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Cultura

Eugénia a Solnik: “Em Portugal também estamos a passar por uma baixaria”

Há 35 anos na ponte aérea Portugal-Brasil, Eugénia Melo e Castro já perdeu a conta de quantas vezes cruzou o Atlântico, desde a primeira vez, em 1981, para saciar a sua fome de música popular brasileira. Enturmou-se com todos os grandes da MPB, como Tom, Chico, Milton, Ney, Caetano, com quem gravou e bordou. Hoje, no entanto, quando vem ao Brasil o que a espanta é o clima beligerante que predomina na classe artística. Ela falou a respeito disso ao 247 em São Paulo, onde prepara um novo espetáculo. E também fala a respeito de uma operação em Portugal semelhante à Lava Jato, que colocou na cadeia um ex-primeiro ministro e o maior banqueiro do país e arranha a imagem do ex-presidente Lula

Há 35 anos na ponte aérea Portugal-Brasil, Eugénia Melo e Castro já perdeu a conta de quantas vezes cruzou o Atlântico, desde a primeira vez, em 1981, para saciar a sua fome de música popular brasileira. Enturmou-se com todos os grandes da MPB, como Tom, Chico, Milton, Ney, Caetano, com quem gravou e bordou. Hoje, no entanto, quando vem ao Brasil o que a espanta é o clima beligerante que predomina na classe artística. Ela falou a respeito disso ao 247 em São Paulo, onde prepara um novo espetáculo. E também fala a respeito de uma operação em Portugal semelhante à Lava Jato, que colocou na cadeia um ex-primeiro ministro e o maior banqueiro do país e arranha a imagem do ex-presidente Lula (Foto: Gisele Federicce)
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Quando você chegou?

Na semana passada. Não, minto. Cheguei na semana passada aqui em São Paulo. Estava fazendo shows. Vim de Portugal dia 20 de setembro.

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Você já estava sabendo da bagunça que estava aqui?

Imagina! Eu estou sabendo da bagunça que está aqui há muito tempo! Não é preciso estar aqui para saber da bagunça. Você sabe o que mais me impressionou? O que mais me tem impressionado, assim, no geral, para mim, que sou uma romântica, uma idealista e uma pessoa que não pode... sou estrangeira...e, portanto, até pela lei eu não posso me manifestar... você sabe que como estrangeira eu não posso me manifestar...

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É mesmo?

Estrangeiros não podem participar em comícios, não podem participar em reuniões, não podem participar em... em nada, não podem opinar. Porque eu não estou no meu país, não tenho nada que me intrometer na política interna do país. Existe até uma lei, a gente pode ser extraditada. Uma coisa que eu não sabia, fiquei sabendo há pouco tempo, os estrangeiros residentes no Brasil ou em qualquer país... por exemplo, os residentes estrangeiros em Portugal não podem interferir também em Portugal em assuntos internos.

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Mas o problema é falar alguma bobagem como propor a invasão do país e tal, bombardear Brasília...

Não. Não pode. Não deve. Se houver uma denúncia, uma encrenca, não sei que, você pode ser posto na fronteira sumariamente. Porque isso faz parte...

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E o que é que lá em Portugal falam daqui?

Deixa eu dizer o que é que mais me impressionou aqui que essa eu acho que posso dizer. Porque me diz respeito. À minha pessoa e ao meu amor pelo Brasil. A divisão e a agressividade que a internet proporcionou às pessoas se manifestarem de uma forma violentíssima, na parte que me tocou, eu vi a MPB estraçalhada e o que me trouxe ao Brasil foi a música, a poesia, a estratégia de amizade e de companheirismo e a criatividade, todo mundo cantando com todo mundo. O que mais me impressionou é: para onde vai a MPB? O que vai acontecer agora que está tudo dividido, todos brigando pra caramba, para onde vão as músicas, as canções, as composições? Tudo bem, há um preço a pagar. Mas essa parte, a arte, os artistas plásticos zangados uns com outros, os cineastas zangados uns com outros, a parte da arte é que mais confusão me faz. Porque a política a gente já sabe como é. Mas os artistas, sempre mesmo com ideias diferentes, houve sempre uma cerimônia, uma elegância, houve uma coisa bonita entre todos. E isso acabou. Há rachas que eu acho que são gravíssimas entre compositores, entre músicos.

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Qual racha, por exemplo?

Eu nem sei! Eu sei que eu vejo as pessoas a degladiarem-se, a ofenderem-se! Pessoas falando em nome de... Também tem disso, uma coisa horrorosa... fulano falou em nome de não sei quem... sicrano...Isso é uma coisa que me assusta muito, porque eu que vim atrás dessa unidade que não existia em Portugal, depois do 25 de abril houve muito sectarismo, as pessoas se separaram, cada um seguiu seu trabalho, e agora que estamos mais unidos em Portugal, já passamos essa fase, eu vim atrás disso para o Brasil também, dessa união que havia aqui. E agora essa união foi pro espaço! Isso me impressionou muito.

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É por isso que está todo mundo meio sumido?

Está. Ninguém quer... as pessoas também se cansaram muito de opinar, de falar coisas que iam ofender outras pessoas. Não está fácil. Na parte das artes, na parte da cultura está muito difícil. Aquilo que fazia a força, a união, as pessoas todas juntas e tal está muito por grupos. Mas muito agressivos. Com uma grande agressividade.

Até campanha para Caetano e Gil não ir a Israel fizeram...

Eu nem assisti a isso...

Isso comandado pelo Roger Waters, não foi artista brasileiro...

Eu não soube disso.

Ele fez campanha para Caetano e Gil não cantarem em Israel por ser supostamente um país da guerra e não da paz, essas maluquices...

Isso é fascismo, é fascismo! Israel também tem pessoas maravilhosas.

Você tem se encontrado com seus ex-parceiros?

Não, não tenho me encontrado. Também porque tenho estado muito em Portugal.

Mais lá do que cá nos últimos tempos?

É assim. Eu venho, lancei um disco infantil em agosto, fiz show no Sesc Pompeia, não sei que, depois voltei para Portugal. E agora vou fazer a "Sereia Portuguesa", que é uma brincadeira, que eu acho que está na hora de agradecer ao Brasil e de responder ao Brasil, porque nos últimos 35 anos eu estou a cantar ouvindo da plateia: "canta 'Nem às paredes confesso'... canta 'Maldição'"... "Maldição" eu sempre cantei... e "Perseguição" também... e a "Maldita cocaína", que eu não vou cantar agora... eu sempre punha alguma coisa de Portugal no meio, mas a minha coisa foi sempre com as apalavras, de fazer a junção Portugal-Brasil, cantar músicas brasileiras à minha maneira. Sempre foi um trabalho de cunho pessoal. E as pessoas me perguntavam: cantora portuguesa? É fadista? E eu: ai, meu Deus... O que você faz? Eu componho com Caetano... gravei com Chico, com Tom Jobim, gravei com Milton, gravei com Adriana Calcanhoto... ah, mas então é o que? É uma coisa meio lá, meio cá, às vezes é disco autoral, às vezes é dueto... Dessa vez eu vou fazer uma coisa com uma enorme responsabilidade para mim que é ser portuguesa. Vou cantar fados. Daí vem a história da sereia. Ah, é, querem que eu seja a portuguesa? Então serei...a portuguesa! Sereia portuguesa! É a sereia da jangada de pedra que está à deriva no Atlântico...Eu comecei nova, com vinte anos, vou fazer 35 anos de carreira...

De onde vêm os Melo e Castro?

Vêm de Serra da Estrela... são cristãos novos... somos parentes do Antônio José da Silva, o Judeu, que era de Belmonte, o reduto mais forte dos judeus de Portugal. Castro é uma conjugação do meu bisavô que era Antônio José da Silva Campos Melo juntou com um Castro alhures e ficou Melo e Castro. Mas somos uma família de judeus não praticantes porque na minha família era proibido falar disso, mas em toda a região da Beira Baixa, dos lanifícios, Cova da Lã, nós tínhamos fábricas... a primeira escola industrial, a Escola Industrial Campos Melo era do meu bisavô, meu pai é engenheiro têxtil, além de poeta concretista, poeta experimental, o maior concretista de Portugal, mora agora aqui em São Paulo, casou com uma senhora brasileira, a maior especialista em Eça de Queiroz e está a fazer um livro maravilhoso sobre Batalha Reis que era o grande escritor junto com Eça de Queiroz e vive no mundo intelectual apenas, mas durante muitos anos exerceu, eu sou provinciana, eu sou covilhã, vivi até os 15 anos subindo e descendo a serra a pé, pedra em pedra, descalça...

