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Brasil

Uma tara histórica

Quando as ruas explodiram em manifestações e a realidade apontou para o fim do sonho, surgem correntes de retorno ao passado. Muitos desejam a volta do presidente emergido do povo. Mas isso é retrocesso

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Se há um elemento permanente na alma luso-brasileiro, este certamente é o sebastianismo. Vem de longe. De momentos de grande depressão na história de ambos os povos.

Brasileiros e portugueses, graças às ligações profundas de suas trajetórias, apresentam traços comuns de pensamento.

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Eventualmente, os nativos desta parte do Atlântico mostram-se mais contemporâneos.

Isto, porém, não libera os brasileiros de sofrerem dos mesmos sintomas de euforia e depressão que caracterizam a trajetória de ambos os povos. Há momentos de imensa euforia e estes são seguidos de ciclos de baixa auto-estima.

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Tudo começou com o desaparecimento de D. Sebastião nas areias do Marrocos. O jovem rei, impulsionado pelos jesuítas, desejou ser o líder de uma nova cruzada contra o islã. Deu-se mal.

Com um exército mal equipado e cansado, lançou-se contra o Mulei Almélique. Levou a pior. Derrotado, desapareceu. Nunca mais voltou a Portugal e sequer seu corpo foi encontrado.

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Corriam os anos finais dos anos quinhentos, época das grandes navegações portuguesas. O sucesso e a euforia transformaram-se em desespero e depressão.

Por todo Portugal, surgiram lendas a respeito do retorno do "Encoberto", assim denominado o infeliz monarca. Ele voltaria e o Quinto Império seria erguido pelos portugueses.

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Trovas populares foram compostas, sendo as mais famosas as elaboradas pelo sapateiro de Troncoso, o velho Bandarra. Homem humilde, mas informado pelos textos bíblicos e por rabinos.

Em Troncoso uniram-se dois segmentos expressivos da cultura lusitana. As tradições cristãs – onde o Messias deverá salvar a seus filhos – e o messianismo judaico, extremamente presente em momento de depressão para a comunidade hebraica da Península.

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Os tempos passaram. D. Sebastião nunca retornou e o Quinto Império foi uma quimera. As tradições, contudo, se transplantaram para o Brasil e, aqui, tornaram-se vivas. Até demais.

Antonio Conselheiro, o sertanejo destemido, apoiou-se nas tradições do sebastianismo para conceber seu arraial perdido nos sertões do Nordeste. Suas falas e seus escritos registram um profundo messianismo.

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Mais tarde, Ariano Suassuna compôs seu belo "A pedra do reino", registro da permanência do mito no diuturno dos brasileiros. Sempre a esperar o milagre e a vinda do Salvador.

Agora, quando as ruas explodiram em manifestações e a realidade apontou para o fim do sonho, surgem correntes de retorno ao passado. Muitos desejam a volta do presidente emergido do povo.

Ele, como D. Sebastião que nunca mais voltou, é esperado para reconstruir o império com que sonhou e foi acompanhado por milhões de eleitores. É puro sebastianismo.

O passado se foi. Serve como lição. Não aceita repetição, sob pena de se constituir em mera farsa. A História já demonstrou que todas as voltas são dramáticas.

Terminaram em suicídio ou em derrocada moral. Chega de preservar os traços psicológicos avoengos. É tempo de se conceber novas formas de pensar o futuro.

Chega de improvisações. Não há volta ao passado. É retrocesso. Os partidos políticos têm a necessidade de elaborar novos projetos e – particularmente – apresentar figurantes dignos e capazes. Sem demagogia.

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