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Gays ganham mais espaço na tevê

Trama das 21h, da Globo, contabiliza seis personagens homossexuais simultaneamente; autor de Insensato Corao revela que gays fazem parte de uma ao contra homofobia

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Diego Palmieri, especial para o 247 - Apesar de ter calejado para atingir a média de 39 pontos no Ibope (com pico de 42), na Grande São Paulo, a novela “Insensato Coração” (Globo) é prova de que, para entrar para a história, é preciso obter mais do que bons índices de audiência. Na semana em que o Brasil comemora os 15 anos da Parada Gay mais lotada do mundo, seus telespectadores tentam compreender as tramas da maior concentração simultânea de personagens gays em uma única novela, dos últimos anos.

Na trama de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, Eduardo (Rodrigo Andrade), Hugo (Marcos Damigo), Roni (Leonardo Miggiorin), Nelson (Edson Fieschi), Xicão (Wendell Bendelack) e seu namorado podem não fazer parte do mesmo núcleo, mas vivem se esbarrando e provocando conflitos que colocam em pauta a homossexualidade. Nas próximas semanas, por exemplo, Eduardo ficará arrasado ao revelar para sua mãe, Sueli (Louise Cardoso), que é gay. “Filho gay eu não admito”, deverá dizer a personagem que sempre defendeu a liberdade sexual.

A quantidade considerável de homossexuais nas telenovelas brasileiras --o SBT exibe personagens gays em “Amor e Revolução”, e Record não se esquiva do tema em suas atrações-- vem chamando a atenção de especialistas em TV. “Não vejo como uma exigência do ‘politicamente correto’ nem uma conscientização dos autores. A sociedade evoluiu, e as telenovelas sentem a necessidade de acompanhar essa evolução, trazendo à tona notícias e fatos em voga, seja para informar, conscientizar ou gerar discussão”, analisa Nilson Xavier, autor do "Almanaque da Telenovela Brasileira" e criador do site Teledramaturgia.

Para Claudino Mayer, pesquisador em dramaturgia da USP e autor do livro “Quem Matou... o Romance Policial na Telenovela”, trata-se de uma necessidade de mercado. “As novelas são feitas para atender um mercado. Portanto, precisam representar a sociedade que faz esse mercado”, afirma. O estudioso também chama a atenção para a evolução na construção de personagens gays. “Cada autor, durante os últimos anos, trouxe alguma mudança. No começo, o homossexual era mais estereotipado ou não saía do armário, por exemplo. Hoje ele já namora e tem família, profissão e um núcleo na trama.”

Para promover esta ação de marketing social, como é chamado o movimento que os autores fazem para colocar determinado tema social em discussão na TV, Gilberto Braga afirma não ter dificuldade. “Não é muito difícil. Sou gay, tenho muitos amigos gays e, acho que, por isso, os rapazes saem bem naturais”, confessa. Ainda de acordo com ele, “o homossexualismo aparece em todas as camadas da nossa sociedade, e as novelas refletem isso”.

Apesar de fazer mistério sobre as atitudes preconceituosas de Sueli e não revelar detalhes sobre a união entre Eduardo e Hugo, que poderá reproduzir nas telas a recente a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) em reconhecer a união homoafetiva como família, Gilberto revela que novos conflitos sobre o tema ainda estão previstos. “É o início de uma longa ação que vamos fazer sobre homofobia”, adianta.

O novelista também não faz nenhuma menção sobre o aguardado beijo gay masculino em novelas da Globo. Para Claudino, isso ainda deverá demorar muito. “Acredito que os telespectadores das novelas da emissora, em geral, ainda não estão preparados, e a Globo prefere não arriscar só para chocar. Aos poucos, eles vão preparando esse terreno. No SBT [que recentemente exibiu um beijo lésbico e poderá exibir outro entre dois homens, na novela “Amor e Revolução”], isso pode porque eles não têm tradição em novelas. Dessa forma, lá pode de tudo! Nem a Record deverá fazer isso tão cedo. É um processo que, aos poucos, está evoluindo muito bem”, conclui.

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