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Cultura

Lobão

A capacidade de reinvenção do ícone pop mais polêmico da nossa geração

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Eu era ainda criança quando vi na tv um cara de cabelos longos e óculos escuros. Empunhava uma guitarra preta e cantava músicas que me surpreendiam, aliando estética musical, letras poéticas e uma emoção verdadeira. Foi assim que conheci a música de João Luiz Woerdenbag Filho, o Lobão.

Continuei a acompanhar a produção musical daquele lobo, além de todas as notícias polêmicas que permeavam sua trajetória. Enquanto um coro de “Lobão é mal” ganhava força na mídia, eu me encantava cada vez mais com sua obra, pois não conseguia acreditar na “maldade” imposta àquele que, por essa época, já se tornara uma referência musical para mim. Como alguém poderia escrever canções como “Chorando no Campo”, “Noite e Dia”, “Vida Louca Vida”, “Essa Noite Não” e ser, ao mesmo tempo, um grande vilão? Eu não assimilava.

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Daquela primeira impressão na imagem da tv para cá, passaram-se vinte anos. Nesse meio tempo, Lobão foi vaiado no Rock in Rio, preso, perseguido em liberdade, teve turnês inteiras sabotadas e grande parte da sua obra colocada na geladeira por duas décadas pela gravadora. Mas o que poderia soar como um ultimato para qualquer artista, fez com que esse brasileiro desenvolvesse a incrível capacidade de, por vezes, se reinventar.

Lobão começou seu processo “fênix” ainda na prisão, onde teve que se tornar líder de uma cela para manter-se vivo. Depois, novamente em liberdade, enfrentou a perseguição policial ao seu público nos shows, com situações que chegavam ao cúmulo de realização de revistas ginecológicas na plateia feminina. Como se não fosse suficiente, sua obra também recebia o boicote para a não execução pela própria gravadora.

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Estando no limite com a situação onde se tornara refém do mercado fonográfico, o músico resolve criar seu Universo Paralelo, título dado ao selo independente onde lançaria, em 1999, “A Vida é Doce”. Um disco que seria vendido de forma inovadora, em bancas de jornal, e se tornaria sua segunda melhor vendagem.

Proferindo palestras por todo o país, Lobão passou a ser considerado um ícone da música independente, tendo seus passos seguidos por grandes nomes da música brasileira, que começaram a vender seus discos também em bancas de jornal. Em 2001, ainda pelo Universo Paralelo, lançou "Uma Odisséia no Universo Paralelo", e "Canções dentro da Noite Escura”, em 2005. Além da revista Outra Coisa, que saía juntamente com os CDs e que ajudou a lançar vários outros artistas.

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Em 2002, enquanto lutava para conquistar o público de forma independente, Lobão iniciou outra grande batalha. Ao lado de Beth Carvalho, fez uma maratona de entrevistas, viagens para Brasília e um abaixo-assinado contendo mais de 400 assinaturas de personalidades da música para que as gravadoras fossem obrigadas a numerar os discos prensados. Nesse ínterim, o músico teve grande apoio popular e da grande maioria da classe artística, porém, nomes como Ivan Lins e Caetano Veloso, dentre outros, posicionaram-se publicamente contra o projeto que trazia a obrigatoriedade, por força da lei, da numeração de todas as obras artísticas, científicas e literárias a serem editadas no país. No entanto, mesmo com a articulação das grandes majors, a guerra iniciada por Lobão foi vencida; em abril de 2003 os CDs passaram a ser obrigatoriamente numerados.

As transformações do músico, no entanto, não pararam por aí. Em 2007, Lobão surge com o Acústico MTV, um belíssimo disco, que teve sua divulgação ofuscada pela insistente argumentação sobre uma contradição na conduta do cantor, que, segundo a imprensa, era contra as gravadoras e agora lançava um Acústico MTV, projeto ao qual também já havia feito várias críticas. Ora, a luta de Lobão não era contra as gravadoras, e sim contra a falta de transparência na vendagem dos discos e também da força desleal dos famosos jabás. Quanto ao acústico, deixou claro que sua crítica não era ao projeto, e sim ao modo como os artistas vinham utilizando-o, ou seja, como uma ferramenta de ressurreição no mundo da música por parte daqueles que pouco produziam. Mesmo debaixo dessa nuvem negra de mais um boicote coletivo, Lobão faturou o prêmio de Melhor Álbum de Rock Brasileiro no Grammy Latino 2007.

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A essa altura de sua carreira, sendo sabedor do seu papel na cena musical brasileira e julgando sua obra mal aproveitada, Lobão aceitou o convite para se tornar apresentador da MTV, tendo a oportunidade de mostrar sua verdadeira face para as novas e as antigas gerações; um homem culto, de raciocínio rápido e engajado em questões importantes para a juventude brasileira. O programa de debate virou referência nacional, tendo, inclusive, a participação de parlamentares ao vivo nas discussões que eram travadas. Foi nessa fase que o artista começou sua grande virada. Lobão passou a comandar outros programas importantes no canal, tornando-se um sucesso como apresentador.

No final de 2010 veio à tona mais uma faceta do artista. Abandonou a tv para lançar 50 Anos a Mil, sua emocionante autobiografia, que contou com a importante pesquisa realizada pelo jornalista Cláudio Tognolli. Com uma enorme riqueza de histórias dos bastidores da música e documentos esclarecedores, o livro se tornou, rapidamente, um sucesso de vendas. Paralelamente, lançou pela Sony Music uma caixa com os seus discos totalmente remasterizados por ninguém menos que Roy Cicala, um famoso produtor americano que trabalhou com nomes como John Lennon, Elvis Presley, Elton John, Frank Sinatra e Jimi Hendrix.

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Mostrando a todos a sua capacidade de enxergar o futuro, Lobão chega aos 53 anos mergulhado no trabalho em redes sociais da internet para a divulgação de suas obras, disponibilizando duas canções para download gratuito: “Song for Sampa” e “Das tripas, Coração”. A segunda, diga-se de passagem, uma das obras primas da música brasileira contemporânea.

Numa época em que a escassez de conteúdo invade a nossa produção musical, Lobão nos presenteia com versos como esses: Abandono meu lugar rasgando as veias/ Derramando o meu amor pelas areias/ Anuncio um lindo sol radiante/ A última alvorada em teu semblante/ E na perfeição de um céu sem sombras a gente vai se encontrar.

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É diante de uma história cheia de conflitos e lutas que, finalmente, João Luiz Woerdenbag Filho começa a assumir o lugar na cena musical brasileira que lhe é de direito. A de um artista inteligente, político, inquieto, criativo, trabalhador e carismático. Enfim, um artista que se faz necessário.

A nossa música não seria a mesma sem Lobão e a sua capacidade de se reinventar.

Khalil Gibran é cantor e compositor

http://www.myspace.com/khaliloficial

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