Médiuns contam conflito fundiário entre PR e SC
O documentário "O Contestado - Restos Mortais", do catarinense Sylvio Back, explora guerra do início do século 20 na divisa entre Santa Catarina e Paraná e causa polêmica ao colocar diante da câmera médiuns que supostamente incorporam espíritos de pessoas envolvidas no conflito
SÃO PAULO, 22 Nov (Reuters) - O documentário "O Contestado - Restos Mortais", do catarinense Sylvio Back, dialoga com uma vertente bastante comum no cinema brasileiro contemporâneo: o filme espírita.
O longa faz um trabalho interessante de pesquisa sobre a guerra acontecida na divisa entre Santa Catarina e Paraná, entre 1912 e 1916, mas toma caminhos questionáveis ao colocar diante da câmera médiuns que supostamente incorporam espíritos de pessoas envolvidas no conflito.
A melhor parte do filme vem de historiadores --como Nilson Fraga, Ivone Gallo e Marli Auras--, do brasilianista Todd A. Diacon e do músico e folclorista Vicente Telles. As entrevistas são bem conduzidas e se complementam na montagem, que segue um arco lógico e narrativo, dando clareza ao desenvolvimento do conflito, com detalhes relevantes.
Porém, ao colocar em cena os médiuns, o diretor parece confiar que todos os seus espectadores realmente acreditem nisso. Porém, para quem não crê nesse tipo de manifestação, o filme para de funcionar na hora em que entram em cena.
"Incorporados", vítimas e rebeldes contam suas histórias, gritam por socorro da mãe, explicam porque lutaram, em sequências que lembram encenações teatrais.
A melhor parte do filme acontece mesmo quando os especialistas traçam um perfil desta guerra, que deixou entre 5 mil e 8 mil rebeldes mortos, explicando suas causas, desenvolvimento e consequências. Como é o caso da historiadora Marcia Motta, alegando que "foi um jogo de posse-propriedade, legal-ilegal, que fez da experiência do Contestado um exemplo emblemático de luta pela terra no Brasil".
Diretor experiente, Back ("Jânio 20 Anos Depois", "Aleluia Gretchen", "Lost Zweig") aprofunda-se no tema e traz fatos desse conflito pouco abordado da história do Brasil. E o documentário se sustenta tão bem em seus depoimentos e montagem que é de se questionar se as manifestações mediúnicas realmente são necessárias para seu desenvolvimento.
A primeira exibição do filme ocorreu no festival de documentários É Tudo Verdade, em 2010, quando foi mostrado uma versão mais longa -- de 155 minutos. Esta lançada comercialmente tem cerca de 30 minutos a menos.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
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