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    "Juan dos Mortos" faz graça com política em Cuba

    Crítica implícita no segundo longa-metragem do diretor argentino criado em Cuba Alejandro Brugués não traz uma percepção apenas negativa da vida na ilha; ele usa o humor para mostrar um personagem que representa o homem comum dentro de seu contexto, agora fantástico; quem são os zumbis ou mesmo o que simboliza seu anti-herói são questões a serem interpretadas pelo espectador

    "Juan dos Mortos" faz graça com política em Cuba (Foto: Divulgação)

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    SÃO PAULO, 20 Jun (Reuters) - O diretor argentino criado em Cuba Alejandro Brugués não faz de "Juan dos Mortos" uma mera paródia de filmes de zumbis, como se poderia sugerir. Ele usa a comédia e o terror como formas de expressão satírica à situação econômica e social de Cuba. O filme estreia apenas em São Paulo.

    Mas a crítica implícita no segundo longa-metragem deste cineasta não traz uma percepção apenas negativa da vida na ilha. Usa-se o humor para mostrar um personagem que representa o homem comum dentro de seu contexto, agora fantástico. Quem são os zumbis ou mesmo o que simboliza seu anti-herói são questões a serem interpretadas pelo espectador.

    O Juan (Alexis Díaz de Villegas) do título é um quarentão sem muitas perspectivas, que vive de pequenos expedientes com seu amigo Lazaro (Jorge Molina). Quando, em um dia de pesca, encontram um zumbi flutuando em mar aberto (detalhe: com uniforme similar aos usados pelos prisioneiros de Guantánamo), a história e a crítica começam a entrar nos eixos.

    Mais tarde, a dupla percebe que as ruas de Havana estão tomadas por mortos-vivos, por mais que a TV estatal afirme que se tratam de dissidentes antissocialistas em conluio com os Estados Unidos. Com a ajuda de uma trupe de desastrados, veem na situação uma oportunidade de ganhar um dinheiro: cobrar das pessoas para livrá-las dos zumbis de suas casas que, no fim, nada mais são do que seus parentes, tornados indesejáveis.

    Apesar de sugerir, Brugués não está interessado em explicar a origem desses zumbis ou se a invasão é apenas restrita à ilha. O roteiro tem como foco os conflitos do protagonista, aproveitando-se da excepcional verve cômica de Díaz de Villega - que aliás, é professor de interpretação naquele país.

    Juan, como o próprio se julga, é um sobrevivente das intempéries políticas e sociais da história de Cuba. Por meio de seus parceiros, que inclui aí sua filha Camila (Andrea Duro), que volta para casa devido à crise econômica espanhola, o espectador ganha um mosaico bem-humorado da população.

    Juan dos Mortos levou o prêmio de melhor filme iberoamericano no Goya, em 2013, batendo os favoritos, como a produção argentino-brasileira-espanhola "Infância Clandestina" (de Benjamin Avila, 2011) e a mexicana "Depois de Lúcia" (de Michel Franco, 2012). Uma façanha para uma obra de terror que intencionalmente brinca com o trash.

    Brugués apropria-se não apenas dos personagens-coqueluche de George A. Romero (a partir do clássico A Noite dos Mortos-Vivos, 1968), mas também de sua preocupação em discutir temas sociais. Ao mesmo tempo, entretém o público com a comédia, tal como fez brilhantemente a paródia "Todo Mundo Quase Morto" (do inglês Edgar Wright, 2004), que passou despercebida pelos cinemas brasileiros, chegando diretamente ao DVD.

    Os zumbis de "Juan dos Mortos" são tão cômicos quanto os personagens que os enfrentam. Pode parecer um filme menor, mas é cinemão com muita graça.

    (Por Rodrigo Zavala, do Cineweb)

    * As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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