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    Flip antropófaga

    Tendo o escritor modernista Oswald de Andrade como homenageado, comea nesta quarta-feira 6 a nona edio da grande festa literria nacional de Paraty, com a participao de mais de 30 autores de todo o mundo

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    247 - Principal agitador cultural do início do Modernismo no Brasil, Oswald de Andrade (1890-1954) foi autor do Manifesto Antropófago em 1928 em que definia a antropofagia como uma forma de canibalismo cultural, em que a colônia devora o seu colonizador para se fortalecer, crescer e formar sua identidade. Na época, Oswald usou em tom humorístico a figura do Bispo Sardinha para assinar o manifesto -- referência ao religioso que teria sido canibalizado por índios no passado, fato que a moderna historiografia nunca confirmou ser verdade. Para agradar ao seu homenageado, a nova edição da Festa Literária Internacional de Paraty preparou um verdadeiro banquete literário com a participação de 30 escritores de diversos países a partir da quarta-feira 6. Um prato cheio para que latinos, norte-americanos, africanos, europeus e brasileiros “devorem-se” uns aos outros em colóquios, debates, mesas redondas e vídeos em uma centena de eventos programados para acontecerem em cinco dias. Tecnológica, a festa poderá ser acompanhada em tempo real por um aplicativo gratuito criado para os iPhones.

    Um dos destaques da abertura da Flip é a presença do prestigiado crítico literário Antonio Candido, 93 anos, que falará sobre Oswald com participação do músico e professor José Miguel Wisnick. Após o colóquio, haverá show de Elza Soares. O encerramento no domingo 10 contará com um espetáculo mais que apropriado para o momento: “Macumba antropófaga”, com o Teatro Oficina Uzyna Uzona, comandado pelo dramaturgo Zé Celso Martinez Correa, responsável por adaptar o universo do autor à linguagem teatral com a peça “O rei da vela”, na década de 1960. Entre os novidades promissores da literatura internacional estão a argentina Pola Oloixarac, que vem ao país lançar o seu romance de estreia As Teorias Selvagens, que vai debater com o angolano Valter Hugo Mãe, autor de “a máquina de fazer espanhóis”, seu primeiro romance. Os grandes destaques internacionais são o escritor britânico James Ellroy, autor de livros que foram adaptados para o cinema como “Los Angeles, cidade proibida”, o cultuado quadrinista Joe Sacco, autor do HQs “Palestina” e o músico, ativista ambiental e artista multimídia David Byrne, fundador do grupo Talking Heads, que está lançado livro sobre o uso de bicicletas como solução para a crise de transportes e qualidade de vida nos centros urbanos.

    Emmanuel Carrère

    Convidado da 9.ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), onde participa da mesa Laços de Família, na sexta-feira, às 15 h ao lado do escritor húngaro Péter Esterházy, o francês Emmanuel Carrère lança logo após o encontro "Outras Vidas Que Não a Minha" (224 págs., R$ 36,90) e relança um livro que reúne dois romances seus numa edição única, "O Bigode" e "A Colônia de Férias" (Editora Alfaguara, 264 págs., R$ 39,90).

    No primeiro, escrito em 1986 e há muito fora de catálogo, Carrère conta a história de um homem que decide raspar o bigode e mergulha numa crise de identidade com a falta dele. No segundo lançado em 1995 e também há anos sem nova publicação, um menino solitário e com problemas familiares enfrenta sua insegurança durante uma excursão de inverno de sua escola. Em ambos os livros, o estilo literário de Carrère é bem diferente daquele que viria a adotar na década passada, da qual o mais representativo exemplar talvez seja mesmo o perturbador "O Adversário", lançado em 2000 pela Record e transformado dois anos depois em filme dirigido por Nicole Garcia, indicado para a Palma de Ouro em Cannes.

    Sobre o personagem (real) do filme, o impostor Jean-Claude Roman que se fez passar por médico e, em 1993, matou a família - a mulher, os filhos e seus pais - quando o escândalo ameaçou vir à tona, Carrère, revelou não ter mais contato com ele, recusando-se a admitir que Roman sofra de alguma doença mental. "Talvez seja apenas um grande depressivo", arriscou Carrère, que realizou sobre ele uma reportagem semelhante à investigação de Truman Capote sobre um dos autores da chacina ocorrida em 1966 no Estado do Kansas, EUA, retratado no livro "A Sangue Frio". Carrère entrevistou pessoas próximas a Roman e trocou cartas com o falso médico, interpretado no cinema por Daniel Auteuil, que vive o drama de levar adiante uma história falsa sobre sua vida profissional, até não suportar mais o peso de sua invenção. Ele enganou a família e seus amigos por 18 anos, fingindo ser um pesquisador de sucesso da Organização Mundial de Saúde, usando informações acessíveis da entidade e viajando ocasionalmente para evitar suspeitas.

