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Brasil

Sargento Alves

O Brasil acaba de aderir ao sonho da direita americana: a satanização do islamismo

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Apesar das desditas estilizadas que vão se seguir, o Brasil entrou essa semana na realpolitik tão almejada pela direita americana: a satanização do islamismo. Anote aí: nosso próximo capitão Nascimento vai se chamar sargento Alves. Será nosso atávico combatedor das forças tonitruantes do “islamismo terrorista”. A senha foi dada já nesta quinta-feira de tragédia pelo coronel carioca Djalma Beltrame. "Ele era um alucinado mental com características de fundamentalista religioso”. É com ele que vai começar o grande sururu ideológico. Agora, pense você: já viu se esse “assassino islâmico” tem entre as suas coisas uma capa da última edição da revista Veja, a apontar que o pessoal de Bin Laden andaria por São Paulo e Rio de Janeiro coçando o coldre para trilar o apito final do apocalipse?

Por uma mera coincidência, este repórter estava nos Estados Unidos no dia 19 de abril de 1995, véspera do aniversário de Adolf Hitler. Foi quando o soldado das Forças Especiais dos EUA Tim McVeigh explodiu o Oklahoma Building. Antes que se soubesse que era um americano nato o autor do atentado terrorista, rádios dos EUA moíam nos auto-falantes comentários atestando que, pouco antes da explosão do prédio, “homens de compleição islâmica haviam sido vistos se retirando do prédio”.

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Qual não foi a decepção do povo americano quando, tecnicamente de joelhos, Tim McVeigh deu sua última entrevista antes da sua execução ao gênio Gore Vidal – em que alegava ter feito tudo por patriotismo. O assunto foi enterrado pelos analistas. O sentimento de patriotada infelizmente quase nunca é confirmado pela realidade consabida.

A que se colocar alguns pontos. Fala-se muito em fundamentalismo islâmico. Os criadores do fundamentalismo são os norte-americanos, que no século XIX deram lastro global ao termo como leitura literal dos textos sagrados. Agora vamos pensar na figurinha carimbada que está no foco do batibute geopolítico atual: o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Ele é dono de uma submissão abjeta do fundamentalismo criado pelos norte-americanos. E também segue, à sua moda, uma outra invencionice tipicamente gringa: o milenarismo. Todo milenarista, tecnicamente, divide o mundo entre o bem e o mal. Trata-se de uma outra gabolice criada por um outro americano, John Miller, daí o termo milenarismo. Para Miller, famoso por ter previsto, a partir dos EUA, o fim do mundo para pelo menos 50 datas diferentes, as forças do bem voltariam à Terra pelas mãos de Jesus ou do diabo que o valha e limariam do planeta os exércitos do mal. Ser milenarista, portanto, é prever uma batalha final com as forças do bem destruindo os malefícios e quetais.

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Ahmadinejad acredita, e diz isso publicamente, que a tal batalha armagedônica ocorrerá entre as forças do islamismo xiita e as do capitalismo judaico-cristão. E ela se dará, com armas nucleares, nas cercanias de Jerusalém, mais precisamente no monte Mejido – de onde, tecnicamente, surgiu o radical do termo Armageddon. Veja você, o maior distorcedor do islamismo, o xiita Mahmoud, era a pessoa tão concelebrada por Lula, Celso Amorim e seus apaniguados. Mas não culpe Mahmoud. Ele aprendeu tudo isso lendo as vulgatas do Partido Republicano dos EUA, que ele tanto aprendeu a combater. Como notou Nietzsche, corremos o risco de, ao nos aproximarmos muito do monstro que queremos combater, ficarmos iguais a ele.

O verdadeiro islamismo nada tem a ver com isso: eis porque é a religião que mais cresce no mundo, hoje com 1,4 bilhão de adeptos. O ensaísta mexicano Octavio Paz ensinou que a primeira forma de corrupção se dá na linguagem. O governo dos EUA, seja sob Obama ou Bush, é tecnicamente igual ao de Mahmoud: transforma a beleza do islamismo num evangelho de responsabilidade e violência.

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Lembro que o finado e refinado Sergio de Souza, fundador da Caros Amigos, acionou-me há 10 anos. Queria colocar na capa da revista um sheik islâmico. Encontrei no Centro de Tradição Islâmica de Santo André, no ABCD paulista, o sheik Jihad. Este repórter estava acostumado a ler nos apostos da Folha de S.Paulo, do Estadão e de Veja que Jihad significava “guerra santa contra os infiéis”. A pergunta imediata ao sheik, portanto, foi: “O nome do senhor significa guerra santa aos infiéis?”. Para minha vergonha, ele respondeu que o real significado de Jihad era “esforço”. É dessa forma que a ideologia cumpre o seu papel reduzindo o número de significados dos significantes ou destruindo-lhe por completo o seu significado real.

Há uma luta mundial para dizer que todo islâmico é igual ao psicopata que atira em crianças no Rio de Janeiro ou ao psicopata que preside o Irã. Mahmoud Ahmadinejad, por exemplo, lê com base no seu fundamentalismo, que é uma mensagem, para ser lida ao pé da letra, a frase que o arcanjo Gabriel disse no ano 610 para o profeta Maomé numa gruta do monte Hira. A saber: “Só há um deus, que é Alá, e Maomé é o seu profeta”. Ao ler essa frase ao pé da letra, Mahmoud põe como inimigos imediatos, portanto, os católicos, porque admitem a Santíssima Trindade, e o que invalida a ideia de que há só um deus. Outra cosita: o arcanjo Gabriel também teria dito ao profeta Maomé que seu jihad, sua missão, era criar no mundo o que chama de “uma”, comunidade supranacional em que todos são iguais, independentemente de sexo, religião ou etnia. Se, ainda de acordo com o profeta, todos são iguais, deve-se combater, refere Mahmoud, os que se julgam diferentes, ou por outra: os judeus, que se dizem o “povo escolhido de Deus”.

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Tanto os norte-americanos em geral como os xiitas omitem do islamismo elementos pregados pelo profeta Maomé, como por exemplo a “dhimma”, um dispositivo pelo qual o islamismo prevê a tolerância de tudo e de todos. Mas não interessa para a real politik geopolítica atual a verdade sobre o islamismo. As minorias a reconhecem, sobretudo nos EUA, onde uma parcela expressiva dos 2 milhões de encarcerados em cadeias do Estado se convertem em massa ao islamismo.

Enquanto isso, temos de aprender a conviver com a ideologia mais barata, que é a de trocar os significados, como vem se fazendo contra os Islã. O filósofo Ernest Bloch (1885-1977) já alertava nos anos 50 para o que chamava de “contemporaneidade do não-coetâneo” (Gleichzeitigkeit der Ungleichzeitigkeit). Ou seja: estamos no século XXI e temos de conviver lado a lado com contemporâneos que dispõem de celular de última geração, de iPad 2 – mas acreditam que é uma lorota o fato de o home ter ido à lua. O psicopata que atirou no Rio de Janeiro certamente teve acesso às armas obedecendo às revistas que defenderam o “liberou geral” dos trabucos – e que nesta semana postulam uma caçada pública à presença de improváveis terroristas da Al Qaeda no Brasil profundo.

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O Brasil chegou tarde, mas chegou, à campanha que escrita e escarradamente tenta reduzir o islamismo a uma valhacouta de terroristas, dispostos a explodir a vida, o mundo, o diabo, em prol da ideia de encontrarem 80 mil virgens no paraíso que lhes umedeceram as melenas com o mais puro leite de cabra.

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