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Cultura

A arte e o lixo

Blogs, sites e vídeos nunca tiveram tanta audiência, justamente por seu teor revolucionário e fora das regras impostas pelos executivos

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Estar presente no meio midiático e poder observar de perto, em muitos casos analisando fatos pessoais, é um privilégio que posso sentir orgulho de ter, principalmente por tê-lo atingido através de meus próprios esforços (o já dito “não nasci com papai famoso”). Contudo, após mais ou menos um ano podendo estudar os acontecimentos desse meio do entretenimento e informação, cada vez mais percebo a infinidade de situações e padrões extremamente mal resolvidos e/ou conduzidos através de péssimas escolhas por aqueles que controlam e decidem as canetadas finais de qualquer projeto. Um país absolutamente controlado por executivos, cuja influência artística beira perto do zero na maioria dos casos.

Considero muitas pessoas que não são comumente tratadas como artistas, como tais. Acredito que a arte seja muito mais que uma pintura ou um trabalho de interpretação. Gosto de enxergar arte num jornalista corajoso, num executivo que vai contra uma mesa composta por diretores escrotos e cartesianos que só pensam em números, num publicitário que assume riscos altíssimos em determinada campanha ou até mesmo no mais modesto funcionário de escritório que descola formas e agiliza processos para driblar a imensidão burocrática que assola o meio de entretenimento do Brasil. Isto posto, algumas considerações que acho pertinentes na diferenciação entre o artista e o executivo são vistas em detalhes pequenos, mas que se pudessem ser controlados por artistas mudariam consideravalmente a estrutura do meio no Brasil.

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Temos canais de televisão, rádios, jornais e revistas controlados com a mais dura mão executiva, capaz de analisar friamente dados estatísticos e chegar às mais brilhantemente ignorantes soluções para elevar seus índices e estufar seus bolsos. Brilhantes por obterem sucesso em seu objetivo principal: fazer dinheiro. Ignorantes por falharem miseravelmente naquele que deveria ser o outro objetivo principal, mas que é sumariamente ignorado na maioria dos casos: fazer arte, criar, ousar e elevar o nível de cultura e informação do povo brasileiro. Enquanto o primeiro objetivo é magistralmente atingido, o segundo é arremessado na lama, satisfazendo o âmago de uma população com baixíssimo ou quase nulo nível crítico, seja no humor, no drama, na fotografia ou na qualidade de uma notícia. Exatamente desse pensamento surge a pergunta que nos remete ao famoso “o ovo e a galinha”: o que veio primeiro, a péssima qualidade do meio de entretenimento e notícias do Brasil ou o péssimo nível crítico da população que fica contente com qualquer coisa arremessada em sua face desde que não tenha palavrão? O sistema produz lixo porque a população não gosta de pérolas... Ou a população não gosta de pérolas porque o sistema praticamente só produz lixo?

A resposta a essa pergunta só os mais profundos analistas talvez possam atingir, mas o principal está na resposta que aqueles capazes de decidir o futuro do meio brasileiro dão. Os executivos, em sua maioria, levantam a bandeira de que “devemos fazer o que o povo gosta e o que é necessário para mantermos nossa audiência”. Errados? Ora, se são executivos sem arte, logicamente que não estão errados, apenas estão protegendo seus interesses pessoais e da empresa onde trabalham. Contudo, se tivéssemos um meio controlado por artistas, a resposta a pergunta fundamental seria completamente diferente, algo como: “ora, foda-se”. O interesse artístico não está em analisar respostas sobre como manter as classes X e Y assistindo, ou raciocinar em cima de suposições do gosto pessoal da população. O famoso “epa, calma, não vamos colocar um ‘vai a merda’ aqui porque a dona de casa não gosta” não existe para um artista, o que existe é apenas a resposta entre o bom e o ruim. O lixo e a pérola. O que vale a pena fazer e o que não vale a pena fazer. É a decisão entre colocar bundas enormes dançando na frente da câmera ou fazer humor daqueles que têm graça. Lembra?

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Executivos controlam, artistas obedecem. Bundas rebolam, o público aplaude enquanto engole o que dão para ele engolir. Os índices de audiência se mantêm e pouco é feito para realmente revolucionar o meio. Contudo os antigos perecem e a classe mais nova começa a repudiar o lixo e a buscar alternativas na internet. Blogs, sites e vídeos nunca tiveram tanta audiência, justamente por seu teor revolucionário e fora das regras impostas pelos executivos. Os novos padrões de notícias, dramaturgias, humor e outras vertentes passam a ser definidos por artistas, mesmo sem saber que são artistas. O blogueiro que gera seu conteúdo cuja concepção jamais seria tolerada numa TV aberta ou publicada num jornal demonstra muito maior poder artístico que qualquer ator condicionado ao sistema executivo, obrigado a podar perto da raiz seu potencial para agradar a um sistema que já começa a ser chamado de falido, embora eu considere que ainda precisarão de algumas décadas para verdadeiramente falir.

Mesmo com todos os indícios de que o atual modelo é ultrapassado, os executivos permanecem com suas decisões sem arte, poucos preocupados em agradar a classe jovem com conteúdo revolucionário e muito mais preocupados em manter seus níveis de audiência composto por um público que está morrendo. Pouca coisa é feita, coisas geniais vão para o lixo enquanto o lixo é tratado como coisa genial por seus números. Não há preocupação, não há mudança.

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Enquanto isso, o jovem muda, cresce e sai da mídia tradicional para assolar a web, onde ele pode encontrar o que realmente procura: transgressão dos padrões impostos pelos executivos. No final das contas, Renato Russo soa quase como um profeta, ao que dizia: “mas agora chegou nossa vez, vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês”... A geração Coca-Cola é o futuro da nação. Os executivos sem arte ainda se perderão.

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