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Cultura

Sobre tubarões, morte e boquetes

Se o avião demorar cinco minutos pra cair, é cinco vezes mais tempo do que costumam durar minhas relações sexuais

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Eu sei que vocês da geração destemida e aventureira não costumam ter medo de nada, mas tenho algo a confessar: eu tenho três grandes medos. Na verdade, quando eu digo grande, quero dizer enormes e paralisantes. Eu morro de medo de avião, de morrer e de tubarão. Não é uma lista tão bizarra assim, vá lá: um medo normal, um nem tanto e um idiota. O medo de morrer não me incomoda muito, porque sei que é inevitável. Já com relação ao tubarão e ao avião, faço o possível para evitar terminar dentro de qualquer um dos dois.

Andei de avião pela primeira vez aos trinta anos, e evito o quanto posso outras viagens. Não é medo de voar, vejam bem. Até pretendo fazer um curso de vôo livre. É medo de, se der cagada, saber antecipadamente que eu vou morrer! Em um carro “Meu Deus, o caminhão tá desgovernado, desvia!”. E você pode desviar, derrapar, capotar, sobreviver. No avião: “Meu Deus, um motor parou/deu uma merda qualquer e estamos caindo”. Todo mundo vai morrer. Não adianta rezar, botar bóia, afivelar cinto, nada. Você vai morrer. Isso sem falar que você não pode simplesmente parar e descer. Entrou, só sai quando chegar ao destino. Seja ele Veneza ou a sua cova.

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Tubarões. Odeio tubarões. Sério. E nem é só medinho de bicho, porque gosto de cães de guarda, cobras (sem viadagem) e outros animais perigosos. Mas tubarão me dá arrepio só de pensar naquela desgraça. Tubarões são o motivo para eu não gostar de praia. Por “praia” na frase anterior, leia-se “praia, rio, cachoeira, lagoa, laguna, lago, costa e até uma piscina maiorzinha”. Eu sei que poucos lugares têm tubarões no Brasil, mas vai saber. Fiz um passeio de barco uma vez em Búzios e eles pararam no meio de um lugar pra mergulhar em um navio abandonado. Profundidade: 15 metros. Mas nem por decreto do Paul MacCartney eu entrava naquela água. Não entro em nenhuma grande porção de água. Nenhuma. Sem exceção. Nunca se sabe se um espírito de porco jogou um filhote de tubarão ali há muito tempo, o bicho cresceu e tava só esperando eu entrar na água. Na dúvida não entro nem em piscina natural. Praia de noite? Meu limite é cinqüenta metros da areia. Ouvi falar de uns tubarões que saem da água pra morder, dão uns pulos. Prefiro não arriscar.

Quanto ao medo da morte, não é bem da morte propriamente dita. O medo é de acabar a vida, entenderam? Porra, e se eu morrer e não vir o Fluminense campeão do mundo? E se eu morrer antes de ganhar um Oscar/Jabuti/Emmy/boquete de uma aeromoça no banheiro do avião? Bom, nesse caso eu abro mão do boquete só pra não andar de avião. Enfim, deve ser chato morrer e deixar um monte de coisa pra fazer. Se você morre mordido por um tubarão, já era. Mas se você tá em um avião e ele tá caindo, dá pra ligar pros amigos e redistribuir o que você tem pra fazer: deixa o título mundial pro seu amigo Tricolor, o Oscar pro seu amigo ator e por aí vai. Deixe seu legado. Mas nesse caso, já que eu vou morrer, do boquete eu não abro mão. E se o avião demorar cinco minutos pra cair, é cinco vezes mais tempo do que costumam durar minhas relações sexuais, dá até pra realizar o último desejo de alguma mulher que queira transar em um avião caindo. Morro e deixo tudo quitado.

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