A sua família tinha castelos?

Minha família ganhou título de nobreza...

Por quê?

Foi alguém que se notabilizou, meu pai tem o título de visconde...

Você, então, é viscondessa?

Não, minha irmã mais velha. Eu não posso ter o título. Não podem ter duas. Se eu tivesse um filho rapaz o título passaria automaticamente para meu filho. Mas é um título concedido há 300 anos.

Teu pai tem alguma regalia por ser visconde?

Imagina! Não existe a monarquia em Portugal. Mas nós tivemos uma vida muito rica culturalmente. Meu avô era maestro, além de engenheiro-químico, compositor, tocava violino muito bem. Minha avó tocava piano, nós fazíamos saraus e meus pais são escritores, tanto o meu pai quanto a minha mãe. Havia um ambiente intelectual em casa muito forte. A nossa casa era um casarão, um palacete e era um reduto não só de intelectuais, naquela época havia muita perseguição a intelectuais, época de Salazar, tanto que meu pai e minha mãe estava sempre em viagem, pertenceram a todos os movimentos intelectuais, meu avô monárquico, minha avó republicana, meus pais intelectuais e eu e minha irmã bebendo de tudo, por isso eu tenho essa visão tão aberta das coisas. E agora virei sereia.

Seduzindo os incautos marinheiros brasileiros?

Exatamente. Ela é metade mulher, metade peixe, eu também sou metade portuguesa, metade brasileira.

Eu pensei que Portugal e Brasil era tudo igual, brasileiro em Portugal era como português e vice-versa.

Não. Enfrenta as mesmas dificuldades na Polícia Federal aqui e na polícia de estrangeiros lá. Tem alguns acordos empresariais, tem algumas coisas que estão a melhorar, mas é mentira essa história de que somos países irmãos, português no Brasil leva um visto de três meses e depois tem que sair a Buenos Aires, e voltar, e depois tem que ir a Portugal e tem que pedir... é igualzinho como se fosse um dinamarquês.

Mesmo você que toda hora vai e vem?

Não, eu tenho a residência no Brasil desde 1984. Eu sou estrangeira residente no Brasil. Eu faço parte da União Brasileira de Compositores, estou registrada na Ordem dos Músicos Brasileiros, tudo... estou completamente regularizada... eu, se quisesse, eu já poderia pedir dupla nacionalidade, mas é muita papelada, detesto burocracia... para que, se eu me sinto completamente brasileira de coração?... Eu cheguei aqui em 1981... passei pelo Plano Cruzado, pelas Diretas Já, a bomba no Riocentro... por tudo...

Mas uma confusão como a atual você nunca viu ou viu?

Essa agora é mais grave porque... primeiro porque estamos a viver agora. E já temos outra paciência para a baixaria. Nunca tínhamos visto uma baixaria dessas. Assim tão violenta. Em Portugal também estamos a passar uma baixaria.

O José Sócrates continua preso?

Está preso em casa. E o Banco Espírito Santo...

Ele foi acusado do quê?

Desvio... suborno... contas em off-shores, etc... muita falsificação de coisas... abuso de poder, contas em nome de outras pessoas, laranjas, muitas acusações...e muitas ligações com o Brasil... com o mensalão... com o petrolão....tudo misturado com o Banco Espírito Santo, tudo muito confuso...

Tem brasileiros envolvidos com o Sócrates? Lá em Portugal tem uma coisa parecida com a Lava Jato?

Tem muita gente envolvida. Na CPI do Banco Espírito Santo tem dezenas de pessoas envolvidas por causa da venda da Portugal Telecom para a Vivo aqui. O Banco Espírito Santo era a mãe dos bancos. Uma imagem que a gente olhava para aquelas pessoas e achava que não tinham cara de pilantras. Tinham cara de pessoas sérias e devem ter sido. Só que depois as coisas começaram a se complicar e a tentação... o embrulho mundial...os negócios... e Angola entrou na jogada com os diamantes, com o petróleo. Enfim, no que respeita a Portugal, Angola, Brasil, a esse triângulo amoroso, é assustador. Assustador porque não tem uma dimensão explicável. Ninguém sabe muito bem, por mais CPIs que tenham sido feitas, por mais inquéritos, apreensões e buscas, não param de aparecer contas secretas na Suíça... é como aqui! Agora que a Suíça deixou de ser aquele paraíso, o dinheirinho ficava lá escondido ao abrigo da lei do sigilo...e agora acabou isso. Então, as pessoas ficaram tristes. Porque havia uma confiança naquele banco e naquela instituição que estava envolvida com o Banco de Portugal, que é aquela instituição estatal que dava confiança. As pessoas começaram a perceber que não se pode confiar em ninguém, é melhor esconder o dinheiro embaixo do colchão.

As pessoas perderam grana nesse escândalo?

Muita grana! Tem muitas manifestações...

O governo não bancou a quebra?

Não. Já tinha havido um caso anterior com um banco, há três anos, o BPN, que foi à falência, há também os prejudicados do banco BPN... e houve uma coisa muito sacana, que foi um aumento de capital apoiado pelo Banco Espírito Santo para os sócios – "vamos fazer um aumento de capital"? – uma semana antes de cair. Já se sabia tudo o que estava acontecendo e mesmo assim fizeram o movimento de convencer as pessoas de que aquilo era uma coisa sólida. E uma semana depois caiu depois de um aumento brutal de capital e um aumento brutal de injeção de ações. Então, há aqui uma malfeitoria latente. As pessoas estão nas ruas, desesperadas, perderam tudo, tem manifestações, tem pancadaria, polícia de choque, uma coisa que a gente jamais imaginava ver de novo na rua, a polícia de choque, gás lacrimogêneo, confrontos... são coisas que a gente achava que não ia ver nunca mais. Que não condizem com os novos tempos. As pessoas ficaram tristes. A Grécia não deixou a troika entrar para implantar as medidas de austeridade; nós deixamos. Nós vivemos um período em que praticamente todas as empresas portuguesas faliram, a empresa de automóveis faliu, as casas foram tiradas às pessoas que tinham feito empréstimos e não pagaram, os carros, tudo o que está a se passar no Brasil agora, essa abertura que houve de crédito... abriram o crédito ao povo de uma forma irresponsável e não seguraram... as pessoas subiram de vida e agora caíram no abismo...e o conselho que eu dou ao Brasil é: voltem-se para a terra... voltem-se para o seu artesanato, para a sua identidade, para a sua origem. E não contem com os bancos. O nosso governo expulsou tudo o que havia de jovens habilitados com cursos superiores, acabados de formar, o ministro teve a coragem de ir à televisão e dizer: façam a sua vida, se eu tivesse a idade de vocês eu já teria ido embora, saiam da vossa zona de conforto. A zona de conforto era o desemprego. Não havia emprego. Então houve uma saída generalizada para países como o Brasil que abriu os braços para quem? Para uma montanha de arquitetos recém-formados com notas altíssimas, gente qualificadíssima, médicos, engenheiros, enfermeiros, toda espécie de gente recém-formada na casa dos 23, 24, 25 anos muitos até já casados e com filhos, enfim, uma nova imigração. Uma imigração qualificada que foi para o Brasil, para Austrália, a Europa toda, Ásia, para qualquer lugar. Sempre teve portugueses para qualquer lugar que se vá. Você vai para Burma Pagã, tem um português. Tem uma tenda portuguesa, tem uma loja portuguesa. Os portugueses têm essa arte de se infiltrar, de se adaptar perfeitamente. São camaleônicos. Adaptam-se. São persistentes. E revelam-se grandes trabalhadores, excelentes profissionais. E agora inventaram um programa em Portugal que é "jovens, voltem", dando um subsídio que não é nem um décimo do que eles agora estão a ganhar. Então está essa desertificação da juventude ativa portuguesa que fugiu de Portugal. Com o patrocínio do estado! Com o patrocínio quer dizer com um pontapé na bunda do estado! "Ah, se eu tivesse a vossa idade eu era o primeiro a ir embora"! O ministro falou isso na televisão!

Qual ministro?

O ministro da Educação. Ou dos Negócios Estrangeiros. Qualquer ministro desses. Uma besta qualquer. Isso não se diz! É horrível, né? As pessoas, em geral, já não querem ver televisão, não leem jornais, não é que sejam alienados, mas não querem ser contaminados.

Aqui fala-se muito na falta de líderes. E em Portugal?

