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Brasil

"Voltamos à África pra valer”, diz Lula no encerramento do Fórum Econômico em Angola

O recado foi dado no discurso perante mais de 500 empresários reunidos em Angola

Lula no Fórum Ecoômico Brasil-Angola (Foto: Governo Federal )
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247 - O presidente Lula anunciou nesta sexta-feira (25) que o Brasil voltará a investir na África. Ele foi aplaudido com entusiasmo ao se dirigir ao Fórum Econômico organizado pela ApexBrasil em Luanda, capital angolana. Leia abaixo a íntegra do seu discurso.

Excelentíssimo presidente da República de Angola, presidente João Lourenço; excelentíssimo senhor Joel Leonardo, juiz conselheiro, presidente do Tribunal Supremo; 

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Excelentíssima senhora Dalva Maurícia Calombo Ringote Allen, ministra de Estado para a Área Social; 

Francisco Pereira Furtado, ministro de Estado e chefe da Casa Militar do Presidente da República; 

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Téte António, ministro das Relações Exteriores; João Ernesto dos Santos, ministro da Defesa Nacional

Eugénio César Laborinho, ministro do Interior; 

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Mário Augusto Caetano João, ministro da Economia e Planejamento; 

Marcy Cláudio Lopes, ministro da Justiça e dos Direitos Humanos;

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Sílvia Paula Valentim, ministra da Saúde; 

Manuel Homem, governador de Luanda; 

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embaixador Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores do Brasil; 

Fernando Haddad, ministro da Fazenda do Brasil; 

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Nísia Trindade, ministra da Saúde do Brasil; 

Silvio Almeida, ministro dos Direitos Humanos e Cidadania do Brasil; 

Irajá Lacerda, secretário-executivo do ministro da Agricultura e Abastecimento; 

Jorge Viana, presidente da ApexBrasil [Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos]; 

Décio Lima, diretor-presidente do Sebrae [Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas].

Meus amigos, minhas amigas, empresários, empresárias, brasileiros e angolanos.

Vocês sabem que um presidente da República sempre traz um discursinho escrito para não cometer nenhuma gafe, mas, antes de eu ler meu discursinho por escrito, eu queria dizer algumas palavras para vocês.

A volta do Brasil ao continente africano não deveria ser uma volta, porque nós nunca deveríamos ter saído do continente africano. O Brasil não tem noção de quantas coisas nós poderemos fazer junto com os países do continente africano. Muitas vezes, por ignorância, pessoas brasileiras acha que fazer negócio com país rico é muito melhor e não se dão conta que os países ricos, muitas vezes, não querem fazer negócio conosco, porque eles querem exportar para nós produtos de alto valor agregado e querem comprar de nós apenas commodities: soja, minério de ferro, milho e carne.

É importante que a gente descubra que investimento é quase que uma garimpagem. Nós temos de investigar, garimpar, pesquisar. Quantos anos eu passei tentando convencer empresários brasileiros a fazerem parceria com países africanos para que a gente pudesse produzir, aqui no continente africano, o etanol que nós produzimos no Brasil. Para que a gente pudesse adentrar a um mercado europeu com as facilidades que o continente africano tinha. Mas, muitas vezes, as pessoas não têm discernimento de fazer as coisas, achando que vai aparecer oportunidade melhor.

E agora, nós voltamos à África para dizer aos empresários brasileiros e aos angolanos que nós voltamos pra valer. Vamos voltar a fazer financiamento para os países africanos. Vamos voltar a fazer investimento para Angola, que é um bom pagador das coisas que o Brasil investiu aqui. Angola sempre foi um país que nos deu certeza que cada dólar investido aqui seria ressarcido e assim o fez.

Porque esse país aqui não é resultado de um traçado de régua, esse país é resultado de uma luta quase que, muito sangrenta. Não só para conquistar a independência, mas, depois, para construir o país.

Eu não sei por que, presidente João Lourenço, eu tenho um carinho especial pela África. Porque eu acho que a África oferece ao Brasil as oportunidades que o Brasil, às vezes, fica procurando em outros lugares.

E o Brasil pode ajudar a África a fazer muita coisa. Um país que tem uma empresa como a Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária], que poderia transferir parte da sua tecnologia na produção e na criação de pequenos animais, do pescado, para fazer com que a África se transformasse no continente altamente produtor de alimento. Nós chegamos a colocar uma sede da Embrapa em Gana, que foi tirada poucos anos depois. E quando nós levamos a Embrapa para Gana, era porque a gente tinha certeza que a savana africana iria produzir igual – ou mais – do que o Cerrado brasileiro.

