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Cultura

1984: o domínio sobre a história

O filme 1984, baseado no livro do mesmo título do livro de George Orwell, já começa com uma frase emblemática: "Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado"; é a deixa para mostrar como a informação é transfromada em poder para transmitir e descrever fatos históricos de acordo com a sua conveniência; "1984" é um clássico da literatura e do cinema, porque os ideais expressos ainda vigoram, sob diversas formas, em diversas sociedades do nosso tempo

O filme 1984, baseado no livro do mesmo título do livro de George Orwell, já começa com uma frase emblemática: "Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado"; é a deixa para mostrar como a informação é transfromada em poder para transmitir e descrever fatos históricos de acordo com a sua conveniência; "1984" é um clássico da literatura e do cinema, porque os ideais expressos ainda vigoram, sob diversas formas, em diversas sociedades do nosso tempo (Foto: Paulo Emílio)
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Por Ricardo Flaitt, para o 247 – Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado". Com essas palavras é que se inicia "1984", de Michael Radford, baseado na obra George Orwell. Mas o que essa frase significa?

Sintetiza as relações de poder na sociedade. Quem está no poder transmite e descreve fatos históricos de acordo com a sua conveniência. O filtro do passado pelo poder instituído no presente garante a permanência de um regime político. Ou seja, controla/direciona o futuro.

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"1984" narra a história de Winston Smith, funcionário do Ministério da Verdade, vinculado ao governo da Oceania e membro do Partido que comanda o país. Smith está inserido num sistema completamente burocrático (que nos remete ao filme "Brazil", de Terry Gilliam). Em Oceania, as pessoas não podem ter sentimentos, nem desejos sexuais, nem opinião.

O que se busca na sociedade de Oceania é um homem-matemático, quase robô, tecnicista, sem sentimentos, que deve colocar todos os seus anseios, seus desejos e sua vida à disposição de um bem maior: o partido e seus ideais.

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Para o controle da sociedade local, o partido centraliza suas ações nos ideais do Grande Irmão (Big Brother, e vem daí mesmo o reality show homônimo). O Grande Irmão tem todos os olhos para todos, vigia as casas, controla cada passo do indivíduo para que ele não desvirtue e corrompa o sistema implantando.

Como parâmetro para o controle absoluto sobre o cidadão, Winston Smith trabalha no Ministério da Verdade, órgão do governo que tem a função de filtrar todas as informações recebidas. Smith é vítima e, ao mesmo tempo, gerador de informações distorcidas.

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Assim se faz o controle do passado. As informações serão avaliadas, pesadas, medidas, para depois serem retransmitidas aos demais cidadãos. A informação positiva determina também os índices de aprovação daqueles que estão no comando da nação.

Com televisores espalhados por todos os cantos e lugares, o Partido transmite suas mensagens distorcidas da história. Controlando os meios de comunicação, os cidadãos de Oceania só têm essa TV interna como canal direto para compreender o que acontece lá fora.

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Passam o dia todo a receber informações sobre as guerras da Oceania contra a Lestásia e a Eurásia. Desta forma odeiam sem ao mesmo ter a real consciência do que e de quem estão odiando.

Nessa paranoia de controle total sobre todos chegamos ao absurdo dos comandantes de Oceania reverem, permanentemente, as palavras dos dicionários (como no filme "Alphaville", de Godard). A intenção é banir todas as palavras que possam suscitar sentimentos ou ações e, consequentemente, colocar o regime de Oceania em risco.

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Diariamente, todos os funcionários devem, por dois minutos, xingar Goldstein, grande vilão e inimigo público número um de Oceania.

Para o partido, o homem de Oceania não precisa sentir, mas apenas agir, sem questionamentos. Em uma cena marcante, dois funcionários do governo conversam sobre a nova revisão do dicionário Novilíngua. "É uma coisa bela a destruição de palavras".

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A busca pela sociedade perfeita ignora os anseios e desejos do ser humano. O homem não é matemático, ainda que busque a perfeição e compreensão das coisas e dos seres por meio da Ciência.

O personagem principal, Winston Smith (interpretado com grandeza por John Hurt), começa a entrar em colapso, pois o que ele reproduz no dia a dia não condiz mais com os seus ideais e os seus sentimentos.

Para dar vazão à angústia gerada pela falta de vida no sistema político e social de Oceania, Smith mantém um diário secreto, escondido entre tijolos de seu quarto cinzento.

Funcionário do Ministério da Verdade, em que tem a função de censurar as notícias desagradáveis ao sistema, Smith compreende que o mundo pintado pelo partido é muito diferente do mundo vivido.

Assim, enquanto os demais funcionários de sua repartição repetem bovinamente o cotidiano, Smith passa a questionar o sistema em que está inserido. Smith já não era mais o mesmo, "uma vez que uma árvore é cortada e transforma-se numa canoa, nunca mais uma canoa volta a ser árvore".

