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      Pacientes agonizam após suicídio de dono da Samcil

      Cercade 200 mil conveniados no conseguem marcar consultas; principal hospital do plano, oPanamericano, em So Paulo, fechou as portas

      Por Letícia Moreli

      Duas palavras resumem os serviços prestados neste momento pela Samcil, um dos planos de saúde mais antigos do País: descaso e negligência. Desde o último dia 4, quando o presidente do grupo, Luiz Roberto Silveira Pinto, de 74 anos, matou-se com um tiro no peito em São Paulo, os 198.721 clientes de um plano que já chegou a contabilizar mais de 700 mil agonizam junto com a operadora (leia mais sobre o suicídio).

      Há dificuldades para marcar exames e passar por consultas. Laboratórios e médicos credenciados pararam de atender o plano por falta de pagamento pelos serviços. A empresa enfrenta problemas financeiros e, desde o início do ano, está sob intervenção branca da ANS (Agência Nacional de Saúde). Entre janeiro e fevereiro, a operadora perdeu cerca de 45 mil segurados. Um dia após a morte do empresário, na unidade praça da República (região central de São Paulo), clientes que tentavam reclamar recebiam um número de telefone, que diziam não funcionar. O atendimento pessoal havia sido cortado.

      O Brasil 247 percorreu outras duas unidades da organização na terça-feira (12): os hospitais Panamericano, onde Silveira Pinto foi encontrado morto, e São Leopoldo. Quem chega no Pronto Socorro do Panamericano dá com a cara na porta, trancada desde a última sexta-feira. No local, um banner recomenda aos pacientes que se dirijam às unidades Vasco da Gama, no Belenzinho, ou ao Hospital e Maternidade São Leopoldo, em Santo Amaro. Segundo taxistas instalados num ponto em frente à unidade, as portas do prédio baixaram, na semana passada, sem mais explicações e não há, até o momento, qualquer previsão de que o hospital volte a funcionar. “Ontem [segunda-feira] vieram uns 100 [pacientes] tentando atendimento aqui, mas não tinha mais ninguém. Na sexta, eles já transferiram quem estava internado”, relatou o taxista Fábio Barreto.

      Na manhã de terça-feira (12), o centro médico estava vazio e os consultórios entregues às moscas. Não havia médicos e nenhuma alma de jaleco transitava pelos corredores. Funcionários do hospital empacotavam equipamentos para bater em retirada. Até o dono da lanchonete do hospital estava encaixotando suas coisas. Um recepcionista da unidade forneceu à repórter o telefone da assessoria de imprensa da Samcil e não quis fornecer mais detalhes da situação.

      Instalado no Alto de Pinheiros, área residencial da classe média alta paulistana, o Hospital Panamericano atende aos conveniados de um dos planos de saúde mais populares do Brasil. Agora, a alternativa para esta clientela é seguir para o hospital da rede “mais próximo”: o São Leopoldo, em Santo Amaro, zona sul da capital paulista. Para isso, tem de se valer de dois ônibus, gastando 1h30. Se optar por um táxi, a viagem é mais curta, mas o cidadão desembolsa, em média, R$ 40 pela viagem.

      No São Leopoldo, a realidade é ainda mais dolorida para quem tem pressa. Na sala de espera das internações, um banner gigante comunica que desde 6 de abril, “por motivos de ordem técnica”, estão suspensos por prazo indeterminado o atendimento de nada menos do que 22 planos de saúde.

      Após 20 minutos de espera, a repórter é atendida por Maurício Bianchi, gerente da unidade, que se apressa em dizer “não sei nada a respeito do Panamericano”, antes que fosse informado o motivo da visita. Questionado sobre o fluxo de pacientes, o gerente afirma que tudo caminha normalmente, que nada mudou desde o fechamento da unidade de Alto de Pinheiros e se nega veementemente a responder demais questões. Solicitamos um contato da diretoria do hospital, mas o funcionário afirma que ninguém está disponível.

      No Pronto Socorro, uma fila de 50 pacientes espera para ser atendida por dois médicos, clínicos gerais. Uma recepcionista informa que o tempo de espera é de duas horas. A auxiliar administrativa Vanessa Guedes Pinheiro, de 28 anos, deixa o hospital de cadeira de rodas reclamando para a irmã que não atendem mais o seu convênio. “Estou com um problema nos rins, faz duas semanas, sinto muita dor, mas aqui é esse descaso no atendimento. Me mandaram procurar o hospital da Intermédica, na [Avenida] João Dias”, conta.

      O jovem Anderson Ricardo aguarda do lado de fora o atendimento da irmã Adriane, de 31, que sofre de Erisipela – processo infeccioso cutâneo causado por uma bactéria que se propaga pelos vasos linfáticos. Ela está em busca de atendimento desde segunda-feira (11). “Ontem (11), fomos ao Panamericano e mandaram a gente vir aqui. Mas aqui não tem ortopedista. No plano dela [Samcil], falava que este hospital também atendia a especialidade, mas chegando aqui disseram que era só com agendamento e demora de dois a três meses para surgir uma vaga”, disse.

      Zilda Aparecida Giraldo, de 47, diz que sempre ouviu falar mal da unidade São Leopoldo. “Aqui eu não volto mais”. Acompanhando a mãe, Fidelma Giraldo, de 70, que tem dificuldade em se locomover por problemas no nervo ciático, ela reclama que está há duas horas e meia na sala de espera sem atendimento. “Só vejo gente saindo de lá de dentro xingando. Nem medicação mais estão aplicando”, conta. Zilda e a mãe são clientes da Samcil há cerca de um ano e já colecionam uma série de problemas com a operadora. “Uma vez, minha mãe precisou passar por um cateterismo e o hospital [Panamericano] estava com o cateter quebrado. Foi uma novela. Primeiro, tentamos marcar o exame, ligávamos no hospital e ninguém atendia. Depois o pessoal do convênio falou que não aceitava o relatório do médico que indicou o exame. Mas o médico era credenciado deles!”, indigna-se.

      Esta foi a terceira tentativa de Zilda e Fidelma, residentes em São Bernardo do Campo, na Região do ABC. Antes de recorrer a Santo Amaro, as duas tentaram o Hospital e Maternidade Mauá, fechado desde o dia 6, e o Hospital São Lucas, de Diadema, o qual informou à cliente “não estar atendendo no momento”. “Mas, nos panfletos da Samcil, diz que eles estão atendendo nessas unidades, só que você chega lá e está tudo fechado. Vou cancelar esse plano, Samcil eu não quero mais”.

      O Brasil 247 também visitou um posto de vendas de convênios, localizado na rua Adolfo Pinheiro, atrás do Hospital São Leopoldo. Uma vendedora informou de que o grupo Samcil está em estado de falência, mas que o convênio ainda é vendido, embora dezenas de pessoas tenham retornado para fazer queixas e trocar de plano na última semana.

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