Entretanto, depois que eu deixei o governo, houve um golpe no Brasil, que muita gente acha que não foi um golpe, mas o fato da presidenta Dilma [Dilma Rousseff] ter sido absolvida, essa semana, pelo Tribunal Federal de Brasília, demonstra que o Brasil deve desculpas à presidenta Dilma, porque ela foi cassada de forma leviana.

Mas aí teve ministros que diziam que não ia ter transferência de tecnologia pra África. Quem quisesse transferir essa tecnologia tivesse que pagar. Assim, a gente não faz política internacional. Assim, a gente não consegue traçar a relação que nós precisamos traçar para que o país possa crescer.

Eu vou contar um pequeno caso pra vocês: eu tomei posse em 2003 e nós tínhamos que construir um gasoduto, chamado GASENE. Na época, tinha uma oferta de um banco japonês para construir o GASENE. E nós queríamos nos aproximar da China. E, pela primeira vez – Haddad, você era ministro da Educação, não participou dessa reunião – a gente fez uma reunião com cinco ministros, dois ministros queriam o Japão, dois ministros queriam a China e eu votei o voto de minerva para desempatar, para dar para a China fazer o GASENE. E, hoje, a China é o maior parceiro comercial do Brasil.

Porque nós fizemos uma tentativa, nós fizemos uma jogada, nós apostamos numa coisa. E é por isso que a gente está aqui, de volta no continente africano, e é por isso que eu pedi para o companheiro Jorge Viana, pro Mauro Vieira, que em cada país da África que a gente for, a gente tem que fazer uma reunião como essa. Porque nós, presidentes, nós, os políticos, não sabemos discutir investimento. O que nós sabemos é abrir as portas. Elas estão abertas, vocês conversaram hoje durante o dia inteiro, conversaram no almoço, conversaram na janta, conversaram no café. Não sei onde foram à noite ontem, não sei onde vão hoje, mas o dado concreto é que vocês passaram a se conhecer. E o fato de vocês passarem a se conhecer, cada um saber das coisas que o outro pode oferecer, isso pode render alguma coisa produtiva que vocês não contavam antes de se conhecer. É assim que funciona as coisas. 

E, mais ainda agora, que nós estamos chique aqui. É importante vocês irem aprendendo. Nós, o Brasil e a África, há 20 anos atrás éramos chamados de país de Terceiro Mundo. Depois de muito tempo, nós passamos a ser chamados de país em vias de desenvolvimento. 

Depois da reunião que nós fizemos em Joanesburgo, criando os BRICS. Criando não, fortalecendo os BRICS e trazendo mais seis países para participar do BRICS. Nós trouxemos a Arábia Saudita, os Emirados Árabes, o Egito, o Irã, a Argentina, e tem mais um, a Etiópia. Ou seja, o PIB de paridade de compra entre os países que compõem o BRICS e o G7, os BRICS já é muito maior. E nós, agora, não somos mais chamados de terceirizado, somos chamados de Sul Global. Sul Global. Porque é uma decisão que nós tivemos que aprender.

Sabe aquela coisa que na casa da gente acontece todo dia, ou seja, você não convida mais pobre para ir na sua casa, você convida o rico, achando que ele vai te dar alguma coisa. Então, na América do Sul e na África ficava todo mundo olhando pra quem? Pra Europa. Todo mundo ficava olhando para os Estados Unidos.

Eu não sei se o João Lourenço lembra: faz quantos anos que não tem investimento americano aqui no continente africano? Faz quantos anos que não tem investimento americano no Brasil? Há muitos anos.  Muitos anos. Nós cansamos de fazer licitação no Brasil e não aparece uma empresa americana, mas aparece chinesa. Aqui, no continente africano, em vários países, vocês sabem que nas licitações para fazer obra pública também não aparece, muitas vezes, nem europeu e nem americano. Aparece a China. 

E é por isso que nós temos que aprender uma lição histórica com a China. A China se transformou no que é porque ela conseguiu tirar proveito da ganância do mundo capitalista que, a partir dos anos 60, resolveu que era preciso crescer investindo, sabe, na China, porque o salário era muito baixo. Era considerado trabalho escravo. E os chineses se aproveitaram desse investimento e se transformaram no país que é hoje que, logo, logo, será a primeira economia do mundo e que o mundo não estava habituado com isso.

