Kate e o mito de Cinderela

Gisele Federicce_247 – Cinderela. Uma garota que, apesar de ser filha de um comerciante rico, fica órfã e passa a ser maltratada pela madrasta e suas duas filhas, que a transformam numa serviçal. Ela tem como único refúgio o sótão de sua casa e, como únicos amigos, os animais da floresta. Um dia, é convidada para uma festa e, para surpresa de todos, escolhida para ser esposa do príncipe. Eis aí um mito que arrebata multidões desde que o mundo é mundo. Há relatos de uma história da tradição oral chinesa já narrada oito séculos antes de Cristo, bem antes do conto italiano A Gata Borralheira e da história dos irmãos Grimm, que inspirou Walt Disney num clássico do cinema. Enfim, toda mulher, pobre, rica, branca ou negra, sonha com seu príncipe encantado. Poucas chegam lá, é verdade. Por isso mesmo, o “casamento do século”, entre o príncipe William e a plebeia Kate Middleton, no próximo dia 29, será assistido por 2 bilhões de pessoas, com transmissão direta pelo YouTube.

Mas quem é mesmo Kate Middleton? Uma Cinderela moderna ou uma alpinista social que fez de tudo para conseguir o “emprego” de rainha da Inglaterra? O fato é que seu enlace com o príncipe William não é fruto apenas do acaso, do destino ou daquilo que alguns definem como amor. Desde a infância, como todas as meninas, ela sonhava com a chegada de um príncipe encantado. No caso dela, ele já tinha nome e rosto formado: era William. A garota tinha uma foto do primogênito do príncipe Charles e Lady Di em seu quarto. Quando acabou o Ensino Médio, correu para se matricular na Universidade Saint Andrews, em 2001, a mesma onde William já estudava.

A primeira vez que William prestou atenção em Kate na Universidade foi durante um desfile de moda que buscava arrecadar fundos de caridade. Ela apareceu em sua frente com uma roupa bastante transparente e um sutiã preto à mostra. Em pouco tempo, laçou o príncipe e, depois de um ano de namoro, já moravam juntos no apartamento de William, na Clarence House. A história já rendeu inclusive o livro “William e Kate: Uma Verdadeira História de Amor”.

A entrada de Kate no mundo dos vestidos chiques e das joias – o anel de noivado que ganhou de William é feito com uma pedra de safira oval de 18 quilates, o mesmo usado por Diana – é a concretização de um ensaio praticado por anos. A tão admirada postura elegante da dama diante da imprensa e em eventos públicos e sua segurança em escolher um estilo próprio para seus vestidos – invejados por moças do mundo inteiro – é visto por alguns como um charme de espontaneidade. Mas tudo na vida dela foi bem planejado. Quase que milimetricamente arquitetado. Aliás, um vício de família.

A escalada social dos Middleton

Não foi apenas a namorada de William que investiu em relacionamentos para ascender socialmente. A mãe de Kate, Carole Middleton, também já foi descrita pelos tabloides ingleses como uma “feroz social climber”, ou “alpinista social”, como é falado no Brasil. Sua interferência no namoro da filha é tão frequente que, em 2007, em um dos vai-e-volta do relacionamento entre Kate e William, Carole foi o tema central, acusada por um tabloide inglês de ter tido grande responsabilidade pelo término temporário do casal.

À época, a ex-aeromoça de Berkshire – condado localizado no sudeste da Inglaterra – foi descrita como alguém que teve seu “projeto” destruído, em referência aos planos que construiu para que a filha entrasse na família real. Conhecidos de Carole falaram inclusive à imprensa inglesa que ela poderia ser considerada uma pessoa com mestrado em “engenharia social”, tamanhos seus esforços em manter relações com pessoas importantes.

O problema dos Middleton não se limita a Carole. Os irmãos de Kate, James e Pippa, já foram acusados no passado de usarem o sucesso da irmã para promoverem seus interesses nos negócios. Outra denúncia é feita aos pais, Carole e Michael, por faturarem milhões de um negócio voltado a festas infantis. Sem contar as demonstrações de entusiasmo da família pelo fato de Kate ter alcançado o atual status, principalmente depois do anúncio do casamento.

Em uma declaração conjunta com o marido, feita em novembro de 2010, Carole disse: “Como todos vocês sabem, Catherine e o príncipe William têm saído juntos por alguns anos, o que tem sido ótimo para nós porque passamos a conhecer o William muito bem”. Por esses e outros motivos, enquanto Kate é tida como a querida namorada do neto pela Rainha Elizabeth II, a mãe da moça recebe menos admiração no Castelo de Windsor.

As atitudes dos Middleton – em especial da mãe – estão sob a lupa da imprensa inglesa e, as gafes, marcadas a ferro e fogo na memória de cada um. Carole já foi acusada de estar mascando chiclete (de nicotina) durante um desfile da Academia Militar de Sundhurst, a qual o príncipe William participava, em 2006. E ter dito “Prazer em conhecê-la” ao invés de “Olá, madame”, quando foi apresentada à rainha, considerado o maior pecado de todos. Para os fãs assíduos da família real e os jornais que adoram fofocas sociais, as ações só reforçam as origens de Carole e sua família de classe-média.

Os jornais já compararam a sogra do príncipe à esnobe e insistente alpinista social Hyacinth Bucket, protagonista da série da BBC “Mantendo as Aparências”. Apesar de ser de uma família operária, Hyacinth não desiste de conseguir uma ascensão social ou de esconder suas verdadeiras origens, mas sempre sem sucesso. Agora que a filha de Carole se casará com o futuro rei da Inglaterra, passa a ser imprópria para o papel.

Mas afinal, por qual motivo um casamento real movimenta multidões, causando tanta euforia em dezenas de países e detalhes de tudo o que envolve o casal e a festa no Palácio de Buckingham? A resposta mais óbvia seria porque todas as mulheres têm o sonho de encontrar seu príncipe encantado, que chegará um dia em um cavalo branco. Kate Middleton realizará o seu, mas para isso, teve de se esforçar muito. E não há garantia nenhuma de que serão felizes para sempre.

Assista agora a um vídeo sobre a "história real" de Kate, muito assistido no YouTube: