Günter Grass se defende contra "ódio atentatório sem igual"
Escritor alemo e prmio Nobel rebate acusaes de antissemitismo causadas por poema em que critica Israel
247 - Em entrevistas concedidas à mídia alemã, o escritor e Nobel de Literatura Günter Grass se defendeu das acusações de que seria antissemita e tentou rebater a avalanche de críticas que vem recebendo, ao longo da semana, desde a publicação do controverso poema em que diz que Israel ameaça a paz mundial. Em declarações publicadas pelo site da Deutsche Welle, o escritor alemão admite ter errado, mas não ameniza o tom. Diz que já previa a reação pelo que escreveu -- "velhos clichês", provoca -- e afirma ser ele mesmo um alvo de ódio.
Leia o controverso poema e veja, abaixo, a íntegra da matéria da DW.
Um polêmico poema afirmando que Israel põe em risco a paz mundial rendeu ao escritor alemão duras críticas. Na sequência, o autor defendeu-se em entrevistas concedidas à mídia alemã, dizendo sentir-se ridicularizado.
O escritor e Prêmio Nobel de Literatura Günter Grass ganhou destaque nas mídias alemã e internacional desde a publicação de seu poema Was gesagt werden muss (O que precisa ser dito, em tradução livre) na última quarta-feira. Em diversas entrevistas concedidas nesta quinta-feira (05/04), Grass defendeu-se das acusações de retrógrado e antissemita.
No poema de 388 palavras, o autor afirma que a potência nuclear Israel ameaça a frágil paz mundial. Após duras críticas depois da publicação, Grass disse sentir-se ofendido e ridicularizado pela imprensa alemã. O escritor de 84 anos de idade declarou à emissora alemã NDR ter previsto que seria rotulado como antissemita. "Trata-se de velhos clichês. Falou-se imediatamente, como era de se esperar, no termo antissemitismo."
Em toda a sua obra literária, o escritor discute o passado alemão, defendeu-se Grass em entrevista ao canal de televisão 3sat. "Em meus livros Die Blechtrommel [O tambor, na tradução brasileira] (1959) e Beim Häuten der Zwiebel [Nas peles da cebola] (2006) está presente o peso da minha geração, a discussão sobre os crimes de responsabilidade dos alemães. E, por isso, essa acusação de antissemitismo é de um ódio atentatório sem igual", declarou.
Olhar crítico
Grass admite ter errado ao falar em seu poema de Israel como um todo e não do governo israelense concretamente. Ele enfatiza sua simpatia pelo país, mas expressa preocupação sobre seu desenvolvimento. Um ataque preventivo contra o Irã poderia provocar um acidente nuclear ou até mesmo uma Terceira Guerra Mundial.
"Essa não é simplesmente uma pequena ação militar. Não é como se alguns mísseis fossem disparados e houvesse apenas algumas mortes, como afirmaram o senhor Barak [presidente dos EUA] e Netanyahu [primeiro-ministro israelense]. Trata-se de uma ação militar que terá consequências. A situação está se agravando. O perigo de operações de guerra em seguida é cada vez maior", considerou Grass.
O escritor também se mantém firme na crítica ao governo alemão, que, segundo Grass, coloca em prática "uma reparação hipócrita" ao fornecer e financiar uma parte dos custos de submarinos a Israel. Três dessas embarcações já estão operando e duas outras deverão ser entregues até o fim de 2012. Em março deste ano, acordou-se sobre o fornecimento de um sexto submarino, que terá um terço de seus custos bancado pela Alemanha.
Alerta de Grass
Esses submarinos podem ser equipados com torpedos convencionais e também com ogivas nucleares. "Assim, nos tornamos corresponsáveis", afirma Grass. O escritor alerta também sobre o crescente isolamento da Alemanha em termos diplomáticos.
"Após as experiências da Segunda Guerra Mundial, temos nos esforçado até agora para tentar manter diálogos e negociações. Tais tentativas também estão em curso com o governo de Israel. Essa autocracia, decidir por si mesmo não importa o que os outros digam, é uma ruptura com a tática até então bem sucedida: enquanto se dialoga, não se dispara", diz.
Grass vê como uma obrigação lançar um olhar crítico sobre Israel. Para o autor, não se pode poupar o país. Isso seria "covardia diante dos amigos", citando as palavras do ex-chanceler federal alemão dos tempos da Guerra Fria, Willy Brandt.
Defesa israelense
Em Israel, não houve grande alvoroço sobre o poema de Grass, relata o jornalista e historiador Tom Segev, de Jerusalém. Pessoalmente, ele considera a obra "terrivelmente vã" e "embaraçosa". A comparação ente Israel e Irã distorce os fatos, diz. "É fato que o Irã ameaça destruir Israel, mas Israel nunca teve a intenção de destruir país algum."
Para Segev, Grass não é, porém, nem antissemita nem anti-israelense. "É legítimo criticar Israel, também na Alemanha. Às vezes é até mesmo necessário. Com relação à opressão dos palestinos, a crítica de fora é muito importante. Direitos humanos em um país só podem ser realmente defendidos de fora", opina o jornalista.
Há poucos meses, Segev fez uma visita a Grass. Ele gostaria que o Prêmio Nobel fizesse melhor uso "das últimas gotas de sua tinta" – como escreveu o poeta em um dos versos de seu polêmico poema –, escrevendo um belo romance.
Autora: Claudia Hennen (lpf)
Revisão: Carlos Albuquerque
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