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Cultura

Santoro fala ao 247: "A gente vive um momento internético"

Premiado pela segunda vez no Festival de Braslia, Rodrigo Santoro demonstra afeto e gratido pela capital, onde teve sua primeira experincia no cinema. O ator descreve seu papel em Meu Pas, que entrar em cartaz em 7 de outubro

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Luísa Medeiros_Brasília 247* – À primeira vista, é lógico que a beleza do ator Rodrigo Santoro chama a atenção. Mas, ao observar um pouco mais o ganhador do Candango de Melhor Ator do 44° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, pela interpretação de Marcos, protagonista do longa-metragem Meu País, de André Ristum, é possível entender por que o cara se deu bem na vida.

Ele não poupa gestos e expressões quando fala da carreira, da vida pessoal ou, simplesmente, do que está sentindo naquele exato momento. É transparente, deixa correr o sotaque fluminense, parece estar movido a paixão. Que paixão? Sei lá, por tudo ao redor. Pelo simples fato de agarrar as oportunidades e conseguir fazer o que sempre quis.

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As mãos inquietas escancaram a descendência ítalo-brasileira e, antes mesmo de completar a frase, elas estão apontando aonde o ator quer chegar. Por isso mesmo fazer o introspectivo Marcos deu tanto trabalho. "Foi um exercício de concentração, olha pra mim, sou assim", afirma, mexendo mais ainda as mãos. Ele topou fazer o papel mesmo com férias programadas. Parou de procurar o novo destino para surfar e encarou uma personagem cuja personalidade é totalmente diferente da dele. Ao receber a estatueta, no Cine Brasília, Santoro dedicou o prêmio ao pai, que nasceu na Itália. No filme, a personagem de Santoro passa boa parte da vida naquele país.

Aos 36 anos, Rodrigo Santoro coleciona prêmios e tornou-se referência brasileira no circuito internacional cinematográfico. Figura distante do Rodrigo de 11 anos atrás, que iniciou a carreira no cinema em Brasília, ao receber o Candango de Melhor Ator pelo papel em Bicho de Sete Cabeças, de Laís Bodanzky. Afeto e carinho pela capital foram externados, sem parcimônia, na apresentação do filme e nesta entrevista – o encontro ocorreu no Kubitschek Plaza, na tarde de domingo. "A gente não se esquece de onde começou."

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O que o motivou a aceitar o convite para protagonizar Meu País?

Algumas coisas, mas basicamente a história. Li o roteiro e não estava planejando fazer nenhum filme. Queria entrar de férias. Eu tinha acabado de filmar e estava exausto. Estava buscando locação para o surfe e, de repente, apareceu o Fabiano [Gullane, produtor] com a história, pedindo ao menos um feedback do roteiro. Eu li e fiquei com o roteiro na cabeça durante uma semana. Para resumir, o que mais me interessou foi a possibilidade de falar de afeto. Especialmente agora, neste momento "internético" que a gente está vivendo. Cada vez mais a gente está se afastando do contato humano, o um a um, e achei que a personagem é obrigada a se relacionar. Achei isso muito interessante e oportuno. A personagem me parecia muito interessante porque era de um jeito por dentro e de outro por fora. Tinha uma contradição entre a personalidade e tudo o que estava acontecendo dentro, uma dificuldade tremenda de expressar o que ele sentia. E essa dificuldade com afeto, essa travação. O cara tem um comportamento completamente diferente do meu, quase o oposto. E a questão do italiano. Eu tenho descendência italiana e foi um desafio falar quase 40% do filme em italiano.

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Mas você já falava italiano?

Não. Meu pai é italiano, mas eu não cresci falando italiano, meu pai nem falava em casa, veio para cá muito pequenininho. Meus avós quando discutiam era em italiano. Essa era a única referência que eu tinha. Vi uma possibilidade interessantíssima de parar tudo e começar a estudar a língua, ver se conseguiria falar, pelo menos, as falas do filme. Eu consigo me comunicar hoje em dia, mas eu trabalhei nas falas do filme. Tinha o André [Ristum], que fala italiano fluente, e a Anita [Caprioli, atriz com quem ele contracena], que é italiana. Ela chegou uma semana antes das filmagens e fiquei só treinando. Eu estava bem cercado, mas foram duas semanas intensivas de italiano.

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Você disse que o Marcos não tem nada a ver com você, mas você fica muito tempo fora do País, como ele...

Essa é a única semelhança. Acho que cada um à sua forma, porque não tenho nada a ver com o Marcos, mas entendo a relação afeto-distância. E acho que ele entende à forma dele. É um cara que ficou muito tempo longe por opção, eu não necessariamente fico longe por isso. A minha opção é de fazer o trabalho. A consequência é ficar longe, não é que eu opte por isso. Quando termina um trabalho, eu volto. Tenho saudades de ficar aqui, tenho um monte de coisas aqui que não só me interessam como fazem parte da minha vida.

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Parece que o Marcos não se identifica mais com o Brasil. Isso acontece com você?

Ele virou um estrangeiro. Por isso que Meu País não é o país geográfico, é outra coisa. Meu País é uma metáfora. O país de dentro. Quem é você? Onde você vive? Qual é o território que habita? É o que está dentro. Para onde eu vou, eu levo o meu país, minha cultura, eu fico com saudades de comer farofa. Falo português, tenho saudades da minha família, dos meus amigos. Isso está muito claro e dentro de mim.

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O Marcos vai se revelando, sutilmente, ao longo do filme. Ele é outro homem no fim?

