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Exibição do filme Persépolis na TV pode dar cadeia na Tunísia

Desenho iraniano mostra personificao de Al, o que proibido por algumas correntes islmicas

Exibição do filme Persépolis na TV pode dar cadeia na Tunísia (Foto: Divulgação)

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João Novaes _Opera Mundi - O processo judicial contra o empresário tunisiano Nabil Karoui, diretor do canal de televisão local Nessma, tem provocado controvérsia no país norte-africano por colocar em dúvida a liberdade de expressão após a queda da ditadura do ex-presidente Zine el Abidine Ben Ali, primeiro líder deposto pela Primavera Árabe, ocorrida em janeiro de 2011.

Karoui é acusado por “ataque aos valores sagrados” ao ter permitido a exibição da animação de longa-metragem franco-iraniana Persépolis, adaptação da história em quadrinhos do mesmo nome que conta a autobiografia da escritora Marjane Satrapi. A controvérsia gira em torno principalmente de cenas em que aparecem personificações de Alá, ato considerado profano segundo correntes islâmicas. Ele pode pegar até três anos de prisão.

O processo contra Karoui foi retomado na última quinta-feira (19/04), em Túnis, sob um clima tenso. Nos arredores do tribunal, uma multidão era dividida entre, de um lado, grupos laicos defensores da liberdade de expressão e, de outro, religiosos pró-valores islâmicos.

O filme foi exibido na TV em outubro de 2011 e, no dia seguinte, uma série de manifestantes islâmicos protestava em frente do canal e da casa do diretor. Alguns manifestantes pediam sua execução. O veredicto está programado para ser divulgado no dia 3 de maio. A imprensa local apóia o empresário.

A cena que gerou polêmica coloca a autora, ainda pequena conversando com Deus

Esse caso se assemelha a outra decisão judicial tomada no início do mês, quando dois blogueiros tunisianos ateus foram condenados a sete anos e meio de prisão e seiscentos euros de multa por terem postado caricaturas do profeta Maomé, o que também é considerado um ato profano. Processos judiciais dessa natureza se multiplicaram depois da queda de Ben Ali.

O filme Persépolis (antigo nome oficial de Teerã) relata a versão da autora, que atualmente reside na Europa, sobre o período pós- Revolução Islâmica. Em uma determinada cena, Marjane, ainda criança, começa a conversar com Deus, personificado na figura de Alá. Para o grupo de mais 400 advogados que pedem a punição do diretor, a personificação por si só já é uma blasfêmia, mesmo que não tenha intenção pejorativa.

Segundo Chokri Belaïd, advogado de defesa e líder do Watad (sigla em árabe para Movimento dos Patriotas Democratas), o filme já havia sido exibido nos cinemas após uma autorização oficial de uma comissão governamental. Para ele, “trata-se de um processo político e que poderá ser marcante na história da justiça tunisiana. Querem fazer da Tunísia um novo Afeganistão impondo o retorno da repressão ideológica e política”, afirmou.

Desde janeiro, o Al Nahda, partido político majoritário do novo governo e de orientação salafista moderada manifestou “seu compromisso com a liberdade de expressão como valor indivisível dos Direitos Humanos” e já afirmou publicamente que as perseguições judiciais contra Karoui em razão do filme Persépolis “não são a melhor solução”.

Em um comunicado emitido na sexta-feira a Anistia Internacional afirma que este processo coloca em foco a liberdade de expressão na Tunísia, manifestação que já havia sido feita em janeiro pelo Repórteres Sem Fronteiras – que afirma que essas perseguições só evoluíram após a queda de Ben Ali.

 

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