Em "Bling Ring", Sofia Coppola aborda o vazio das celebridades
Em seu novo trabalho, "Bling Ring - A Gangue de Hollywood", Sofia fica em sua zona de conforto, ao mesmo tempo que a subverte. Ela fala dos ricos e alienados da Califórnia, mas, dessa vez, o olhar é externo à bolha, é o daqueles que aspiram à posição de ricos e famosos
SÃO PAULO, 15 Ago (Reuters) - Em sua filmografia, Sofia Coppola investiga estados de alienação, de distanciamento do mundo em que vivemos, da vida como a conhecemos.
Em "Um Lugar Qualquer" (seu filme de 2010, ganhador do Leão de Ouro em Veneza) um astro de Hollywood passa uma temporada num luxuoso hotel onde tenta se reconectar com sua filha adolescente.
Já o primeiro longa, e um dos melhores da diretora, "As Virgens Suicidas" (1999), cinco irmãs são emocional e intelectualmente asfixiadas por uma mãe dominadora.
Nos filmes da diretora há sempre um elemento externo explodindo a bolha interna onde vivem os protagonistas.
Mas, em seu novo trabalho, "Bling Ring - A Gangue de Hollywood", Sofia fica em sua zona de conforto, ao mesmo tempo que a subverte. Ela fala dos ricos e alienados da Califórnia, mas, dessa vez, o olhar é externo à bolha, é o daqueles que aspiram à posição de ricos e famosos.
Não é sobre alienação, é sobre manipulação: o desejo de ter mais do que se tem e os vícios de tentar conseguir alcançar esses desejos - os materiais, que fique claro. Embora os protagonistas não vivam na bolha, também não estão totalmente de fora -estão bem próximos- e não a querem furar, mas entrar nela.
Vivendo numa sociedade de valores invertidos, os protagonistas se sentem no direito de se apoderar daquilo que querem e ainda não têm.
Ao mesmo tempo, "Bling Ring" não poderia ser um filme mais atual. A trama não poderia existir em outros tempos que não esses em que vivemos, de uma sociedade obcecada por celebridades e com acesso rápido e fácil à vida dessas pessoas, tudo sobre elas está na Internet.
É fácil para os personagens descobrir que Paris Hilton está em Nova York e saber onde ela mora na Califórnia, tudo pela Internet.
O grupo de adolescentes do filme entra na casa de ricos, famosos e fúteis, como Paris Hilton, Orlando Bloom e Lindsay Lohan.
Uma vez dentro, se servem do que querem: roupas, joias, sapatos, dinheiro. Fora isso, também querem a fama, que vem pela Internet, postando nas redes sociais fotos com os lucros dos roubos.
A líder do grupo é Rebecca (Katie Chang), tão esperta quanto maquiavélica e manipuladora, que consegue convencer seu novo amigo, Marc (Israel Broussard), a participar do primeiro roubo - à mansão de Paris Hilton.
Logo a gangue está formada com Chloe (Claire Julien), Nicki (Emma Watson) e Sam (Taissa Farmiga), uma espécie de filha adotiva da mãe de Nicki (Leslie Mann). Entrar nas casas das celebridades não parece tarefa difícil, uma vez que as portas vivem destrancadas e a segurança privada (se é que há) é burlada.
Marc é o centro moral sobre o qual gravita o filme -mas, frágil demais, e com baixa autoestima, ele se deixa facilmente carregar pelos padrões das amigas, que parecem apenas deslumbradas com o glamour e o luxo. Nicki é mais do que isso. Ela se aproveita até da prisão para se promover -parece ter seguido conselhos de sua mãe, uma personagem que seria até engraçada, não fosse tremendamente assustadora a sua falta de tato e bom senso.
Mas Sofia não quer rir desses personagens, nem zombar deles. Parece apenas interessada em retratar o efeito que geram em nossa sociedade de consumo de celebridades. É um filme que se abstém de julgamentos. Mas o risco de se retratar um mundo fútil é o de cair na futilidade.
A diretora consegue evitar isso boa parte do tempo, mas, às vezes, parece se deixar levar pelos personagens e seus desejos.
Ao que consta, Paris Hilton autorizou que cenas fossem filmadas em sua casa -cenário de roubos da verdadeira Bling Ring. Essa exposição da própria socialite diz fundo sobre o quanto o discurso do filme é real: existem pessoas que estão sedentas por fama, e as celebridades pouco se importam com sua privacidade.
Esse exibicionismo não apenas justifica os personagens, como, também, valida o filme.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
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