Jean-Claude Bernardet morre aos 88 anos e deixa legado decisivo para o cinema brasileiro
Crítico e intelectual foi figura central da crítica cinematográfica no país e autor de obras fundamentais que conectaram cinema, política e sociedade
247 - Morreu na manhã deste sábado (12), em São Paulo, o crítico, professor e intelectual Jean-Claude Bernardet, aos 88 anos. Segundo informou o cineasta Fábio Rogério, que o acompanhava no Hospital Samaritano, a causa da morte ainda não foi divulgada. O velório será realizado na Cinemateca Brasileira, com detalhes a serem anunciados. A informação foi publicada originalmente pela Folha de S.Paulo.
Nascido na Bélgica, em 1936, Bernardet naturalizou-se brasileiro em 1964 e construiu uma das trajetórias mais influentes da crítica cinematográfica do país. Foi professor da USP, militante de esquerda cassado pelo AI-5 e autor de obras de referência como Brasil em Tempo de Cinema (1967) e Cineastas e Imagens do Povo (1985), que colocaram o cinema brasileiro em debate com a sociedade. “Jean-Claude produziu talvez a melhor crítica do cinema brasileiro da sua geração”, afirmou o professor Mateus Araújo, da ECA-USP.
Apaixonado pelo presente, como ele mesmo se definia, Bernardet transitou entre a crítica, o ensino, a atuação e a direção. Em 2008, surpreendeu ao vencer o prêmio de melhor ator no Festival de Brasília por FilmeFobia, de Kiko Goifman. Sua atuação nos bastidores também foi decisiva: em 1965, integrou o grupo que fundou o curso de cinema da Universidade de Brasília ao lado de nomes como Paulo Emílio Sales Gomes e Nelson Pereira dos Santos.
Nos últimos anos, enfrentava uma série de problemas de saúde: convivia com HIV, um câncer de próstata e uma degeneração ocular. Recusou tratamento quimioterápico por considerar agressivos os efeitos colaterais. Em O Corpo Crítico (2021), criticou duramente a lógica da medicina terminal: “Vivo num clima de morte, respiro a morte. [...] A opressão me sufoca”.
Jean-Claude Bernardet deixa uma filha, Lígia, fruto de seu casamento com Lucila Ribeiro. Seu pensamento segue vivo como referência incontornável para quem busca compreender o cinema brasileiro não apenas como arte, mas como instrumento de reflexão e transformação social.
