“Populismo retrô”, diz Lenio Streck sobre tramoia Bolsonaro-Kajuru; Tardelli vê “conversa combinada”
“Fosse em outro país, o parlamentar não teria o afago do presidente da República. Só ocorre no Brasil, que hoje é motivo de chacota no resto do mundo”, afirmou ao 247 o jurista Lenio Streck em referência à conversa entre Jorge Kajuru e Jair Bolsonaro. Para o criminalista Roberto Tardelli, “o que parece é tratar-se de uma gravação combinada, um diálogo roteirizado”
Por Paulo Henrique Arantes, para o 247 - “Trata-se de tentativa de pressionar o Supremo Tribunal Federal. Populismo retrô”. A afirmação foi feita pelo jurista Lenio Streck ao Brasil 247 e refere-se ao diálogo entre o presidente Jair Bolsonaro e o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO), gravado e disseminado ontem (11) em redes sociais pelo parlamentar. Na conversa, o presidente tenta conduzir a atuação do senador que, em postura servil, mostra-se disposto a mudar os rumos da CPI da Pandemia, prestes a ser instalada, ampliando-a para alcançar governadores e prefeitos. Bolsonaro também encoraja Kajuru a propor impeachment de ministros do Supremo.
“Senadores não concordam com decisões de ministros do STF? Solução: impeachment. Esses pedidos, insistentes e corriqueiros, são abusivos. Fosse em outro país, o parlamentar não teria o afago do presidente da República. Só ocorre no Brasil, que hoje é motivo de chacota no resto do mundo”, diz Streck. “A cada dia o Brasil se supera”, ironiza.
Para o jurista, a conversa mostra um senador “em busca de 15 minutos de fama, alcançada, é claro, nos nichos reacionários, negacionistas e que professam a religião da antipolítica”.
“Isso é péssimo para a democracia”, sentencia Lenio Streck.
“Diálogo roteirizado”
O criminalista e ex-procurador de Justiça Roberto Tardelli desconfia que a nada republicana conversa Bolsonaro-Kajuru é uma armação, cuja finalidade seria tensionar ainda mais o ambiente político. Algo que, note-se, estaria bem afeito à personalidade do presidente.
“O que parece é tratar-se de uma gravação combinada, um diálogo roteirizado. A ampliação do escopo da CPI não tem muito sentido. O que eles acabaram gravando é uma conversa que, no final das contas, não vai poder ser concretizada. Vai ficar só na ameaça e na confusão”, avalia Tardelli.
Segundo o advogado, “CPIs têm objetos delimitados. Não se pode ampliá-los arbitrariamente, algo do tipo ‘vamos investigar todo mundo', até porque o resultado seria uma investigação infinita”.
“É Claro que eles vão coletar assinaturas para ampliar o escopo da CPI, mas para investigar governadores e prefeitos, por exemplo, é preciso ter um fato. Qual é o fato a ser investigado, efetivamente? A CPI não é um buraco negro do universo, em que cai tudo lá dentro - é preciso ter um objeto delimitado, e é isso que eles não têm”, nota Roberto Tardelli.
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