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Brasil

SBT escancara os porões da ditadura militar

Novela Amor & Revoluo tem depoimentos de torturados; militares fazem abaixo-assinadopara tir-la do ar; acusam Silvio Santos, antigo aliado, deretribuir ao governooresgate doPanamericano

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247_Marco Damiani – O empresário Silvio Santos, mais uma vez, está gerando polêmica. Agora, não pela intenção de ser presidente da República ou a quebra de um banco, mas em razão da veiculação, na rede de tevê SBT da novela Amor e Revolução, escrita por Tiago Santiago. Vai ao ar às 21h15, de segunda a sábado. A trama se passa entre 1964 e 1972 e tem foco nos casos de tortura praticados contra militantes de organizações de esquerda por integrantes do regime militar. Caracterizados com uniformes do exército, dentro e fora de quartéis, ou no papel de agentes policiais, diferentes personagens da novela praticam prisões sem ordem judicial, espancam e seviciam seus presos. As cenas procuram ser absolutamente realistas, com torturas no “pau de arara”, choques elétricos e longos interrogatórios. O brasão do exército é usado no logotipo do título da novela. Depoimentos verdadeiros de homens e mulheres que sofreram sessões de tortura encerram cada capítulo. Está entre eles o ex-deputado José Dirceu, um dos principais dirigentes do PT.

“Tomei choques de 220 volts com os pés descalços no chão molhado”, narrou, no encerramento do episódio da quinta-feira 14, o ex-integrante do grupo Aliança Libertadora Nacional (ALN) Francisco de Oliveira Prado. Ele foi um dos principais auxiliares do líder guerrilheiro Carlos Marighela, morto em 1969. “Sofri, mas nós também aprontamos para eles”, lembrou Chicão, como é conhecido, referindo-se a ações armadas praticadas contra o exército. Os responsáveis pela novela procuraram o comitê da anistia, em São Paulo, para encontrar ex-integrantes de todos os grupamentos de esquerda daquele tempo para darem seus depoimentos. Silvio Santos tem telefonado para vários deles, após a exibição de cada capítulo, para agradecer a participação.

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Incomodados, grupos de ex-militares organizaram na internet um abaixo-assinado endereç ado ao ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, para tirar a novela do ar. A coordenação é da Associação Beneficente dos Militares Inativos e Graduados da Aeronáutica (ABMIGAer). “Todos os participantes dessa época estão mortos”, diz o secretário da entidade, José Luiz Dalla Vecchia. “Não é justo que esse assunto venha à tona e prejudique os militares que estão na ativa”. O texto já recolheu mais de 500 assinaturas. Em réplica, o grupo Documento Ditadura abriu lista de adesões em defesa da veiculação da novela, também encaminhada ao Ministério das Comunicações. “A tentativa de tirar minha novela do ar é um protesto desesperado de gente que tem o rabo preso”, reagiu o autor Tiago Santiago. “Será que vivemos na ditadura até hoje?”

“Pela primeira, em horário nobre, uma emissora de tevê conta a história dos porões da ditadura e da luta pela democracia e liberdade no Brasil do século 20”, disse ao Brasil 247 o ex-deputado José Dirceu, cujo depoimento ainda irá ao ar. O SBT vai colocar na internet as 168 declarações colhidas para a novela. “Essa é a história de uma juventude que não teve medo de lutar pela liberdade, mesmo ao preço da própria vida”, completou Dirceu. “A novela é uma audácia”.

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Amor e Revolução reacende o debate sobre a tortura política e a anistia no Brasil. No final do ano passado, documentos em poder do Superior Tribunal de Justiça foram divulgados com detalhes sobre a prisão, em maio de 1970, da atual presidente Dilma Rousseff. No processo, ela afirma ter sido torturada por 22 dias seguidos. Na semana passada, a presidente defendeu o fim do segredo em torno de documentos oficiais. Os militares da reserva que pedem a suspensão da veiculação da novela do SBT afirmam que o empresário Silvio Santos está procurando agradar ao governo, em troca de ter saído sem dívidas da crise do banco Panamericano, cujo rombo superior a R$ 2 bilhões provocou a venda forçada do seu controle para o grupo BTG Pactual. O que mais tem provocado polêmica, no entanto, são os depoimentos reais de torturados, ao final de cada episódio. Ao Brasil 247, o ex-militante da ALN Francisco de Oliveira Prado disse que sua fala foi cortada pelo SBT na parte em que dizia ter sido transportado, no final dos anos 60, das instalações do Doi-Codi, em São Paulo, para salas da Operação Bandeirantes em um carro pertencente ao jornal Folha de S. Paulo. Ele afirma ter sido torturado nos dois endereços. “A Folha apoiava a repressão com a sua estrutura”, disse Chicão. “É por isso que, ainda hoje, o jornal considera que o Brasil teve uma ‘ditabranda’ e não a ditadura que nos perseguiu”. Em sua edição de 90 anos, o jornal fez auto-crítica de seu envolvimento no apoio ao regime.

A novela do SBT veiculada num momento de revisão histórica, em dois países da América do Sul, sobre suas ditaduras. Na Argentina, o ex-presidente Reynaldo Bignone foi condenado à prisão perpétua, na quarta-feira 14, pela prática de torturas e mortes durante seu governo (1982-1983). No Uruguai, na semana passada, o Congresso derrubou a lei de anistia, abrindo caminho para o julgamento de acusados pela violenta repressão política que assolou o país nos anos 70. No Brasil, enquanto isso, o governo procura instalara Comissão da Verdade, para reabrir a apuração de casos de torturas e desaparecimentos.

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O elenco da novela é formado por atores consagradas, como Cláudio Cavalcante e Lúcia Veríssimo. À volta das cenas de torturas, corre a história de amor entre o militar José Guerra e a guerrilheira Maria Paixão. O personagem masculino abandona o exército para viver com a militante de esquerda. Não há nomes reais de participantes da repressão, mas o delegado Aranha, chefe de torturadores da polícia civil, é visto por muitos como a representação do delegado Sérgio Paranhos Fleury (1933-1979), do antigo Dops. Ele é considerado o maior agente da repressão política brasileira.

Assista no link o clip oficial da novela Amor&Revolução:

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http://www.youtube.com/watch?v=zuvzr-jMiTs (ABMIGAer).

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