    Carrère não esconde certo fascínio por personagens excêntricos. Fez do cineasta alemão Werner Herzog um deles no livro que leva o nome do diretor, quando era crítico de cinema, elegendo a si mesmo como protagonista de seu "Um Romance Russo". Nesse livro, de 2003, ele vai atrás de um prisioneiro húngaro esquecido desde a 2.ª Guerra num hospital psiquiátrico russo, o que o obrigou a retomar contato com a língua da mãe e do avô. Mas, por que esse interesse particular em doentes mentais? "A loucura sempre teve qualquer coisa de fascinante para mim, mas essa fascinação tem diminuído com o tempo, penso." No mais recente livro seu lançado aqui, "Outras Vidas Que Não a Minha", seus personagens perdem literalmente o pé em condições catastróficas. São duas histórias que se complementam, as duas tendo Carrère como testemunha: na primeira, uma menina francesa, que viajava com os pais, morre no tsunami que atingiu o Sri Lanka há sete anos. Na segunda, ele acompanha a agonia de uma juíza, mãe de dois filhos, vítima de câncer. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

     

    fonte: Agência Estado

    Confira a seguir a programação principal da 9ª Flip:

     

    Quarta-feira, 6 de julho

    19h - Conferência de abertura

    Oswald de Andrade: devoração e mobilidade

    Antonio Candido

    José Miguel Wisnik

    21h30 - Show de abertura

    Zé e Celso + Elza

    José Miguel Wisnik

    Celso Sim

    Elza Soares

     

    Quinta-feira, 7 de julho

    10h - Mesa Zé Kleber - A escrita e o território

    Michèle Petit

    Dominique Gauzin-Müller

    Marie Ange Bordas

    mediação: Alberto Martins

    12h - Mesa 1 - Lírica crítica

    Carol Ann Duffy

    Paulo Henriques Britto

    mediação: Liz Calder

    15h - Mesa 2 - Marco zero modernista

    Gonzalo Aguilar

    Marcia Camargos

    mediação: Marcos Augusto Gonçalves

    17h15 - Mesa 3 - Ficções da diáspora

    Caryl Phillips

    Kamila Shamsie

    mediação: Ángel Gurría-Quintana

    19h30 - Mesa 4 - O humano além do humano

    Miguel Nicolelis

    Luiz Felipe Pondé

    mediação: Laura Greenhalgh

     

    Sexta-feira, 8 de julho

    10h - Mesa 5 - Viagens literárias

    Andrés Neuman

    Michael Sledge

    mediação: Claudiney Ferreira

    12h - Mesa 6 - Pontos de fuga

    Pola Oloixarac

    valter hugo mãe

    mediação: Ángel Gurría-Quintana

    15h - Mesa 7 - Laços de família

    Péter Esterházy

    Emmanuel Carrère

    mediação: Paulo Schiller

    17h15 - Mesa 8 - Ficções da crônica

    Contardo Calligaris

    Ignácio de Loyola Brandão

    19h30 - Mesa 9 - A ética da representação

    Claude Lanzmann

    mediação: Márcio Seligmann-Silva

     

    Sábado, 9 de julho

    10h - Mesa 10 - No calor da hora

    Enrique Krauze

    John Freeman

    mediação: João Cezar de Castro Rocha

    12h - Mesa 11 - A história em HQ

    Joe Sacco

    mediação: Alexandre Agabiti Fernandez

    15h - Mesa 12 - Ficção entre escombros

    Marcelo Ferroni

    Edney Silvestre

    Teixeira Coelho

    mediação: Claudiney Ferreira

    17h15 - Mesa 13 - Alegorias da ilha Brasil

    João Ubaldo Ribeiro

    mediação: Rodrigo Lacerda

    19h30 - Mesa 14 - Lugares escuros

    James Ellroy

    mediação: Arthur Dapieve

     

    Domingo, 10 de julho

    10h - Mesa 15 - Pensamento canibal

    Eduardo Sterzi

    João Cezar de Castro Rocha

    mediação: Manuel da Costa Pinto

    11h45 - Mesa 16 - Tour dos trópicos

    David Byrne

    Eduardo Vasconcellos

    mediação: Alexandre Agabiti Fernandez

    14h30 - Mesa 17 - Em nome do pai

    Laura Restrepo

    Héctor Abad

    mediação: Ángel Gurría-Quintana

    16h30 - Mesa 18 - "Macumba antropófaga" com leituras de livros de cabeceira

    Teatro Oficina Uzyna Uzona

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