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Wladmir, o braço direito de Carlinhos Cachoeira

O emissrio poltico do contraventor um homem tranquilo, disposto ao dilogo. Nos bastidores, suas caractersticas principais sempre foram: bom negociador e arrecadador

Wladmir, o braço direito de Carlinhos Cachoeira (Foto: Divulgação)

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Goiás 247 – Conversa tranquila, dono de muita paciência, ele estava sempre à disposição. Uma de suas características mais conhecidas é a disposição para o diálogo. Fala, ouve, fala, discorda, argumenta, sempre sem elevar a voz. Estas são algumas das características do que ficou conhecido como braço direito do contraventor Carlinhos Cachoeira: Wladmir Garcês.

Preso pela Polícia Federal em 29 de fevereiro, quando foi deflagrada a Operação Monte Carlo, Wladmir divide hoje uma cela com outras duas pessoas no Núcleo de Custódia do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia. O jornal O Popular fez um perfil dele.

Operação Monte Carlo

Articulador sempre atuante

Wladmir Garcêz é apontado como bom negociador e arrecadador, até quando está só nos bastidores

Caio Henrique Salgado e Patrícia Drummond

Apontado como um dos principais emissários dos interesses do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, diante do poder público, o ex-presidente da Câmara de Goiânia, Wladmir Garcêz (PSDB), se relaciona com o contraventor de forma explícita no mundo político pelo menos desde o fim de 2010. Em dezembro daquele os dois atuaram “ostensivamente”, por um interesse comum: a eleição do vereador Santana Gomes (PSD) para a presidência do legislativo municipal.

A disputa pelo comando do legislativo municipal marcou, conforme o apurado pela reportagem, o retorno de Wladmir à cena política, ao menos abertamente. Preso há mais de 50 dias no Núcleo de Custódia, unidade de segurança máxima do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, o tucano é tido como uma figura atuante, mesmo que de forma discreta, nos bastidores.

Dono de um único mandato como vereador, entre os anos de 2001 e 2004, o tucano se envolveu em dois escândalos relacionados com supostos desvios de recursos da Câmara e praticamente viu enterrada a possibilidade de vencer eleições novamente. Entretanto, o bom relacionamento com poderosos o manteve ativo nos últimos anos, como representante de interesses empresariais e políticos, especialmente como ponte entre os dois universos.

Garcêz é apontado pela Polícia Federal como braço direito de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, em seu esquema ilegal de jogos e não assume funções públicas desde 2004, quando perdeu o cargo de secretário do Trabalho no segundo mandato de Marconi após ter seu nome envolvido em suposto esquema de fraude que teria desviado R$ 7 milhões do INSS dos funcionários da Câmara.

Mesmo assim, ex-colegas dele na Casa contaram ao POPULAR que o tucano nunca deixou de articular, situação que voltou a ser perceptível publicamente na tentativa de emplacar a candidatura de Santana, na época filiado ao PMDB. A interferência foi publicada em 16 de dezembro daquele ano pelo POPULAR (veja facsimile). Tanto Wladimir quanto Cachoeira trabalharam como agentes externos, sendo que a atuação do ex-presidente foi mais ostensiva. “Ele passava o dia lá”, revelou uma fonte que presenciou as negociações políticas na Casa.

O pleito de Santana também tinha o apoio do ex-vereador Marcelo Augusto, que estaria intermediando a disputa para o senador Demóstenes Torres (sem partido), então pré-candidato a prefeito de Goiânia pela base de apoio do governador eleito Marconi Perillo (PSDB). No fim das contas, Iram Saraiva, também do PMDB), venceu a disputa, já que Gomes, alinhado com a oposição ao prefeito Paulo Garcia (PT), não conseguiu o apoio de sua sigla, dona da maior bancada na Câmara, atualmente composta por nove parlamentares.

Um parlamentar do bloco governista disse à reportagem que, desde então, Wladmir “sempre estava” em eventos públicos e circulava bastante pelo Palácio Pedro Ludovico, atuando como “lobista”. “Ele chegava botando banca, falando alto. Ia atrás de cargos, defendendo os interesses de pessoas ligadas ao seu grupo”, lembrou.

Um dos casos seria o da Secretaria de Indústria e Comércio (SIC), localizada no 5° andar do palácio. Segundo servidores da SIC, Wladmir tem trânsito livre na secretaria e visita o local com frequência. “Ele vem praticamente todos os dias aqui”, disse uma funcionária no dia em que Monte Carlo foi deflagrada, em 29 de fevereiro.

