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Coronavirus

Le Monde: aquele que encarna hoje a luta contra o coronavírus, à beira da demissão

"Luiz Henrique Mandetta defende as recomendações da OMS, enquanto o presidente Jair Bolsonaro minimiza a epidemia de Covid-19", escreve Bruno Meyerfeld, em artigo publicado no Le Monde

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, durante a coletiva de imprensa sobre à infecção pelo novo coronavírus (Foto: Marcello Casal JrAgência Brasil)
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Tradução de Sylvie Giraud, publicado originalmente no Le Monde - “Um médico não abandona seu paciente”, afirmou várias vezes Luiz Henrique Mandetta nas últimas semanas. No entanto, na quarta-feira 15 de abril, segundo rumores da imprensa nacional, o Ministro da Saúde brasileiro poderia ser forçado a deixar bruscamente seu cargo: sua demissão pelo presidente da extrema-direita, Jair Bolsonaro, seria iminente.

Desde o início da crise sanitária, uma verdadeira “guerra fria” opõe o presidente “corona negacionista” ao seu Ministro da Saúde, “corona alarmista” convencido. Em meio a uma pandemia, quando, em 15 de abril, 1.557 brasileiros já haviam morrido em consequência do Covid-19, a saída anunciada do Ministro da Saúde mergulha o país na incerteza.

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Segundo a comunidade médica, o caos nas mais altas esferas do Estado já está dificultando seriamente a luta contra o coronavírus. “Precisamos absolutamente de um link nacional para coordenar os esforços locais e distribuir o equipamento!”, adverte Gulnar Azevedo e Silva, presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
Há emergência: de acordo com um estudo conjunto publicado por um consórcio de universidades e institutos de pesquisa, o Brasil pode ter atualmente mais de 313.000 casos de pessoas infectadas pelo coronavírus; 12 a 15 vezes mais do que o número oficial divulgado pelas autoridades. Segundo um estudo do Imperial College de Londres, caso 75% da população se mantenha em quarentena, a epidemia poderá matar 44.000 pessoas no Brasil; no pior dos cenários, se nenhuma medida de confinamento for tomada, mais de 1,1 milhão.

“Competente”

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Com seus cabelos pretos cor de jade e seu eterno colete ladeado pela cruz azul do SUS, Luiz Henrique Mandetta tornou-se o rosto da luta contra o Covid-19 no Brasil. Preciso, profissional, equilibrado: quando o presidente compara o coronavírus a uma “gripesinha”, faz questão de medir sua popularidade no corpo a corpo com o povo, atraindo aglomerações, e desde 12 de abril, sustenta até que a epidemia “está começando a desaparecer”, Mandetta aparece como o anti-Bolsonaro, defendendo o “distanciamento social máximo” e as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Só trabalho com a ciência”, rebatia Mandetta. Nas últimas semanas, ao inverso e contra seu presidente, o ministro tinha conseguido mobilizar recursos do Estado para combater a epidemia: compra de 15.000 respiradores, pedido de 240 milhões de máscaras da China, distribuição de 1 milhão testes, construção de hospitais de campanha no interior e na Amazônia, créditos para a pesquisa ... Mandetta estava em todas as frentes.

Aos 55 anos, Mandetta não deixa de ser um soldado calejado. Nascido em Campo Grande (Mato Grosso do Sul, centro-oeste), este médico formado em ortopedia, com experiência no Brasil e nos Estados Unidos, trabalhou em hospitais privados, públicos e militares... Atraído pela política, tornou-se Secretario da Saúde na Prefeitura de Campo Grande (2005-2010). em seguida elegeu-se deputado federal em Brasília (2011-2019). É de família: ele conta hoje com três primos no alto escalão político (um senador, um deputado e um prefeito, todos na mesma região).

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No poder, Mandetta é apoiado pelo universo da medicina em peso, mas também, por representantes de todas as vertentes políticas. “Ele é muito competente, muito inteligente, muito técnico e conhece seus perfeitamente seus dossiês. No Parlamento, era uma referência em questões de saúde pública”, elogia Vander Loubet, deputado à esquerda do Partido dos Trabalhadores pelo Mato Grosso do Sul, que vem cruzando o personagem há duas décadas. Segundo o Instituto Datafolha, 76% dos brasileiros apoiam a ação do ministro e, nas redes sociais, a hashtag # Mandetta2022  faz furor.
Ao “Fora Bolsonaro!” gritado das sacadas durante semanas por muitos brasileiros, veio juntar-se nos últimos dias o ansioso “Fica Mandetta!”. No entanto, nada predestinava o ministro a essa unanimidade. Membro do DEM, partido conservador e contrario ao direito ao aborto, Mandetta trabalhou por anos como consultor tributário e presidente de um seguro saúde privado em Campo Grande. Lá, sua imagem foi manchada por acusações de fraude e tráfico de influência, lançadas quando ele ocupava o posto de Secretário de Saúde da cidade.

Provocações

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Ministro catapultado em janeiro de 2019 por Jair Bolsonaro, ele liderou uma política considerada retrógrada por seus oponentes, iniciando o desmantelamento do Programa Mais Médicos - lançado pela esquerda em 2013 – no qual trabalhavam mais de 8.000 médicos cubanos para cuidar da saúde dos mais pobres do Brasil. “Na questão do coronavírus, as medidas tomadas vão na direção certa. Mas há uma contradição: Mandetta tornou-se hoje o defensor de um sistema de saúde pública que até então ele combatia”, insiste Gulnar Azevedo e Silva.
Rapidamente, Jair Bolsonaro ficou enciumado com a popularidade de seu ministro. Mandetta “carece de humildade”, disse ele, ameaçando repetidamente despedi-lo “com uma canetada”. “O presidente se sente perdido e preocupado. Ele vê como adversário qualquer membro do governo que venha ocupar um espaço que ele próprio deveria ocupar naturalmente”, analisa o general Paulo Chagas, próximo a Jair Bolsonaro.
Por sinal, nos últimos dias, Luiz Henrique Mandetta não hesitou em provocar seu superior: “Quem tem mandato popular fala ... e quem não tem, como eu, trabalha”, ironizou, cáustico e seguro de sua força, em 2 de abril. O ministro foi então apoiado pelos pesos pesados ​​do governo e do Congresso, assim como pela influente ala militar no poder.
Não durou muito: no início desta semana, Mandetta teria bruscamente perdido o apoio dos generais, após uma entrevista dada à TV Globo no domingo 12 de abril. “O brasileiro não sabe se deve confiar no ministro da Saúde ou no presidente”, disse o ministro, despertando a ira dos oficiais militares do alto escalão, irritados com esse novo ataque à hierarquia. 

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