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Cultura

Revelações de Luís Miranda

Ele prefere Salvador ao Rio de Janeiro, quer fazer filme de seu famoso espetculo, 7 Conto, e acha que Rafinha Bastos caiu na armadilha da lngua grande; leia entrevista do ator ao 247

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Camila Vieira _Bahia 247 – Quem vê Luís Miranda acha que ele é aquele tipo de ator que vive 24 horas por dia, sete dias por semana representando alguém. E não tem erro: é assim mesmo. Quando não interpreta algum personagem de ficção, está exercendo determinado papel social ou vivenciando alguma figura inimaginável. Sim. Na sexta-feira (22), ele era um mestre de obras. O apartamento localizado no mais boêmio bairro de Salvador, Rio Vermelho, onde recebeu o Bahia 247, está sendo reformado, revirado cabeça pra baixo. Apesar disso, arranjou tempo para ser o Luís Miranda ator, famoso nacionalmente e, ao mesmo tempo, conseguiu desvencilhar-se de tudo isso.

Aproveitando o curto período livre em que não está gravando, nem viajando com um de seus espetáculos, ele migrou neste final de semana para Jacuípe – refúgio onde adora curtir a praia, conversar com amigos e tomar uns "bons drink", como diz, referindo-se à travesti brasileira Luisa Marilac, famosa na internet por postar vídeos no Youtube direto da Espanha.

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Adora sentir-se como um ser humano comum: longe dos holofotes e de celebridades. Por isso, foge para Jacuípe. "O Rio é uma cidade tela, uma cidade onde o tempo inteiro as pessoas estão te lembrando quem é você. Porque você circula lá, você é artista, é um cara conhecido, é um cara que fez um filme. (...) É a cidade dos paparazzi, né? Eu acho que aqui em Salvador você tem uma vida mais equilibrada. Tenho uma casa na praia que é um lugar mais isolado...".

Não seria por menos. Para quem optou por morar na capital baiana e viver, consequentemente, na ponte aérea – encontrando gente o tempo todo –, ponrrammm, imagine o que é estar bem, hein?

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Nascido em Pau da Lima, bairro de periferia de Salvador, há 42 anos, foi de lá que buscou inspiração para criar personagens da peça "7 Conto". Dona Editi, personagem baseada em alguns aspectos de Luiza Miranda, sua mãe, não suporta desperdício de comida, por exemplo. Ela luta e tem orgulho; é, acima de tudo, porta-voz da favela, apesar do analfabetismo.

Engraçado, divertido, simpático, o ator não faz cerimônia se tiver que falar com a imprensa ou com fãs. Contudo, admite: quando está cansado faz cara feia com a intenção de afastar pessoas. Para não agir com deselegância, prefere mantê-las receosas e distantes com um duro semblante. Mas nem sempre as convence. "Já me acostumei com isso". Não tem jeito; é abrir um sorriso e dar um abraço. "Acho, às vezes, meio chato, mas como dizem uns amigos aí, faz paaarrtxi, né?".

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Às vezes, é difícil conversar com Luís Miranda e não se lembrar dele atuando. Ou melhor, é fácil perceber como seus personagens são tão naturais e carismáticos quanto ele. Não há exagero na interpretação, a não ser quando é exigido pelo papel. Mesmo assim, é tudo sob medida. Cursou dança, mas trocou pelo teatro. Entretanto, a dança o ajudou a ter conhecimento sobre o corpo e como usá-lo para expressar uma mensagem. O corpo, diz, tem que estar vivo em cena.

Humor sem conteúdo

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Num momento da conversa, Luís Miranda criticou levemente o humor cruel, frívolo e espetacular – quando questionado. No Brasil, segundo ele, muitas pessoas querem seguir certa cultura nerd norte-americana do humor pelo humor, sem entender em ponto começa o direito do 'outro' e termina o do 'eu'. O exemplo mais recente: "O Rafinha [Bastos] caiu nessa armadilha da língua grande e da língua boba".

"Reflexão risível"

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Conhecido por imprimir certa dose crítica aos seus espetáculos, o ator baiano acredita ser possível fazer humor com inteligência e sagacidade, sem cair na bobagem do 'mais um besteirol americano'. Para sustentar sua afirmação, cita diversos personagens de "7 Conto", como Queixada, Coraline, Madame Sheila, dentre outros.

"Queixada foi um cara que eu conheci no Rio Vermelho, inclusive foi um cara que eu peguei emprestado o nome, o nome dele é Ademar Queixada. Ele tem uma queixada assim, ó". [Move o maxilar e arregaça o queixo para frente, imitando o flanelinha bebum]. Morador há mais de cinco anos do bairro onde já residiu o escritor Jorge Amado e sua mulher, também escritora, Zélia Gattai, Miranda costuma frequentar o recente reformado Mercado do Peixe, composto por mais de 33 boxes (bar) padronizados.

"Tem essa avó Arminda, inspirada na minha avó Marião que morreu muito velha com 116 anos. E aí eu pego aspectos dela para discutir a questão do idoso. Tem a Coraline, uma personagem que eu criei inspirada numa prima minha. Ela tinha uma vozinha muito nhim-nhim-nhim, nhim-nhim-nhim, e aí eu pego essa voz e aproveito para falar desse aspecto do bullying infantil, da criança negra [que não tem ícones infantis]. O espetáculo discute questões como o consumismo, as grifes, a moda, o consumo de luxo, a futilidade do mundo milionário". Sua personagem Sheila, a milionária, evoca exatamente isto.

Luís Miranda sabe aonde quer chegar: que levar a todos certa consciência para combater o poder alienante da mídia. "Tendo consciência é mais difícil você estar alienado, entendeu?".

"7 Conto" no cinema

Quem pensa que o multifacetado Luís Miranda fica parado está iludido. Apesar de não ter pressa, pensa em lançar um filme com enredo de seu espetáculo mais conhecido pelo país, com personagens engraçadíssimos que tocam a família brasileira e faz rir sem machucar e desqualificar ser humano algum. "Daqui a pouco vou sentar a bunda para escrever esse roteiro junto com os meus amigos".

Sua intenção é continuar falando de uma maneira descontraída sobre problemas brasileiros. Sem desrespeitar, sem ferir a honra do Brasil. Tudo isso, claro, dentro de uma narrativa cinematográfica. "Sabe essa coisa do 'Professor aloprado', que faz uma família inteira? Eu acho que seria por aí". Ele seria o intérprete de todos os personagens. Tecnologia não falta. Porém, não tem pressa.

"Religião é natureza"

Adepto do candomblé, Luís Miranda adora jogar búzios, tomar banho de folha e dar comida aos Orixás. "Eu acho que Deus é natureza, Deus é cósmico, Deus é preservação; Deus é o ambiente que você vive, Deus é o mar, é a palmeira, Deus é o espírito da Terra; Deus está localizado nisso, está no amor que você tem pelas pessoas. Deus está numa completude tão absurda que não pode ser mais encontrado num templo. Nada contra essas religiões, mas esse aspecto castrativo da religião não é coisa de Deus, para mim. Deus é liberdade, permissividade; liberdade de sentir, do respeito ao próximo, ao diferente".

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