No dia da consciência, Wyllys lembra: carne mais barata do mercado é a carne negra
"Não me venha dizer de mérito quando são justamente as vítimas de racismo, homofobia e transfobia (violências que também se misturam!) aquelas que lideram os índices de desistência escolar, e, portanto, não se qualificarão para o mercado de trabalho. Também não me venha falar em racismo reverso quando alguém que passou a vida ouvindo que a cor da pele pode ser usada como ofensa, e que sente o peso da ofensa todo o tempo, acaba reproduzindo inconscientemente o mesmo comportamento", diz o deputado do Psol, que lembrou Elza Soares
Por Jean Wyllys, em seu facebook
Hoje é o dia da consciência NEGRA. Sim, em maiúsculas e sem hipocrisia. É negra, e não venha querer dizer que deveria ser dia da consciência humana, porque o jornalista famoso não disse "coisa de humano". Por acaso foi a expressão "negro de alma branca" ou "humano de alma humana" que condenou outro jornalista famoso e colocou um ministro do STF como protagonista de um verdadeiro vexame? Foi um "humano" ou foi um negro o desenho que representava os criminosos a combater em um manual da Polícia Militar de Diadema, em São Paulo?
Aliás, segundo os dados das próprias Secretarias de Segurança Pública, as vítimas preferenciais dos assassinatos são os humanos sem cor ou são os humanos de pele preta ou parda?
Então não me venha falar que existe uma tentativa de opor negros e brancos. A vida coloca negros e brancos em lados diferentes na hora do acesso ao emprego formal, do acesso ao ensino superior, da batida policial, na hora do assassinato dos jovens, das violências racistas... e até mesmo na hora do maldito "comentário descontraído" do jornalista famoso. E também na hora em que este jornalista famoso é defendido por outros jornalistas famosos, que acusam que a indignação dos negros é oportunista, em uma clara solidariedade narcisística entre brancos de destaque.
Não me venha dizer de mérito quando são justamente as vítimas de racismo, homofobia e transfobia (violências que também se misturam!) aquelas que lideram os índices de desistência escolar, e, portanto, não se qualificarão para o mercado de trabalho. Também não me venha falar em racismo reverso quando alguém que passou a vida ouvindo que a cor da pele pode ser usada como ofensa, e que sente o peso da ofensa todo o tempo, acaba reproduzindo inconscientemente o mesmo comportamento. Não me venha falar em racismo reverso quando você for lembrado que sua cor ou condição social lhe garantem alguns privilégios.
Não venha dizer que denunciar o racismo é ser racista, que defender políticas afirmativas de direitos é defender a segregação, ou que o racismo acaba quando se deixa de falar nele. Não se faça de desentendido.
"A carne mais barata do mercado é a carne negra
Que vai de graça pro presídio
E para debaixo do plástico
Que vai de graça pro subemprego
E pros hospitais psiquiátricos"
A data de hoje não é uma data festiva. Não poderá ser uma data festiva enquanto um jovem negro e pobre tem até 11 vezes mais chances de ser assassinado que um jovem branco pobre da mesma periferia. A data de hoje é uma data de luta e em respeito ao luto por aqueles e aquelas que ficaram pelo caminho.
"A carne mais barata do mercado é a carne negra
Mas mesmo assim ainda guardo o direito
De algum antepassado da cor
Brigar sutilmente por respeito
Brigar bravamente por respeito
Brigar por justiça e por respeito"
Briguemos!
Música: A Carne, Elza Soares: https://www.youtube.com/watch?v=yktrUMoc1Xw
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