O Marcos é um cara bem intencionando, não é do mal, mas tem problemas com o afeto. E é resistente a isso. É uma das coisas mais interessantes do roteiro. A famosa vida que ensina, que o coloca na situação e fala: se vira. Ele não tinha como não vir ao Brasil. E quando chega, o que poderia fazer? E aí aparece a irmã, que ele não conhecia. Ele poderia ter ido embora e ter dado as costas. Mas não tem como. Não é porque ela tem um problema mental. É porque ela está desamparada, não tem outra pessoa para cuidar dela. É muito desumano simplesmente virar as costas. O outro irmão não tem condições de cuidar dele próprio. Como vai cuidar da menina? Marcos não tem opção, e ao longo da trajetória, se transforma. Não é que ele termine o filme outro homem, mas ele se abriu para aquilo. Foi um tratamento de choque.

Com todas essas diferenças, a construção da personagem foi trabalhosa?

Foi. Eu queria trabalhar com o detalhe, com a sutileza. Como é um personagem muito introspectivo, que se controla em todos os sentidos, eu tive que me conter. Olha isso (mostra como mexe com as mãos quando fala). Ele não é isso. Foi um exercício de concentração para mim. Eu realmente estava interessado em explorar as coisas pequenas, minuciosas. Filigranas que às vezes nem estão tão claras para o telespectador, mas estão ali, na vida interna da personagem.

Falando em afeto, você destacou sua relação com Brasília um pouco antes da exibição de Meu País. Falou do prazer de estar no festival, do nervosismo que sentia...

Eu falei a verdade pura. Não preciso fazer média com ninguém. Fiquei nervoso assim que cheguei ao cinema. Vamos dizer assim: eu me senti como se estivesse na terapia. Parecia que eu estava voltando a 2000. Eu me senti voltando ao passado. Rolou um flashback. Eu senti uma emoção, não tive vontade de chorar, mas senti uma emoção misturada.

O que o Festival de Brasília representa para você?

É um marco para mim, foi onde comecei. E a gente não se esquece de onde começou. Antes do Bicho de Sete Cabeças, fiz um curta [Depois do Escuro] filmado em Brasília. Foi a primeira vez que eu fui fotografado em película. Com o querido e ilustríssimo Dirceu Lustosa, onipresente no cinema de Brasília, que é meu amigo até hoje. Ele me convidou enquanto eu estava fazendo Comédia da Vida Privada, para a Globo. Estava numa locação em Angra dos Reis (RJ) quando ele me ligou e me convidou, do nada, para fazer um curta. Imagina, eu era louco para fazer cinema naquela época. A gente participou do festival e, na sequência, veio o Bicho de Sete Cabeças. Essas duas histórias aconteceram aqui. Não tem demagogia, não estou falando isso para agradar a Brasília. Foi sincero.

O Cine Brasília tem problemas estruturais: falta banheiro, estacionamento. Há a promessa de reformar o espaço e construir um anexo há algum tempo. Fora no período do festival, o cinema é pouco utilizado. Quem vem de fora consegue ver esses problemas?

Eu mesmo tive que usar um banheiro fora do cinema... Eu ouvi que será feita uma melhora do entorno, não tenho dúvida de que uma melhora na infraestrutura é bem-vinda. Mas, dentro do cinema, a tela e a projeção são de alto nível. Não deve nada para ninguém. Mas até pela importância que o festival tem, é claro que um investimento é bom para receber o tanto de gente que vem. Até para tornar o cinema mais ativo, para atrair o público e fazer com que aquele cine seja um lugar que agregue as pessoas fora da temporada do festival. Porque aí vira parte do circuito de Brasília.

Você e Selton Mello são atores fazem muito filmes. Por quê? É mais prazeroso fazer cinema do que novela ou teatro? Ou não tem como comparar uma arte à outra?

São coisas difíceis de comparar, principalmente novela, cujo trabalho dura um ano, é mais diluído, mas ao mesmo tempo, é um grande exercício para o ator. Se você leva a sério, faz 20 cenas por dia. No cinema se faz uma, duas, três. O processo de feitura no cinema é artesanal, outra forma de trabalhar. É outra rotina, muito diferente. Eu adoro fazer cinema, estou absolutamente encantado e estimulado a fazer cinema.

É o que tem mais espaço hoje na sua vida?

Eu não deixei de fazer televisão. Acabei de fazer duas coisas: um especial para o Jorge Furtado chamado Homens de Bem, que vai estrear no fim de dezembro. É o primeiro telefilme que a Globo vai fazer. E fiz um episódio de As Brasileiras, série nova do Daniel Filho, numa sequência a As Cariocas. São trabalhos mais curtos, em que posso fazer isso e também aproveitar as outras oportunidades que são importantes para o meu crescimento neste momento. Não tenho preconceito com televisão, nem poderia ter, mas acho difícil comparar uma coisa com outra.

E como é a experiência de morar e atuar no exterior?

É cansativo, mas está sendo ótimo. Quero explorar mais, ainda estou curioso, com apetite para essa aventura. E tem me acrescentado muito. Quando falo eu não estou só falando de carreira, estou falando de forma geral. É a minha vida. Enquanto estou filmando, estou vivendo. É como eu estou passando a minha vida, como estou passando meus dias, onde estou passando, com quem estou passando. Eu penso muito nisso. Eu não tenho mais 26 anos, idade que tinha quando vim a Brasília fazer o curta. Agora, tenho 36. Passaram-se dez anos que não vão voltar mais. E como eu passei esses dez anos? Graças a Deus, muito bem, obrigado. E pretendo continuar passando muito bem.

Então, qual é o próximo destino internacional?

O trabalho ainda não está nem fechado, mas é provável que seja nas próximas semanas, no centro dos Estados Unidos, onde nunca estive. Confesso que nunca tive muita curiosidade de conhecer, prefiro as duas costas, da Califórnia, de Nova York, mas vamos ver o que lá tem a dizer.

 

* Colaborou Lúcio Flávio.

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