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Cultura

O Brasil segundo Raul Seixas

Vinte e dois anos aps sua morte, tambm em um domingo de 1989, o msico baiano se mantm como mito de uma poca; seu repertrio uma crnica viva e irreverente da histria do Pas. Assista aos vdeos

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Santos_Bahia247 - Esqueça os quase quatro milhões de resultados que o Google lhe dá se você pergunta quem foi Raul Seixas. Dê uma de maluco beleza e mergulhe nas músicas do multifacetado artista, ora moleque maravilhoso, ora carimbador maluco, uma eterna metamorfose ambulante. Ficar no batido e rebatido bla bla bla de que o baiano Raul Santos Seixas (1945-1989), o Raulzito, foi um famoso cantor e compositor brasileiro é muito pouco. Vamos fazer diferente: que tal pegar uma carona numa nave espacial e pedir com jeitinho, "ô ô, seu moço/ do disco voador/ me leve com você/pra onde você for..."? 

Ah, como era abusado, o Raul! Senão, o que dizer de um autor que, em plena vigência dos anos de chumbo, escarnecia da ditadura? Sabe como? Simplesmente conclamando seus seguidores (ícones como Raulzito não têm fãs, agregam fiéis) a viver a plenitude de uma sociedade alternativa em que valia como lei a mais absoluta liberdade. Algo como tomar banho de chapéu, discutir Carlos Gardel e esperar Papai Noel... Quer dizer, enquanto o país era amordaçado pela ditadura, nosso inquieto poeta pregava os ensinamentos do filósofo inglês Aleister Crowley (1875-1947) resumidos na obra "Livro da Lei" e na doutrina batizada de Thelema, palavra grega que significa vontade: "Faz o que quiseres que tudo deve ser da lei. Todo homem é um indivíduo único e tem direito a viver como quiser", pregava Crowley.

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Como diz o jornalista e escritor Celso Lungaretti, no artigo Reflexões sobre Raulzito e a Sociedade Alternativa, publicado no blog Raul Santos Seixas (raulsantosseixas.multiply.com), houve uma tentativa da esquerda conservadora de tentar reduzir a obra de Raul a uma mera manifestação anarquista. "Mas ele era um homem sintonizado com o neoanarquismo que esteve em evidência na Europa e EUA na virada dos anos 60 para os 70. E só não dizia isso de forma mais explícita em suas canções porque o Brasil era um estado policial, submetido a uma censura rígida, embora burra", dispara o intelectual, que é autor do livro "Náufrago da Utopia" (Geração Editorial, 2005) e fez parte do círculo de amigos do artista.

Quando os tabus falam mais alto

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Hummmm... mas, passeando pela obra de Raul, dá pra ver que, mesmo pregando a liberdade, havia momentos em que os tabus falavam mais alto. Como quando retrata em "Paranóia" o conflito do adolescente, que, com os hormônios em ebulição, se tranca no banheiro para fazer você sabe o quê: "Vacilava sempre a ficar nu lá no chuveiro, com vergonha/Com vergonha de saber que tinha alguém ali comigo/Vendo fazer tudo que se faz dentro dum banheiro".

Já se disse tudo sobre Raul. Inclusive sobre a relação de amor e ódio dele com o escritor Paulo Coelho, seu parceiro em várias composições, como a antológica Sociedade Alternativa, a mística Gita e a instigante Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás, dentre outras. Como demonstram registros históricos, não era apenas a música o elo que os ligava, mas o sonho de construir a chamada sociedade alternativa, com base na experiência adquirida nas irmandades de que já haviam participado: Raul, na Grã Ordem Kavernista; Paulo na Argentum Astrum, AA, organização que tinha como base os ensinamentos do bruxo Crowley.

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Para a veterana roqueira Rita Lee, a imagem mística que Raul assumiu nessa época não era de fundo religioso. "Me parece que depois que Paulo Coelho entrou na vida de Raul como parceiro de trabalho e de aventuras no mundo da magia, Raul praticamente neutralizou seu jeito Presley de ser e mudou, feliz, para o papel de Profeta Apocalíptico. O fã radical de Elvis ingeriu uma overdose de misticismo e se transformou num guru", diz em entrevista ao site Casa do Bruxo.

Dançando por entre as estrelas

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Há quem diga que Raul foi um suicida, mesmo que tenha passado ao mundo a ideia de ser um lutador. Relembre os versos de Tente Outra Vez: "Basta ser sincero/E desejar profundo/Você será capaz/De sacudir o mundo/Vai! Tente outra vez!". Mas, apesar desse discurso que daria o mote para um best-seller de autoajuda, no final do caminho, ele parece ter jogado a toalha. Alcoólatra, diabético, acabou por desenvolver uma pancreatite aguda, inflamação do pâncreas, glândula localizada atrás do estômago e que tem como principais funções auxiliar a digestão e controlar os níveis de açúcar no sangue. Já havia nove anos que ele vivia sem dois terços da glândula. Proibido de ingerir bebida alcoólica, desrespeitava solenemente as recomendações médicas: seu café da manhã era um copo de vodca com suco de laranja e, durante o dia, se encharcava de éter.

Naquele 21 de agosto de 1989, aos 49 anos, Raul sofreu uma parada cardíaca fatal. Morreu sozinho, num apartamento do Flat Service Residence Aliança, situado na zona central de São Paulo. Mas quem disse que Raul morreu? Como Elvis, Michael e Amy, há quem jure que ele continua por aí como um anjo de cara safada ou dançando por entre as estrelas...

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