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Cultura

Primeira livraria feminista do Brasil, Lilith funcionou em Curitiba por 11 anos

Há 30 anos, foi inaugurada pela jornalista e escritora Bebeti do Amaral Gurgel a "Lilith", essa sim a primeira livraria brasileira com obras exclusivamente de autoras mulheres, diferentemente do que foi divulgado na imprensa na semana passada

Jornalista e escritora Bebeti do Amaral Gurgel (Foto: Lava Furtado / Revista Contemporartes)
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Por Nícia Ribas, de Plurale - Na semana passada, o UOL e outros veículos da mídia anunciaram a abertura da Gato sem Rabo, como sendo a primeira livraria do Brasil com apenas livros escritos por mulheres, na Vila Buarque, centro de São Paulo. No entanto, o espaço criado por Johanna Stein, catarinense formada em artes visuais que já foi modelo, não é novidade. Esqueceram de pesquisar e acabaram divulgando nota mentirosa.

Há 30 anos, foi inaugurada na Rua XV de Novembro, em Curitiba, a Lilith, essa sim, a primeira livraria brasileira com obras exclusivamente de autoras mulheres, que funcionou por 11 anos.

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Plurale perguntou à dona da Lilith, a jornalista e escritora Bebeti do Amaral Gurgel, o que ela pensa sobre o anúncio mentiroso:

“Fake news na área cultural também, inacreditável, não é? Eu fiquei sabendo porque um monte de gente me ligou, jornalistas, escritores e escritoras, o meio acadêmico, amigos, primos. É lamentável confirmar a falta de informação de alguns “jornalistas”, “cronistas”, “influencers”. Não houve pesquisa nem sequer no Google, nas redes sociais ou Wikipedia. Nem precisavam ir em bibliotecas, era só pesquisar no celular mesmo. Tudo me pareceu muito raso.

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Coincidência o nome da rua da livraria ser justamente o sobrenome da minha família, Amaral Gurgel, e justamente quando a Lilith, primeira livraria do Brasil, completa 30 anos de história".

O que te motivou a abrir a Lilith?

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"Eu morei na Holanda, em Amsterdam, 11 anos, em plena segunda onda do feminismo. O movimento era muito forte na Europa nos anos 80/90 e livrarias feministas eram comuns. Só em Amsterdam havia três. Na América do Sul já tinha duas, uma na Argentina e outra na Bolívia. No Brasil ainda não havia nenhuma, embora a luta feminista fosse grande aqui também. Voltei da Holanda porque tinha certeza de que estava na hora de termos um lugar nosso para discutirmos nossas jornadas. A proposta da livraria era criar um espaço onde as mulheres se sentissem à vontade para encontrar livros com temas específicos da mulher como “gravidez na adolescência”, “menstruação”, “homossexualidade”, “mulheres que não querem ter filhos” e outros. Esses temas geralmente são desconfortáveis para pedir a um livreiro homem. Além disso, tínhamos muita literatura e biografias de mulheres, naturalmente. Era um espaço para ouvir o que as mulheres tinham para dizer.

A livraria foi toda feita por mulheres, toda a construção, operárias, designers, pintoras. LILITH é um dos símbolos da luta feminista, Lilith é a mulher que não se submeteu aos desejos machistas do Adão mesmo no paraíso (risos)".

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Qual foi a importância na época?

"Foi extremamente importante e ainda é. Até hoje me pedem para reabrir a livraria. Fazíamos lançamentos de livros, debates. O feminismo estava forte no Brasil, na moda, porém aqui a mídia dominante nunca foi simpática à causa, então tínhamos essa barreira. Mas a livraria estava sempre cheia, participávamos de feiras, congressos, encontros nacionais e internacionais. A abertura da livraria Lilith saiu na mídia da Holanda, Alemanha, EUA, Chile e Japão. Tenho bem guardado todas essas matérias".

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Como reagiram os clientes brasileiros à livraria?

"Os conservadores, os desconfiados, que debocham de tudo e são resistentes às novidades mais progressistas, faziam piadas machistas, assédios inoportunos. Os mais politizados, intelectuais e engajados elogiavam. Falo dos homens. As mulheres sempre gostavam, se sentiam em casa. Mas, de um modo geral, a livraria era frequentada por muitas mulheres, homens não machistas e solidários, muitos estrangeiros, feministas, professores e professoras, acadêmicos e acadêmicas, artistas, homossexuais, negros, (eu tinha uma seção só sobre mulheres negras), poetas, escritores e escritoras".

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E como está o feminismo hoje?

"Hoje estamos na terceira, quarta, onda que veio com a Judith Butler e o transfeminismo. As bandeiras são sobre identidade de gênero, identidades não binárias. Houve um retrocesso gigantesco nas lutas feministas no Brasil, a violência contra a mulher aumentou muitíssimo no país, querem proibir livros com ideologia de gênero, voltamos a falar de assédio, estupro, salários iguais, temas que nem deveriam ser mais assunto. Falam até em “estupro culposo”.

O feminismo está na moda outra vez. Tudo o que a gente falava há 30 anos voltou a ser pauta em um país que caminha para trás a passos largos. Os países que melhor cuidaram da pandemia foram os governados por mulheres. Não é fantasia, é estatística. É fato.

E para citar um escritor homem só por ironia (risos) lembro de uma frase do Eduardo Galleano que gosto muito: “O machismo nada mais é do que o medo dos homens das mulheres sem medo”.

Feminismo neles!

Ela está pensando seriamente em reabrir a Lilith. Alvíssaras!

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