Não. Essa história de liderança é um papo furado que acabou. Já era. A liderança hoje em dia é comparada a uma ditadura. Mas também não há uma alternativa prática. Como é que vamos dirigir um país só com meios humanos, só com solidariedade, só com empresários, com humanistas, com gestores de organizações solidárias, médicos... como fazer um governo de pessoas que lidam diretamente com os problemas. Fazer uma "mesa" em que cada um teria pastas específicas, o médico ia tratar dos assuntos médicos, o engenheiro das obras públicas e os empresários, do lado empresarial.

O problema é como escolher essas pessoas.

Estão escolhidas, automaticamente. Há muita gente jovem, com muito dinamismo. Elas já existem, são jovens, na casa dos 30 e tal. Por exemplo: nós não temos ministério da Cultura em Portugal. Nós não temos ministério do Turismo. São duas pastas que para Portugal seriam fundamentais. É um país absolutamente privilegiado em relação ao tempo, à beleza, aos lugares encantadores, é um país que fica na cauda da Europa, graças a Deus, agora isso virou-se a nosso favor, estamos lá na cauda da Europa, o que nos dá bom tempo, uma coisa amena, não temos muito frio, não temos muito calor. Não há neve, não há aquela coisa de 20 graus abaixo de zero. Um grau já é o frio máximo. Em Trás-os-Montes dá menos três.

E o que se fala em Portugal a respeito do que está acontecendo no Brasil?

Não é só em Portugal, acho que é no mundo inteiro. O mundo inteiro. É assim, o Brasil faz parte do quotidiano, do imaginário, do fantasioso do mundo. Não é de Portugal. É do mundo. O Brasil tem uma energia e uma magia que foi espalhada durante muitos anos e que é real, que existe, não é à toa que um francês vem aqui ter uma reunião numa empresa, abandona a mulher e os filhos e nunca mais vai embora e vai abrir uma pousada na Bahia. O Brasil tem um componente mágico, avassalador, de sedução. Uma imagem de liberdade, de alegria, essa é a imagem padrão que o Brasil tem. E o Brasil como grande fonte de riqueza... a Amazônia... as praias... a música... o samba. O Brasil é o eldorado do sonho de todas as pessoas. As pessoas dizem tu vais ao Brasil? Uau! Até São Paulo, que é uma cidade que é absolutamente anti turística em termos, assim, crua, os estrangeiros que vêm a São Paulo entendem o circuito das galerias, das artes, dos restaurantes, o circuito mágico que São Paulo pode ter. Agora, essa imagem de corrupção, em termos internacionais, se considerar o crime da Petrobrás como a coisa mais violenta que o mundo já assistiu, isso é péssimo para o Brasil. Péssimo. Eu não sei dizer aqueles quaquilhões todos da Petrobrás! Nem sei o que fazer com tudo isso! Para que essa gente quer tanto dinheiro?! Essa gente vai morrer de câncer, do coração, em dois minutos! Porque as pessoas, que já tinham algum partipris, más experiências... porque é assim: paga um por todos... aparece um empresário bandido que é brasileiro e paga o Brasil inteiro por isso...como quando um português faz um disparate pagam todos os portugueses por isso...a tendência é generalizar mais as desgraças que as alegrias...e, portanto, acho que há um cuidado redobrado em relação ao Brasil neste momento. E essa violência que de repente começou a crescer... essa insegurança...o dólar alto... essa impossibilidade de fazer negócios... isso está muito grave... as pessoas estão apavoradas... os empresários, eu vejo nos colóquios, eu sou uma pessoa muito atenta a isso... mas tu ainda continuas a insistir no Brasil? O que tu vês no Brasil? Mas aquilo não está impossível? Olha, muito cuidado, está muito perigoso. Voltou aquela conversa dos anos 80 que tinha desaparecido completamente. O NY Times traz artigos inacreditáveis sobre o que se passa no Brasil, é uma coisa mundialmente já escrita e reescrita e isso não tirou o encanto que o Brasil tem.

Você acha que o mundo se preocupa com o Brasil?

Há uma preocupação enorme com a Amazônia, com os problemas ecológicos, com as formações climáticas, há imensa preocupação com assuntos que tenham a ver com a confiança no Brasil e com os detalhes ambientais.

Mas os detalhes da política passam ao largo, não é? Os portugueses conhecem Eduardo Cunha e tal?

