rio de Janeiro e outras metrópoles da Índia, África do Sul e Indonésia. Já vou avisando que em Planeta dos Macacos: A Origem (2011) um macaco fala.

É curioso notar que no último quarto de século o ser humano operou um salto quântico de inteligência. Celulares, smarth phones, notebooks, tablets, tudo isso surgiu há pouco tempo. A metáfora perfeita para tal salto é ainda hoje a cena clássica de Stanley Kubrick em que primatas contemplam embasbacados um monólito negro, sublime fruto do conhecimento.

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Claro: esse conhecimento não é exclusivo do ser humano. É de quem pegar. E basta procurar rapidamente no Google para constatar que pululam exemplos de macacos super inteligentes pelo planeta. Alguns conseguem articular emoções e pensamentos. Outros dominam os rudimentos da linguagem. Há os que resolvem problemas matemáticos e questões básicas de raciocínio lógico envolvendo noções de escala, volume e quantidade.

Acredito que esse momento mágico está organicamente relacionado ao conceito de propriedade privada. Para o semiólogo Roland Barthes, foi para "defender os bens" que se começou a refletir sobre a linguagem. Natural então que a primeira palavra de um macaco seja NÃO. Foi o artifício usado no novo filme da franquia, espécie de prelúdio ao mundo encontrado por Charlton Heston no primeiro O Planeta dos Macacos (1968). Um NÃO contra a exploração do seu único bem: o corpo.

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O NÃO de 2011 não foi tão grandiloqüente quanto o "tire suas patas fétidas de mim, seu macaco sujo" proferido por Heston quarenta e três anos atrás. Naquele filme a porrada era mais dura. É o que prova o trecho do vigésimo terceiro pergaminho, escrito há mil e duzentos anos pelo Legislador, o mais sábio dos macacos: "Cuidado com o homem, pois ele é o peão do Demônio. O único entre os primatas de Deus que mata por esporte, cobiça e avareza. Sim, ele matará o seu irmão, para possuir a sua terra. Não o deixe nascer em grande número, ou ele irá transformar a sua casa num deserto. Evite-o. Dirija-o de volta à sua toca na selva – pois o homem é o presságio da morte."

O novo Planeta dos Macacos é mais filme de aventura e menos alegoria, no que perde de goleada para o primeiro. O original foi inspirado em livro de Pierre Boule, escrito na tradição satírica de Jonathan Swift, que fazia sátira contra tudo que lhe parecesse perverso ou tirânico e escarnecia as vilezas da política e a vaidade e o orgulho dos abastados. No cinema, o formato deu certo. Um filme bacana de ficção científica algo politizado, o primeiro Planeta surgiu em 1968 e falava num plano simbólico sobre racismo, guerra do Vietnã e teoria da evolução. Já em De Volta ao Planeta dos Macacos (1970), telepatas reverenciam uma bomba atômica como um Deus poderoso e inconstante.

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Os macacos eram, portanto, reproduções alteradas dos seres humanos. Essas reproduções aparecem na literatura fantástica também na forma de um sósia, ou a própria sombra, ou a imagem refletida no espelho, ou um irmão gêmeo, ou alguém que tem o mesmo nome e outros desdobramentos de personalidade. Há também narrativas em que o personagem se vê transformado em algo estranho: um vampiro, um zumbi, ou inseto (como ocorre em A Metamorfose, de Kafka).

O primata como metáfora dos anos 60 parece ter dado lugar ao primata-primata mesmo. Neste novo filme da franquia, o especismo não funciona exatamente como uma alegoria do racismo ou da geopolítica norte americana. É de espécies que estamos falando, e é evidente que os macacos estão ficando mais inteligentes. Em breve vão aprender a falar. Depois a ler. Vão conhecer os argumentos expostos pelo filósofo Peter Singer no livro A Libertação Animal e debaterão sobre a produção de alimentos nos programas de auditório. Não dou um século pra criarem um partido.

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