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Não falta verba, falta prioridade

Nicolas Behr, conhecido pelos poemas irreverentes e profundos sobre Braslia, fala ao 247 do que gosta: arte e poesia. E do que no gostou nada: o cancelamento da Bienal da Poesia

Gisele Federicce avatar
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Natalia Emerich_Brasília247 – Quem mora em Brasília provavelmente conhece o poeta marginal Nicolas Behr, de 53 anos. Na cidade desde 1975, o escritor mato-grossense é presença confirmada em eventos culturais, saraus literários e manifestações artísticas.

Apaixonado pela capital, é autor de 30 livros. O primeiro, Iogurte com Farinha, foi lançado em agosto de 1977. De lá para cá, não mudou a forma de divulgação. Faz questão de vender seus livros pessoalmente até hoje. Imprime em seus poemas uma reflexão intensa e constante sobre a capital. Ama tanto a cidade que é um de seus maiores críticos. Quem mais poderia ter escrito "Brasília é o fracasso mais bem planejado de todos os tempos"?

O que é poesia?

É mais fácil definir o que não é. A minha definição não é bem uma definição, mas poesia é tudo isso que você está sentindo agora.

A arte é inquieta?

Tem que ser. Ela provoca, traz uma tensão psíquica. E a tensão humaniza o homem, humaniza a vida. Não existe um povo sem arte, um povo que não se manifeste artisticamente. A arte está na vida do homem desde o tempo das cavernas. A arte que não inquieta é esquecida e abandonada.

O que pensa sobre o cancelamento da 2ª Bienal Internacional da Poesia, que deveria ocorrer neste mês?

É lamentável e mostra a diferença entre o discurso e a prática no Distrito Federal. O governo argumentou que há um projeto grande chamado Brasília Capital da Leitura, como se uma coisa inviabilizasse a outra.

Então qual seria o real motivo do cancelamento?

Não é falta de verba, é falta de prioridade. A gente vê tanto dinheiro sendo gasto com outras coisas. Acho que R$ 1,5 milhão para trazer poetas de fora e fazer publicações não seria tanto dinheiro se comparado à relevância do projeto, que traria um evento internacional de grande porte.

Por que a cultura é tão desvalorizada?

Vivemos uma sociedade do espetáculo. O cancelamento mostra como a cultura fica refém da indústria do espetáculo cultural. A bienal poderia reunir 200 pessoas, mas não, um evento maior pode juntar 10 mil, com muito mais dinheiro, muito mais recurso. Por que investir em algo menor?

O que Brasília perde com o cancelamento?

Era um evento importante. A bienal é um momento de reflexão e prospecção. Há muito tempo estava sendo prevista. Muitos escritores viriam à cidade e conheceriam a capital, haveria troca entre os poetas. Vários deles escreveriam sobre Brasília. O evento teria resultados simbólicos a grande prazo. É uma pena, acho que seria muito bom e Brasília só teria a ganhar.

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