Não. Os portugueses vão lá saber quem é Eduardo Cunha!? Ele existe, mas é como se não existisse,... é um zero à esquerda...ele é o fait divers... é mais um... sei lá mais quantos outros há...até descobrirem todas as falcatruas que foram feitas...

E qual é a imagem do Lula em Portugal?

Neste momento, como ele esteve muito envolvido com o Sócrates é muito má. Porque ele foi fazer o lançamento do livro do Sócrates... há o problema da Telecom...há o problema de envolvimento do filho do Lula com a Oi... as pessoas estão a questionar... tudo isso é falado...Acho que o Lula está mais condenado lá do que aqui. A imagem dele está completamente comprometida.

Ele tinha uma boa imagem lá?

Tinha. Lá e no mundo inteiro. Porque tinha conseguido trazer o Brasil para um patamar internacional de qualidade, em que as pessoas tinham melhor qualidade de vida... houve um período de Eldorado aqui...e que está totalmente destruída.

Você acha que em outros países há também essa percepção?

Também. Lula perdeu credibilidade e a gente vê isso na cara dele. Ele está triste. Os olhos dele estão pesados. Embora ele seja uma fera política a gente vê que não há ali... passou o tempo! Foi. Ele está sem... Se fosse em Portugal ele já estaria preso!

Mas tem situações concretas de envolvimento dele com Sócrates?

Imagina! Ele fez o prefácio do livro do Sócrates! Foi o Sócrates que escreveu. Completamente envolvido!

Mas há negócios entre eles?

Acho que sim, mas isso eu não posso garantir porque eu não sou dessa área...eu sei o que vejo nos jornais... eu sei que Lula é constantemente citado... aparecem capas de jornais que tem Ricardo Espírito Santo, Sócrates e o Lula...as ligações do Lula com o Banco Espírito Santo...as ligações do Lula com o Sócrates... quer dizer... onde há fumo, há fogo! Eu não sou política, eu não sou expert, mas sei que houve muitas coisas e que é uma traição porque a gente via o Lula como uma oposição inteligente, uma oposição que cresceu e que foi uma festa e é a tal história, eu sou estrangeira, mas eu estava aqui, eu assisti, assim como assisti as Diretas Já, assisti ao Collor, assisti ao impeachment, assisti ao Itamar, ao Fernando Henrique... é uma pena... a ganância é uma coisa terrível!

E sobre a Dilma, o que se fala?

Nada. Nada. Zero à esquerda. Só piadas.

Mas alguma conotação de crime?

Não. Incompetência pura! O foco é o Lula, sem dúvida.

Você acha que ele não poderia circular em Portugal agora?

Ah, não sei... não faço ideia...como tem muitos brasileiros morando em Portugal, isso iria se confundir com uma manifestação brasileira...tem milhares de brasileiros a mudarem-se para Portugal... milhares...todos os dias... vendem tudo aqui e estão comprando casas, apartamentos e se mudando com a família, gato, cachorro, periquito, tudo, desistindo completamente do Brasil. Não só da classe alta, estou a falar de estudantes, pessoas sem recurso nenhum, pessoas empregadas, tudo. Já tem vários tipos de imigração do Brasil para Portugal. Os consulados estão completamente cheios de gente. Há uma debandada geral de gente daqui para lá, que se encheu, se cansou. As pessoas podem entrar e sair livremente do país. Não há controle de fronteiras. O que é bom e é ruim. O grande problema desses políticos... por que é que prenderam o Sócrates, porque mantêm o Ricardo Salgado em prisão domiciliar? O grande perigo, aos olhos das autoridades é que eles fujam, porque é facílimo fugir! Basta ir de carro a Paris! A Madri! Nunca mais o encontram! Nossa polícia é muito boa, está muito bem, houve um grande investimento na Polícia Judiciária. Tem juízes muito fortes também, pessoas com muita coragem. Agora com esses escândalos todos toda gente se sente sob escuta. É um outro tipo de ditadura, outro tipo de falta de liberdade. Pagam os justos pelos pecadores. A gente fica sem saber se as nossas conversas estão a ser ouvidas. Há uma paranoia generalizada também em relação a isso. Tudo pode. Muitas escutas. Escutas autorizadas, escutas não autorizadas. Essa guerra das escutas em Portugal é uma coisa antiga. O que foi autorizado... o que foi destruído... o que foi queimado. O que foi fingido que foi destruído. É um momento muito difícil. Mas, quem não deve não teme.

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