Com desejos sexuais reprimidos, Smith sai da "bolha" criada pelo sistema e percorre o submundo de Oceania em busca de vida, de sexo. À medida que ele confronta os mundos, num trecho de seu diário, Smith escreve: "Se há esperança, ela reside nos proletários. Se tivessem consciência de sua força não teriam necessidade de conspirar. A História não tem importância para eles".

Em crise, Smith se apaixona por uma funcionária do governo. Mas para se ter uma relação era preciso de autorização do Partido.

O envolvimento com Julia lhe abre as portas da percepção para os sentimentos reprimidos. Com ela dá vazão ao amor, às relações sexuais, e começa a ter aquele sentimento do ser humano em constituir uma família. Tudo o que o sistema reprime.

Numa cena de forte apelo plástico, Julia encaminha Smith a uma porta inserida num ambiente totalmente cinzento. Quando ela se abre (como se expondo um uma tela sobre a tela da TV), o que se vê é uma bela paisagem campestre, um mundo cheio de tons, como os projetados por Smith em suas sensações.

Mas como o Big Brother tem olhos para tudo, os governantes percebem que Smith está saindo do eixo determinado e que está tendo um caso amoroso. Sadicamente, é convidado por um alto executivo do partido a receber a nova edição do dicionário Novilíngua.

Chegando ao departamento do diretor, depara-se com uma sala imensa, é recebido com vinho, móveis novos, uniformes, contrastando o mundo insalubre a que os funcionários são submetidos. Ao encontro o diretor O´Brien (Richard Burton), recebe o dicionário, mas vem a descobrir que há um outro livro sobre a capa e entre as folhas: o livro de Goldstein, principal inimigo do governo.

A corda foi dada. Ao folhear o "dicionário", Smith depara-se com os fundamentos de Goldstein, totalmente contrários ao sistema constituído pelo partido, e gosta do que lê, pois reafirma o seu novo sentimento perante a vida. O livro de Goldstein representa a Resistência.

Porém, fica a pergunta: será que Goldstein existia mesmo ou era mero artifício dos comandantes do Partido? Num mundo onde se controla totalmente a informação, guerras podem ser inventadas, inimigos gerados, tudo para manter o estado do jeito que está e beneficiar uma minoria.

O fato de Smith receber esse livro também é tática do partido. Assim, invadem sua casa, retiram-no e levam para sala de tortura no "Ministério do Amor". O objetivo é re-enquadrar o cidadão Smith às normas do Partido.

A delação virou completa paranoia entre as famílias de Oceania. Filhos denunciavam pais e todo tipo de comportamento poderia levar o cidadão ao sistema de reeducação.

"1984" é um clássico da Literatura e do Cinema, porque os ideais expressos ainda vigoram, sob diversas formas, em diversas sociedades do nosso tempo.

Enquanto assistimos à verticalização do mundo digital sobre nós, internet, TVs com conexão, câmeras, tablets e a busca pelo controle total, "1984" nos faz refletir sobre a sociedade em que está sendo construída e reafirma preceitos históricos como o de que controlar a informação é controlar as massas. Ou, simplesmente, de que informação é poder.

Até que ponto somos protagonistas em nossa História e nosso tempo?

Curiosidades:
"1984" é uma alegoria sobre os regimes totalitários que estavam em vigor no mundo. Assim, retratava toda forma de tirania, como se viu em Hitler, na Alemanha; Stalin, na Rússia; e mesmo com Churchill, na Inglaterra. Mas, para não ser vítima daquilo que estava apontando em sua obra, Orwell inverteu os dois últimos números do ano de 1948 (ano do lançamento da obra) para 1984, reforçando assim, a ideia de que era uma obra de ficção científica com poucos lastros com a realidade.

"1984" começou a ser filmado em Londres e Wiltshire, exatamente no dia e nos lugares que descrevia o diário do personagem "Winston" no livro de Orwell, dia 4 de abril de 1984.

A canção-tema do filme se chama "Sexcrime" e é interpretada pela dupla Eurythmics.

Richard Burton faleceu em seguida ao término das filmagens e o filme lhe foi dedicado.

FICHA TÉCNICA
1984
(Nineteen Eighty-Four, Inglarterra,1984).
Direção: Michael Radford.
Roteiro: Michael Redford, baseado em livro de George Orwell.
Elenco: John Hurt (Winston Smith), Richard Burton (O'Brien), Suzanna Hamilton (Julia), Cyril Cusack (Charrington), Gregor Fisher (Parsons).
Drama / Romance / Ficção científica.
113 minutos.

Principais prêmios e indicações:

– Indicação ao Bafta: Direção de arte.
– Fantasporto: Melhor ator (John Hurt).
– Indicação ao Fantasporto (melhor filme).
– Festival de Istambul: Prêmio Golden Tulip.
– Festival de Valladolid: Melhor ator (prêmio empatado para John Hurt e Richard Burton).

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