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      É proibido criticar Israel?

      Escritor alemo Gnter Grass, que j recebeu o Nobel de literatura, critica possvel ataque preventivo ao Ir em poema e acusado de ser apenas mais um nazista

      É proibido criticar Israel? (Foto: Divulgação)
      Leonardo Attuch avatar
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      247 – Na geopolítica internacional, há hoje uma grande questão: Israel vai ou não atacar as instalações nucleares do Irã? Isso já foi feito em 1981 contra o Iraque e pode ser repetir agora. Esse tipo de ação, conhecido como ataque preventivo, foi também o que inspirou a desastrosa ação militar dos Estados Unidos no Iraque. Como forma de protesto, o escritor alemão Günter Grass, prêmio Nobel de Literatura, publicou ontem um poema, no qual critica a possível ação militar de Israel, antes “que seja tarde demais”. Como era previsível, ele já vem sendo classificado como nazista.

      Leia, abaixo, o poema de Günter Grass:

      O que deve ser dito

      Por que me calo, calo por tempo demais

      Sobre o que é clarividente e foi ensaiado

      em planos, em cujo final, como sobreviventes

      nós somos notas de rodapé em todos os casos.

      É o alegado direito do primeiro ataque,

      que poderia apagar o povo iraniano

      subjugado por um boquirroto

      e dirigido ao júbilo coletivo,

      porque a construção de uma bomba atômica

      em sua esfera de poder é cogitada.

      Mas por que me nego,

      a tratar pelo nome um outro país

      no qual há anos — embora em segredo —

      um crescente potencial nuclear está disponível

      mas fora de controle, por que nenhuma prova

      é acessível?

      O silêncio generalizado desse fato,

      ao qual se subordina o meu silêncio,

      eu considero como uma mentira permanente

      e obrigatória, que enfrenta punições

      tão logo ele seja quebrado:

      o veredicto de "antissemitismo" é imediato.

      Agora porém, que meu país,

      cujos crimes antigos,

      que são inigualáveis,

      uma vez e outra são trazidos à tona

      de novo e de maneira protocolar, mesmo que

      com lábios ágeis declara como reparação,

      o envio a Israel

      de mais um submarino, cuja especialidade

      consiste em levar ogivas devastadoras de tudo

      a um lugar, onde a existência

      de uma única bomba atômica não foi provada

      mas será pelo temor da força das provas,

      digo o que deve ser dito.

      Por que, porém, calei até agora?

      Porque achava que minha origem,

      que é manchada por uma mácula que nunca pode ser apagada

      proibia atribuir esse fato como verdade anunciada

      ao país Israel, ao qual eu sou ligado e

      ao qual quero permanecer ligado.

      Por que só digo agora,

      envelhecido e com tintas finais:

      a potência atômica Israel põe em risco

      a já frágil paz mundial?

      Por que é preciso dizer

      aquilo que já pode ser tarde demais amanhã:

      também porque nós — como alemães já suficientemente sobrecarregados —

      poderíamos nos tornar cúmplices de um crime

      que é previsível, causa pela qual nossa cumplicidade

      não poderia ser amenizada

      por nenhuma das desculpas costumeiras.

      E admito: não me calo mais

      porque estou cansado da hipocrisia do Ocidente;

      além disso, há a esperança

      de que vários se libertem do silêncio,

      e instem o causador do perigo evidente

      a abdicar da violência

      e ao mesmo tempo insistam,

      para que haja um controle sem restrições e permanente

      do potencial atômico israelense

      e das instalações nucleares iranianas

      por uma instância internacional

      com acesso permitido pelos governos de ambos os países.

      Só assim se pode ajudar os israelenses e palestinos,

      mais ainda, todas as pessoas, que nessa região

      ocupada pela loucura

      lado a lado vivem em inimizade,

      e finalmente nós também.

      Gunter Grass

      E também o artigo de Marcos Guterman, no Estado de S. Paulo, em que Grass é classificado como nazista:

      O que deve ser dito sobre Günter Grass

      Günter Grass, Prêmio Nobel de Literatura, publicou um poema nos jornais alemães nesta quarta-feira no qual diz que “o poderio nuclear de Israel é uma ameaça a uma já frágil paz mundial”.

      O título do poema é “Was gesagt werden muss”, ou “O que deve ser dito” – uma expressão alemã que significa “Não há lei contra dizer isso” e que em geral inicia conversas informais contra os imigrantes ou contra Israel. Normalmente essa expressão vem acompanhada de uma ressalva importante – quem a enuncia costuma dizer que tem “amigos” imigrantes ou judeus, para escapar da acusação de xenofobia ou de antissemitismo. Grass faz exatamente isso, ao se dizer “alinhado a Israel”.

      No entanto, Grass revela seu antissemitismo por inteiro quando escreve que se manteve em silêncio sobre o assunto até agora porque se sentiu “constrangido” ante a “promessa de punição” caso fizesse críticas a Israel na Alemanha. Com isso, ele reforça o mito do poder judaico onipresente, como se os críticos de Israel não pudessem se expressar graças à força incontornável dos conspiradores de Sião.

      Günter Grass sabe perfeitamente que as críticas a Israel não só são permitidas na Alemanha como são constantes. Mas parece que, volta e meia, o pequeno nazista que ele foi, vestido com uniforme da Waffen SS, torna a emergir – e agora, ironicamente, em nome da “paz mundial”.

       

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