Então a China começa a investir na África, a China começa a investir na América Latina, na América do Sul. A Índia começa a fazer investimentos em país africano. A Turquia começa a fazer investimento no continente africano e o Brasil se afastou.

O Brasil que é o país mais próximo, o país que só tem o Oceano Atlântico, que não atrapalha o caminho. O Brasil se afastou. Por falta de visão de longo prazo. Ou por falta do imediatismo de achar que o investimento tem que trazer um retorno no dia seguinte. Não é assim que as coisas acontecem. Eu vou só dar um número pra vocês, que é para poder voltar pro meu discurso aqui.

Em 1995, o G7 tinha 45% do PIB de paridade de compra no mundo. Os países que compõem os BRICS, sem os novos que entraram, representavam apenas 16.9%. Ou seja, era 45%, Haddad, contra 17%. Em 2010, o G7 já tinha caído para 34,3% do PIB de paridade. Os BRICS tinham chegado a 26.6%. Em 2023, o G7 representa 29.9% do PIB de paridade. Os BRICS representa 32.1%. E agora, e agora, com a entrada desses países que eu falei, nós passamos para quase 37% do PIB de paridade. Demonstra o quê? Demonstra, pura e simplesmente, que os países do Sul resolveram se organizar.

Eu não sei se vocês percebem, até no mapa-múndi parece que a Europa é maior do que a América do Sul. Maior do que o continente africano. Os Estados Unidos aparecem deste tamanho, a América do Sul aparece pequenininha. Ou seja, é para, com ilusão de ótica, enganar a cabeça de milhões e milhões de pessoas no planeta Terra.

E nós resolvemos que nós não aceitamos mais ser tratados como insignificantes. Nós resolvemos que nós não queremos mais ser tratado como Terceiro Mundo. Nós resolvemos que nós não queremos mais ser tratado apenas como o país que tem a Amazônia, que tem floresta e que, portanto, tem que preservar porque o mundo precisa.

E, desde 2009, que propõem US$ 100 bilhões para ajudar nos países que têm floresta e, até agora, não apareceu esses US$ 100 bilhões. E passa a ideia que eles são bonzinhos, porque estão ajudando no fundo. Não, companheiros, não é bondade. É que eles começaram a desmatar as suas florestas há 200 anos atrás, quando começou a Revolução Industrial. Então, eles têm uma dívida histórica para pagar ao planeta Terra. E, por isso, dá dinheiro para preservar o que exista ainda não é favor, é pagamento de dívida em proteção da humanidade.

E é importante a gente avisar, avisar em alto e bom som, não basta olhar uma fotografia de satélite e vê a copa de uma grande árvore. Não basta olhar de satélite e ver apenas um grande rio majestoso, o rio Solimões, o rio Negro, o rio Tapajós. Não! Na margem desse rio moram seres humanos. Embaixo de cada copa de árvore tem um ser humano. São 28 milhões na Amazônia brasileira e 50 milhões de amazônidas que moram nos países sul-americanos. Esta gente quer comer, esta gente quer trabalhar, esta gente quer se vestir, esta gente quer passear, essa gente quer ter acesso aos bens materiais que nós produzimos. Quem é que não quer tá bonito, como nós estamos aqui hoje? Bem vestido, bem calçado, de barriga cheia. Esse povo também quer. E é esse país do Sul que pode oferecer esta oportunidade e alavancar o fim da desigualdade no planeta Terra.

Eu estou convencido, e peço perdão a Deus por ter descoberto isso tão tarde, que já tenho 77 anos, parece que eu tenho 30, mas tenho 77, mas o dado concreto é que nós que estamos aqui precisamos ter em conta que nós precisamos nos inconformarmos com a realidade do planeta Terra. Não tem outra palavra a não ser a gente não se conformar.  Como é que pode o mundo que tem conhecimento genético, científico-tecnológico pra produzir alimento para suprir 8 bilhões de pessoas, ter 735 milhões de pessoas passando fome? Como é que pode um país do tamanho do Brasil, que é o maior, terceiro maior produtor de alimento do mundo, um país que tem, o maior produtor de proteína animal do planeta Terra, tem pessoas na fila do açougue pegando osso. Tem 33 milhões de pessoas passando fome e outros milhões que não conseguem comer as calorias e as proteínas necessárias. Não é falta de alimento, é falta de melhor repartir a riqueza do mundo.

