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Odete Lara, a diva reclusa

Aos 82 anos, a belssima estrela de Noite Vazia, de Walter Hugo Khoury, que abandonou a carreira nos anos 80, homenageada em mostra no Centro Cultural Banco do Brasil, em So Paulo

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Depois de sua conversão ao budismo no final dos 1970, a atriz Odete Lara viveu por muitos anos em seu sítio em Friburgo, no Rio de Janeiro. Só voltou à capital devido a problemas de saúde e hoje vive assessorada por uma dama de companhia em seu apartamento no bairro do Flamengo. Ela completou em abril 82 anos. Estrela que se retirou cedo da movimentada cena cinematográfica e televisiva brasileira, Odete conseguiu ao longo da vida preservar ao máximo a sua intimidade dos olhos públicos, ela que trabalhou em obras primas do cinema brasileiro, como “Noite Vazia”, de Walter Hugo Khoury, e “O Dragão da Maldade e o Santo Guerreiro”, de Glauber Rocha, depois de ter estreado na profissão em uma comédia ao lado de Mazaroppi (O gato de madame, de 1956). A última vez que deixou o Rio de Janeiro foi em 2007, quando viajou de ônibus até um templo budista próximo à cidade mineira de Ouro Preto, onde passou dias meditando. A trajetória da diva que contemplou as diversas fases do cinema brasileiro estará em destaque na mostra “Odete Lara, Atriz de Cinema”, que o CCBB apresenta a partir da quarta-feira 1, relembrando parte do trabalho dessa mulher extraordinária, e exibindo 16 dos 32 filmes de que participou, de 1956 a 1985.

Aqueles olhos claros e grandes, incisivos e separados, sugeriam tempestades, no mínimo abismos insondáveis. Hoje, são olhos de paz. Longa é a distância entre o tempo em que Odete Lara foi musa inconteste do cinema brasileiro até seu retiro para meditação na serra fluminense. No esplendor dos seus 50 anos, Odete decidiu que já estava bom e partiu para outra. Odete Lara (1929), paulistana da Bela Vista, o popular Bexiga, era mesmo uma deusa. Mas existem mulheres bonitas que não encontram grande expressão na tela grande. Somem, encolhem-se. Com Odete era o contrário. Mesmo em papeis pequenos, ela se expandia e tomava conta do filme. “Enche a tela”, como se diz no jargão do cinema. E foi essa fotogenia cênica, sua intensidade a 24 quadros por segundo que fez dela a musa de certa fase da nossa cinematografia.

Sua estreia se dá em “O Gato de Madame” (1956), ao lado de Mazzaropi. Em seguida, vêm “Absolutamente Certo” (1957) e “Moral em Concordata” (1958). E, em 1963, um papel marcante em “Boca de Ouro”, a versão cinematográfica da peça de Nelson Rodrigues, dirigida por Nelson Pereira dos Santos. Alguém consegue esquecê-la naquele vestido de bolinhas, dando o testemunho de sua relação com o bicheiro vivido por Jece Valadão? Odete era mesmo muito sexy. Mostrava-se à vontade no universo rodriguiano, que parecia sob medida para a sua intensidade.

Walter Hugo Khouri, com sua sensibilidade nunca desmentida para descobrir talentos femininos, escalou Odete para o elenco de “Noite Vazia”. Talvez seja o melhor trabalho de Khouri. E também existe quem ache o melhor desempenho de Odete Lara, sublime como a garota de programa Regina. Odete é igualmente admirável em “Os Herdeiros”, de Cacá Diegues, e “A Rainha Diaba”, de Antonio Carlos da Fontoura, com quem foi casada.

Depois de “Diaba” e “A Estrela Sobe”, de Bruno Barreto, de 1974, Odete começou a afastar-se do cinema. Ainda voltou para fazer “O Princípio do Prazer” (1979), de Luiz Carlos Lacerda, e depois uma pequena participação em “Um Filme 100% Brasileiro” (1985), de José Sette. Mas já estava em outra. Descobriu o budismo, retirou-se, passou a meditar e a escrever livros. Sua trajetória é exemplo de sabedoria; de cada fase extraiu o melhor; enterrou os excessos da juventude e, com eles, construiu a serenidade da velhice. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 Odete Lara, Atriz de Cinema - CCBB (Rua Álvares Penteado, 112). Tel. (011) 3113-3651, metrô Sé e São Bento. R$ 4. Até 12/6.

 

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