Miró vai à guerra

Por Natália Rangel_247 - A maior mostra do artista surrealista catalão Joan Miró (1893-1983) nos últimos 50 anos será inagurada nesta quinta-feira 14 na Tate Modern, em Londres. A exposição “Joan Miró, Escada para a Fuga”, reúne mais de 150 obras do pintor, entre óleos, aquarelas, desenhos e esculturas – muitas delas foram cedidas por colecionadores especialmente para essa mostra e não são vistas pelo público há muitos anos. Além da grandiosidade da exposição, um destaque particular é a presença de trabalhos que revelam o engajamento político do artista e a influência de sua identidade catalã em suas criações. Miró tinha fama de ser politicamente alienado, desinteressado do que ocorria à sua volta. A exibição vem mostrar que isso não é verdade. Mais conhecido por pinturas abstratas, ligeiramente psicodélicas e cores vivas, Miró retratou com dramaticidade a guerra civil espanhola, a ascensão do regime do ditador Francisco Franco no país e a Segunda Guerra Mundial -- e estas suas facetas ganham relevo na exibição britânica.

O título escolhido faz, justamente, referência a essa dualidade de Miró (além do fato de que as escadas são presenças marcantes em suas telas com o sentido de fuga e liberdade). “O artista precisa se envolver na realidade quando, de fato, gostaria de fugir para longe de tudo aquilo”, diz um dos curadores da exposição, Matthew Gale. Entre as obras que compõem a sua fase chamada “pinturas selvagens” está “La espranza del condenado a muerte” (1974), tela pintada pelo artista sob o impacto da execução do jovem anarquista catalão Salvador Puig Antich. Outra tela rara e impactante, pertencente a outra fase do artista, é Still Life with Old Shoe (foto) resultado de quatro meses de intensa concentração do artista e uma visão amarga e tensa de uma época que já prenunciava o início da Segunda Guerra Mundial.