E eu vou falar uma frase, João Lourenço, que eu aprendi com Jorge Viana há mais de 30 anos atrás, ele era o governador do Acre. E ele me disse uma coisa: “presidente Lula, muito dinheiro na mão de poucos, é concentração de riqueza; mas pouco dinheiro na mão de muitos, é distribuição de riqueza”. O que nós precisamos é pegar no bolo de dinheiro que o mundo consegue produzir e reparti-lo o melhor. Não é possível que 1% dos mais ricos tenham mais coisas do que 50% dos mais pobres. Não é possível. Então, eu acho que se a gente não tiver capacidade de indignar a humanidade, a gente não muda essa desigualdade, desigualdade na educação, na saúde, no transporte, na moradia, desigualdade de raça, desigualdade de gênero, desigualdade de oportunidades.

Vocês, por acaso, têm noção? O Brasil foi descoberto em 1500, você tem noção de quando teve a primeira universidade brasileira? Alguém aqui, em Angola, se preocupou em saber disso? Não, porque nem nós, brasileiros, nos preocupamos. Se não nós tínhamos brigado.

A primeira universidade brasileira foi feita em 1920, e foi feita porque o rei da Bélgica ia visitar o Brasil e o rei precisava de um título de doutor honoris causa. Sabe em quantos anos o Peru teve a sua primeira universidade? Em 1554. Ou seja, não era preciso educar índio e não era preciso educar negro. Sobretudo os transformados em escravos. E o que que isso tá dizendo pro mundo hoje? Nós não queremos mais ser segregados, nós queremos participar do desenvolvimento. 

Vamos pegar um exemplo da dívida do FMI [Fundo Monetário Internacional]. Os países africanos estão com uma dívida de quase 800, 700 e poucos bilhões de dólares com o FMI. Vocês, por acaso, viram o FMI se manifestar quando quebrou o Lehman Brothers [instituição financeira dos Estados Unidos]. Vocês viram? Nunca se manifestou quando o problema era nos países ricos. Agora, quando é na Argentina, eles querem obrigar a Argentina a pagar uma coisa que a Argentina não tem.

Por que que o FMI e o mundo desenvolvido – que dizem que têm trilhões e trilhões de dólares sobrevoando o Oceano Atlântico, que têm trilhões e trilhões no fundo que ninguém sabe quem é o dono –,  por que o FMI não faz um acordo e não transforma essa dívida do continente africano em dinheiro para investir no desenvolvimento, ao invés de pagar para ele? Ou fazer as obras que faltam fazer no continente africano, sobretudo, a questão energética.

Então, essa discussão é que nós temos que fazer, porque se a gente achar que está tudo normal, a gente não vai ver as coisas mudarem. Eu te confesso que eu não consigo me conformar que é normal um cidadão nascer pobre, morrer pobre, seu filho nascer pobre e morrer pobre, o neto nascer pobre e morre pobre. Não é possível. Não, não, não é normal, meu querido presidente, João Lourenço. Não é normal. E eu, não pense que eu sou um frustrado porque sou pobre. Não, não pense.

Aliás, a lava jato que tentou me perseguir, me deu atestado de pobreza. Porque ficou ‘futucando’ a minha vida, meu telefone, minha conta bancária, dos meus cinco filhos, invadiu minha casa, foi pra Suíça, foi para o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, e não  encontraram um dólar. Não encontraram um centavo, mas não tiveram coragem de reconhecer porque já tinham mentido muito para a sociedade brasileira. Eu sei que aqui, em Angola, vocês liam a revista Veja. Eu sei que vocês assistiam programa de televisão brasileira.

Então, a desgraça de uma grande mentira é que você passa o resto da vida contando ela para justificar a própria mentira. E é por isso que eu queria dizer para vocês: nós temos uma chance. E a questão das nossas florestas é uma chance real. Ela tem preço. Ela pode ser, agora, mensurada, ela pode ser mensurada em dinheiro, Haddad. Ela pode ser mensurada em alternativa de investimento. Quem é que tem maior capacidade de produzir energia renovável como nós? Como o tal do Sul? Quem é que tem a capacidade de produzir energia eólica, energia solar, bioetanol, biodiesel, hidrogênio verde? Qual é o país que tem a mesma capacidade que tem os países do continente africano e da América do Sul?

