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Cultura

Solar da Fossa: A morada da contracultura brasileira

Penso habitada por Caetano Veloso, Paulinho da Viola, Ruy Castro, Jos Wilker ePaulo Leminski, entre outros, na dcada de 1960, ganha livro assinado pelo jornalista Toninho Vaz

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Lúcio Flávio, especial para o Brasília 247 - O senador Cristovam Buarque, quem diria, também passou pelo Solar da Fossa, a mítica pensão carioca que, nos idos dos anos 60 e, início dos anos 70, serviu de morada para grandes nomes da nossa cultura como Caetano Veloso, Paulinho da Viola, Ruy Castro, José Wilker, Paulo Leminski, Maria Gladys, Darlene Glória, Cláudio Marzo, Betty Faria, Abel Silva, Paulo Coelho, Naná Vasconcelos e tantos outros. O detalhe despertou a surpresa, inclusive, do jornalista Toninho Vaz, autor do livro que conta a história do lugar que fez história entre a comunidade artista da época.

"O Cristovam e seu anfitrião, o estudante Wellington Moreira Franco, foram surpreendentes. No futuro, ambos seriam governadores de estado", comenta Vaz, que lançou o livro no início do mês no Rio de Janeiro e estará em Brasília no próximo dia 16 de setembro, para lançar a obra na Livraria Dom Quixote.

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Lançado pela editora Casa da Palavra, o livro, que conta com narrativa gostosa e repleta de histórias hilariantes, revela ainda uma passagem da trajetória do político brasiliense pouco conhecida entre alguns de seus eleitores: a do seu envolvimento na militância estudantil, em ferrenha oposição ao regime militar vigente. "Eu enfrentava um período turbulento como líder estudantil", lembra, no livro, Cristovam, na época um líder estudantil que fugia das botinadas dos milicos. Para não ser preso, ele, que era membro da Aliança Popular (AP), passou algumas semanas no Solar, na condição de fugitivo. A experiência seria marcante, como conta. "Ao chegar ao Solar me senti como se tivesse no exterior, havia um clima cosmopolita, muitos artistas circulando, envolvidos em altas produções. Foi um período muito rico culturalmente e muito importante a minha vida", avalia, hoje, o senador.

Atual senador da República, Cristovam Buarque foi um dos cem personagens entrevistados por Vaz para escrever a obra, a maioria ex-moradores do Solar. Zé Rodrix, famoso por fazer par com Guarabyra, outro morador do local, registrou assim esse grande fenômeno sociocultural. "Não se sabe como, nem por que, em algum momento de 1966, várias pessoas interessantes resolveram morar no mesmo lugar. E havia espaço para todas".

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De modo que a convivência naquele ambiente efervescente de ideias e trocas coletivas, num intervalo de mais ou menos cinco anos, serviu de laboratório criativo para muita gente boa e bacana ou alguém aí duvida sobre o que Caetano Veloso estava falando nos versos tropicalistas de Panis ET circenses?

"Mandei plantar folhas de sonhos no jardim do Solar/As folhas sabem procurar pelo Sol...", avisa o baiano, em códigos cifrados, na canção imortalizada pelos Mutantes.

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Para Toninho Vaz, o Solar da Fossa, então uma construção colonial de 85 apartamentos, localizado em Botafogo, emergiu naqueles cinzentos dias de ditadura, como espécie de reduto de resistência, mas também de sonhos. "O elemento vital na aura do Solar era o desejo de liberdade pessoal ou coletiva. Havia algo de revolucionário no ar", conta o autor, que teve a ideia de vagar pelos corredores do passado do famoso casarão, depois de escrever as biografias dos poetas Torquato Neto e Paulo Leminski, ambos moradores do Solar.

"Acabei me interessando pelo tema, fiz algumas sondagens e percebi que daria um livro", detalha o jornalista, que nunca morou na pensão, mas chegou a conhecer o espaço na época, tornado-se frequentador assíduo. "Eu passei em frente ao casarão, em 1970, com um amigo que tinha dormido algumas noites na pensão. Foi ele quem primeiro me chamou a atenção para o lugar", recorda.

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Nas páginas do livro são reveladas muitas histórias humanas e pessoais que se confundiam com a própria realidade sufocante que o País vivia. Algumas até inéditas, como o turbulento relacionamento da atriz Darlene Glória com o temido policial, Mariel Mariscot, um dos criadores do famigerado Esquadrão da Morte.

Outra, envolvendo a hóspede Maura Lopes Cançado, vítima de surtos de esquizofrenia que elas os transformaram em seu polêmico livro, O hospício é Deus. "Minha tarefa como autor foi fazer uma seleção com as histórias mais significativas do Solar, onde acontecia muita coisa interessante ao mesmo tempo", explica o autor.

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O curioso nome Solar da Fossa nasceu de um episódio divertido envolvendo o carnavalesco e cenógrafo Fernando Pamplona, em 1967. Arrasado por ter se separado da mulher, o artista, seguindo o destino da maioria de seus pares, na época, descarregou suas malas na já famosa pensão levando consigo uma fossa descomunal. "Pamplona pode ter levado sua fossa para o casarão e até batizado com ela, mas nem ele conseguiu se manter depressivo por muito tempo – o astral do Solar o curou", revela o jornalista e escritor Ruy Castro, autor do prefácio do livro e também um dos ilustres hóspedes do Solar.

Demolido em 1971, para a construção do Shopping Rio Sul, o lugar onde tantos jovens artistas um dia almejaram o impossível, hoje se firmou as bases da catedral do consumo. O tempo, o progresso e a intolerância, às vezes adoram nos pregam uma rasteira.

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