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Maria Luisa Campos defende integração cultural entre China e América Latina no Fórum de Mesa Redonda

Especialista alerta para déficit no intercâmbio cultural e propõe diálogo mais profundo entre os povos

Maria Luisa Campos (Foto: LiHao / Global Times)

247 – A pesquisadora Maria Luisa Campos defendeu a ampliação da cooperação cultural entre China e América Latina durante o Fórum de Mesa Redonda China-América Latina, realizado em junho deste ano numa parceria entre o jornal chinês Global Times e o portal Brasil 247. A fala foi transmitida no canal oficial do evento no YouTube (assista aqui) e destacou a necessidade de um novo olhar sobre as trocas culturais entre as duas regiões.

Maria Luisa iniciou sua intervenção destacando que o fortalecimento do vínculo sino-latino-americano ultrapassa os aspectos econômicos e atinge o campo das emoções e das histórias compartilhadas. “A verdadeira força de uma aliança reside no plano emocional, naquele que não se negocia, mas que se reconhece”, afirmou. Segundo ela, experiências de intercâmbio mais humanizadas, como o impacto de professores chineses na formação de jovens roteiristas no Rio de Janeiro ou a presença de canções latino-americanas em palcos chineses, representam pontes culturais silenciosas e duradouras.

Ela lembrou que o comércio bilateral entre China e América Latina superou 518 bilhões de dólares em 2024, e que o país asiático já é o primeiro ou o segundo parceiro comercial da maioria das nações da região. No entanto, alertou para o desequilíbrio existente no campo cultural: “Menos de 40% dos latino-americanos têm uma visão positiva da cultura e do sistema social chinês, e quase metade admite saber pouco ou nada sobre a China”, afirmou. A pesquisadora também revelou um dado preocupante sobre a presença audiovisual: “Menos de 5% dos conteúdos audiovisuais que circulam em nossas telas vêm da Ásia, e apenas uma fração mínima tem origem chinesa”.

Para Maria Luisa, esse “vazio simbólico” não é um mero detalhe, mas uma barreira concreta para a construção de relações mais sólidas: “Sem confiança cultural, mesmo os acordos mais ambiciosos podem parecer distantes, frios ou alienígenas”, explicou. Ela alertou ainda para o risco da perpetuação de estereótipos quando não há narrativas autênticas que representem os dois povos.

Durante sua exposição, Maria Luisa apresentou o projeto América Latina olha para a China 2000-2030, que tem como objetivo aprofundar a escuta entre as duas regiões, não como uma pesquisa tradicional, mas como um convite a “pensar juntos que imagens nos representam, que emoções despertam nossas histórias e como podemos narrar sem que uma voz se sobreponha à outra”.

O projeto prevê a realização de entrevistas, produção de peças audiovisuais e análises digitais em seis países da América Latina, especialmente com a participação de jovens, profissionais da comunicação e comunidades locais. O intuito é, segundo a pesquisadora, “explorar que pontes podem ser construídas entre nossas sensibilidades” e gerar um roteiro compartilhado que oriente futuras coproduções e diálogos editoriais.

Maria Luisa reforçou que esse esforço precisa ser construído com “mérito, método, ética e tempo”, respeitando a autonomia editorial e reconhecendo a diversidade cultural como uma força, não como obstáculo. Ela afirmou: “Acreditamos em uma visão genuína, de escuta, de respeito e de parceria, porque não se trata apenas de contar histórias, trata-se de como nós contamos juntos”.

A pesquisadora encerrou sua participação com um chamado simbólico e potente: “Se conseguimos fazer com que uma menina em Bogotá e um menino em Guangzhou se reconheçam numa mesma história, se um produtor em Recife puder trabalhar com um colega em Changsha, se uma série documental puder ser o começo de um diálogo entre dois povos, então sim, teremos construído algo maior do que uma aliança”.

O Fórum de Mesa Redonda China-América Latina reuniu diversos especialistas em junho e serviu como espaço para aprofundar temas econômicos, políticos e culturais nas relações sino-latino-americanas, destacando a importância de vínculos mais próximos e humanizados entre os povos. Assista:

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