É disso que nós temos que saber tirar proveito. E é disso que nós precisamos colocar na mesa de negociação, e é por isso que nós estamos convocando, companheiro João Lourenço, todos os países do continente africano pra gente ir na COP, nos Emirados Árabes, pra gente dizer que a gente está disposto a negociar. Mas a nossa negociação é para melhorar a qualidade de vida do povo desse Sul tão importante.

Há uma coisa, que também não tá escrito aqui, eu, eu  já li e não tá escrito, então eu tenho que falar porque não tá escrito aqui, que é uma máxima que eu utilizava há um tempo. O que que faz o empresário querer fazer investimento? Primeiro, eu aprendi desde o tempo de torneiro mecânico, Haddad, que o capital é covarde. Ele só vai aonde ele ganha. Ele não luta pra perder. Então, ele quer algumas coisas, que eu acho normal. Eu acho normal o cidadão ter dinheiro. Se quer até que ele coloque o dinheiro em algum lugar, a gente tem que oferecer alguma coisa.  Então, nós temos que oferecer estabilidade política, estabilidade jurídica, estabilidade fiscal e também estabilidade social. Porque a gente não pode cumprir as outras três deixando o povo morrer de fome.

O que mais que a gente quer? A gente quer um país que ofereça pra gente tudo o que a gente precisa. Uma política tributária correta, de preferência a mais baixa possível. Porque não é o justo, é o mais baixo. Então, a gente quer uma política fiscal correta. A gente quer estabilidade, mas a gente também, a gente quer é uma previsibilidade do que vai acontecer no futuro. Então, nós temos que oferecer essas coisas.

É isso que vocês querem, então é oferecido aqui. Venha investir em Angola. É um país que já foi exultado e roubado de tanto diamante que esse país produzia. Não sei quanto esses diamantes geraram riqueza para o povo de Angola ou geraram riqueza apenas para meia dúzia de espertos. Esse país tem ouro, esse país tem petróleo, esse país tem gás. E esse país tem oportunidade. Esse país tem um potencial agrícola extraordinário. É por isso, Adão Pretto, você tem que saber o seguinte: a gente vai ter que pensar nessas coisas para que a gente possa fazer o que a gente não fez no século passado. Nós não temos o direito de continuarmos pobres.

Nós não temos o direito de continuarmos sendo chamados de Terceiro Mundo. Nós temos muitas condições a oferecer. Por isso, eu queria fazer um convite aos empresários brasileiros. Eu comecei dizendo: Angola é importante porque Angola dá estabilidade. Eu vou repetir: Angola paga. Angola não vive devendo.

Mas tem outros países também, tem oportunidades. O que eu quero que vocês pensem: que vocês se quiserem crescer, se quiserem virar empresa multinacional, vocês nunca vão poder investir na França, nunca poder investir nos Estados Unidos, nunca vão poder investir na Alemanha. É aqui que você pode investir. É aqui que você pode ter oportunidade. 

Então companheiros, é simples assim. A gente faz as coisas ficar difícil porque a gente quer. É uma vergonha, presidente João Lourenço, é uma vergonha, que um país que já foi a sexta economia mundial como o Brasil. E eu tô falando agora como presidente do Brasil. É uma vergonha que a gente não tenha nenhuma empresa com nenhum voo para o continente africano. É uma vergonha. Eu não consigo entender que visão, que visão  retrógrada é essa.

Angola é um país que tem 35 milhões de habitantes, ou 40 milhões de habitantes, não sei quando é que foi feito o último censo aqui, mas esse é um dado concreto. Só a capital tem 10 milhões de habitantes, é quase do tamanho de São Paulo. E é só você ver a construção civil, você percebe que é uma cidade que vem crescendo e que poderia crescer muito mais, se o Brasil não tivesse se afastado. Eu tentei fazer o encontro América do Sul-países africanos. Porque a verdade é que a América do Sul também não conhece muito a África. A África também não conhece porque o Brasil é muito grande, tá na frente dos outros países.

E vocês, e o povo africano era escravizado no Brasil, nos Estados Unidos, e, de vez em quando, sobrava para Cuba um monte de gente. Então, eu tentei fazer isso. Eu fiz duas reuniões. Depois eu tentei juntar América do Sul com o Oriente Médio.

Você não tem noção da briga que deu porque os Estados Unidos achavam que juntar o Brasil com a América do Sul, com os países árabes, era contra Israel. Eu não tenho nada contra Israel. Eu não tenho nada. O que eu quero, na verdade, é fazer com que o mundo árabe, quando eu vejo aqueles xeiques falarem – porque tem um trilhão de dólares, dois trilhão de dólares, quatro trilhões lá reservado nos Estados Unidos –, eu quero é me apresentar para ele e falar: "ô cara, o Brasil tá precisando de investimento. O Brasil vai fazer ferrovia, vai fazer hidrovia, vai fazer um monte de coisa, invista lá."

Eu acho que não vou ler mais o meu discurso. Deixa concluir pra você dizendo o seguinte: olha, eventos como esse é preciso a gente fazer muitas vezes, muitas vezes, porque as oportunidades não surgem todo dia. A gente tem que procurá-las. Vocês que são empresários, que são investidores, são empreendedores, sabem disso. Esse continente aqui fez um projeto em 2014, que não foi executado, chamado FIDA. Esse era um projeto que previa investimento de US$ 340 bilhões. 

E uma das coisas mais importantes que esse continente precisa, é energia. Energia elétrica, energia eólica, energia solar. Há 30 anos atrás a gente não tinha muito noção dessa coisa de solar, de eólica, era só a hidrelétrica. Vocês sabem por que que aconteceu o apagão no Brasil em 2001? Você tem noção por que que aconteceu o grande apagão no Brasil? Porque a gente tinha excesso de água e de energia no Sul e Sudeste e não tinha linha de transmissão para levar para os outros estados. Era simples assim. 

Então, aqui neste continente tem país que só tem 20% da energia que precisa. Esse país tem tudo, tem tudo para quem queira investir. Procurar. Eu tô falando de Angola, porque eu estou em Angola, mas tem outros países que oferece outras oportunidades. Vocês sabem que o rio Congo, segundo os especialistas, Haddad, dá para produzir três Itaipu. Três usinas de Itaipu. Ora, se isso é verdade que os técnicos falam, a República Democrática do Congo poderia ficar rica vendendo energia pro restante dos países africanos. Agora, alguém tem que bancar o financiamento. Porque o dinheiro não aparece de graça. Nós temos que ter projeto.  

Então eu penso que esse meio do século XXI é o momento da gente mudar a cabeça nossa e fazer um pouco das coisas diferentes. Esse país, esse continente está completando, acho que 60 anos, ou 65, de todas as lutas de independência que houve aqui. Foi em 1960, 65, o grande rol da independência. O problema é que depois da independência começou a guerra civil, que era pior do que a luta pela independência. Mas agora todos eles estão resolvidos, pelo menos os grandes aí tá tudo resolvido. Então, nós precisamos saber se a gente vai aproveitar essa oportunidade ou não.

Eu queria fazer uma convocação aos empresários e aqui eu queria falar para os empresários brasileiros. Eu acho que é importante, Jorge, você, acho que o Sebrae, acho que o FIESP [Federação das Indústrias do Estado de São Paulo] com o companheiro Josué, acho que a CNI [Confederação Nacional da Indústria], que agora vai ter um presidente que me parece que é preocupado com a indústria de verdade, o Alban [Ricardo Alban], que é o companheiro da Bahia que vai assumir a presidência da CNI. Na hora que a gente tiver empresários preocupados com a indústria, de verdade, preocupados em fazer investimento, porque se a gente tivesse essa preocupação, a gente não tinha permitido a quebradeira das indústrias de engenharia brasileira. Todas elas quebraram. Em benefício de quem?

Façam a licitação hoje pra saber quantas empresas brasileiras aparecem e quantas estrangeiras. Um país que construiu uma das mais extraordinárias empresas de engenharia do planeta, que ganhava concorrência no Oriente Médio, ganhava concorrência em Miami, ganhava concorrência no continente africano, no continente latino-americano. Destruíram. 

Então companheiros, nós temos outra chance. Todo mundo sabe por que que eu voltei a ser presidente do Brasil. Eu voltei porque achava que o povo merecia melhor chance. Eu nunca pedi pra ninguém gostar de mim, eu só peço pras pessoas gostarem de si próprio, gostarem da sua família, gostarem dos seus filhos, gostarem de democracia, gostarem da civilidade, gostarem da paz, gostarem da harmonia. É isso que nós precisamos ser para poder crescer.  