Irmã de Wladmir, Cida Garcêz (PV) era assessora da pasta até fevereiro, quando saiu para ocupar cadeira na Câmara de Goiânia. A articulação teria sido feita pelo irmão. Paulo Garcia havia puxado o então vereador Juarez Lopes (PTN) para ocupar a Secretaria Legislativa, abrindo vaga à primeira suplente Sirlene Borba (PTN).

Mas àquela altura ela já havia transferido seu domicílio eleitoral para a cidade de Rubiataba, onde pretende se candidatar a prefeita, e por isso não assumiu, liberando a vaga à Cida, segunda suplente na chapa.

O vereador Deivison Costa (PT do B) já afirmou ao POPULAR que a condução de Cida à Câmara foi feita com interferência do irmão. Em 27 de março, o então secretário de Comunicação do Paço, Andrey Azeredo (PMDB), que pediu demissão na semana passada, disse ter se tratado de consequência da saída de Juarez. Em escuta telefônica divulgada recentemente Azeredo e Wladmir conversam sobre a possível nomeação de uma mulher na Prefeitura.

Apesar de confirmar que Cida trabalhou na SIC, Baldy disse na tarde de ontem que desconhece a presença de parentes dos dois “Não sei se há outros parentes”, disse. “Ele (Wladmir) vai lá, não vou negar, mas relação de coisa para ver, para cuidar, para fazer, comigo ele não tem nenhuma.”

Uma das aparições do ex-presidente da Câmara no Palácio das Esmeraldas se deu em 22 de fevereiro de 2011, quando Marconi anunciou em evento que o governo tinha conseguido apoio de empresários para uma viagem do Corpo de Balé do Centro de Educação Profissional em Artes Basileu França. O grupo recebeu doação de R$ 40 mil, divididos entre oito empresas, para participar de evento em Nova York.

Wladmir foi representante da Delta Construções no evento, conforme está registrado na página do governador no flickr (veja facsimile). No álbum chamado “Marconi viabiliza recursos para alunos do Basileu França irem a Nova Yorque”, consta que, em nome da empresa ligada ao Cachoeira, o tucano foi um dos doadores “empresários responsáveis pelos patrocínios”.

Um dos presentes no evento contou à reportagem que, ao falar das ajudas, o secretário de Ciência e Tecnologia (Sectec) chegou a cumprimentar o ex-diretor da Delta Construções para o Centro-Oeste, Cláudio Dias Abreu, como doador. Pouco depois, o governador teria, orientado pelo cerimonial, agradecido a Wladmir como representante da Delta no evento.

Na prefeitura, o trânsito do tucano chegou ao ex-chefe de gabinete de Paulo Garcia, Cairo de Freitas, a quem Wladmir teria acompanhado, no ano de 2011, em reunião com a oposição para tentar acordo sobre os imbróglios que envolviam o Parque Mutirama. Cachoeira também teria participado do encontro e Cairo acabou pedindo demissão após os fatos terem sido divulgados pela imprensa. “Conheço o Wladmir Garcêz há mais de 30 anos. Ele era meu dentista”, disse Cairo.

Pessoas que conviveram com Wladmir atribuem o bom trânsito dele com políticos de diferentes partidos à relação próxima com empresário e à sua capacidade para arrecadar financiamentos para campanhas políticas. “Ele sempre atuou assim. Consegue arrecadar aqui, depois tenta negociar cargo ali”, disse um parlamentar, que ressaltou que as ajudas da qual tinha notícia não eram ilegais.

Jogos

Uma pessoa que conviveu com Wladmir enquanto o mesmo ocupou uma cadeira na Câmara revelou que o tucano tem interesse por jogos de azar. Ao ter seus sigilos fiscal e bancário quebrados durante as apurações do desvio milionário do INSS, o tucano afirmou ter ganho R$ 80 mil de prêmio durante uma partida de bingo de uma casa de jogos de Florianópolis, em 2002, durante a October Fest. Ele não declarou, contudo, o valor da aposta.

Em outro bingo, dessa vez em Goiânia, Wladmir teria chegado a se envolver em uma briga relacioanada aos jogos, afirmou a fonte. “Ele tem a fama de jogador”, disse.

O advogado de Wladmir, Neiron Cruvinel, não atendeu aos telefonemas da reportagem e não retornou ligações até a conclusão desta edição. Da mesma forma, Cida Garcêz e Santana Gomes não foram localizados.

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