Mas eu voltei porque eu acho que nós vamos provar  que o Brasil vai voltar a crescer, o povo vai melhorar, porque o Brasil só melhora quando o pobre entra no orçamento. Só melhora. Quando o pobre entrar no orçamento aqui de Angola, quando o povo começar a comprar, quando o povo começar a trocar de sapato, a trocar de calça, a trocar de camisa, a melhorar a comida, a comer um pão a mais, uma manteiga a mais, um leite a mais. Quando tudo isso começar a acontecer, vocês vão perceber que a economia cresce. Sem nenhum cidadão que se acha inteligente fez ela crescer. É a distribuição do dinheiro na mão de todos que vai fazer as coisas acontecerem. 

É isso que nós temos que fazer, simples assim. Simples. Enquanto um tiver comendo 10 vezes por dia e o outro não estiver comendo nada, não vai dar certo. A gente vai criando uma sociedade empobrecida, e eu acho que nós temos que ter consciência do papel que o continente africano, que o continente latino-americano, que a América do Sul  vão jogar nesse momento. 

Eu quero aproveitar esse meu mandato de três anos e meio já tá quase acabando, porque o mandato, João Lourenço, pra quem está no mandato é muito curto, ele é longo para quem está na oposição que não consegue esperar. Então, esses três anos e meio, esses três anos e meio, Haddad é ministro da Fazenda, ele sabe que ele vai ter que fazer mais e mais do que tudo que ele aprendeu na universidade, tudo que ele aprendeu é nada diante do que ele tem que fazer. Se ele terminar o mandato dele junto comigo e tiver uma criança pedindo esmola na rua de São Paulo, nós fracassamos. Porque não é possível que tenha. 

Nós temos condições de mudar. E nós queremos o quê? Nós queremos que os empresários sejam alavanca para que a gente possa criar esses novos empregos necessários, aproveitar de toda essa maluquice da inteligência artificial. Você imagina, gente, eu tô querendo quase que comprar a inteligência artificial pra mim, porque a minha não é artificial, mas é pouca. Só sei que até ontem precisava de inteligência, nem precisa estudar mais, João, você compra inteligência artificial, cara. A gente pode fazer uma revolução, nós temos que aproveitar essa revolução da informática, da internet, essa coisa da transição ecológica, tudo palavra tão nova que…

Eu comecei fazendo campanha, Haddad, em 1989 dizendo, porque os especialistas me falavam pra dizer, que o petróleo ia durar só 30 anos. Pois, já se passou 50 e cada vez a gente descobre mais petróleo. Gente do céu, gente do céu, a gente tem que sonhar grande. Eu acabei de ouvir uma música cantada no coral na Assembleia Nacional, que essa música dizia que o homem e a mulher, eles podem voar pra onde eles quiserem, não tem limite. Então nós temos que sonhar grande, nós temos que sonhar grande. Nós temos que pensar grande pra gente poder construir grande. 

Nós temos que, muitas vezes, fazer investimentos de risco. Se eu não tivesse feito investimento em pesquisa na Petrobras, a gente não tinha descoberto o pré-sal. O pré-sal foi muito dinheiro de investimento em pesquisa. Agora no Brasil tem empresário que acha que investir em pesquisa é errado, demora pra encontrar. Ora, mas se você não pesquisar, você não encontra nunca. O que é importante é a gente ter um projeto, e o nosso projeto agora é de fazer com que a região sul do mundo se coloque em pé de igualdade com o norte do mundo. Nós não queremos tirar nada de ninguém, apenas ser tratado em igualdade de condições e ter a mesma oportunidade. Não é possível um país africano ter seu dinheirinho de reserva nos bancos americanos e estar pagando os juros de uma dívida mais do que ele recebe de juros da sua reserva.

Então, gente, o que eu tinha pra dizer era isso. Tá escrito aqui, mas eu não disse. Segure isso aqui. Eu quero agradecer a vocês, quero agradecer de coração a cada empresário brasileiro, a cada empresário angolano, e dizer pra vocês: esse mundo será o que a gente quiser que ele seja. Angola será o que vocês quiserem que ele seja. E o Brasil será aquilo que nós quisermos que ele seja. 

Um abraço e boa sorte.

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