Stefan Zweig, entre os horrores do nazismo e a vida nos trópicos
Há muitas histórias submersas no Brasil. A passagem de Stefan Zweig pelos trópicos é uma delas. Zweig, judeu e escritor austríaco, vendeu milhões de livros a partir da década de 20 e deixou seu país em busca de refúgio frente ao nazismo, que emergia na Europa; o filme de Maria Schrader retrata, a partir da vida do escritor, os perigos da ascensão nazista ao poder na Alemanha e, ao mesmo tempo, coloca Zweig contra a parede quando expõe sua ausência de posicionamento político
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Por Ricardo Flaitt, para o Brasil 247 – Há muitas histórias submersas no Brasil. A passagem de Stefan Zweig pelos trópicos é uma delas. Zweig, judeu e escritor austríaco, vendeu milhões de livros a partir da década de 20 e deixou seu país em busca de refúgio frente ao nazismo, que emergia na Europa.
O filme de Maria Schrader não se limita a narrar o exílio do escritor ao lado de Charlotte Elizabeth Altmann, conhecida como Lotte, ex-secretária, 30 anos mais jovem, que se tornou sua segunda esposa, ou mostrar uma simples sequência de paisagens, cenários bucólicos e eventos de autógrafos.
Scharer amplia a narrativa ao retratar, a partir da vida do escritor, os perigos da ascensão nazista ao poder na Alemanha e, ao mesmo tempo, coloca Zweig contra a parede quando expõe sua ausência de posicionamento político.
A neutralidade política torna-se explícita durante um congresso de escritores, na Argentina, Zweig foi bombardeado por jornalistas com perguntas sobre a conjuntura política na Alemanha, que já se preparava para entrar em guerra na Europa. Acossado, Zweig não se posiciona e afirma que não falaria mal de sua pátria nem de qualquer outro país. A declaração soou como um ato covarde.
A tensão sobre o posicionamento político do escritor atingiu outro nível quando, em Nova Iorque, uma refugiada o cobrou para interceder nas embaixadas para que outras pessoas conseguissem o visto e, assim, livrarem-se do genocídio étnico de Hitler. Zweig foi evasivo.
Ao mostrar a incursão de Zweig no Brasil, Scharer também foi incisiva e ácida, expondo o lado burlesco e o servilismo arraigado na cultura brasileira desde a formação. O cômico cenário se constrói no pequeno cerimonial que um prefeito preparou para a recepção do escritor, já extenuado depois de tantas homenagens.
Encantado com a natureza e com a capacidade, em sua visão, do povo brasileiro assimilar culturas e raças distintas, instala residência em Petrópolis. Fruto de sua contemplação, Zweig cunhou a expressão "Brasil, país do futuro", que se propagou como um mantra das perspectivas de desenvolvimento do país até a atualidade.
Longe de sua pátria, a guerra em curso na Europa, Zweig tornou-se um homem dividido entre os seus livros e uma crise existencial, quando sua consciência debatia, por um ângulo, com o fato de que milhões de pessoas estavam sendo exterminadas e, por outro lado, sua vida bucólica e contemplativa nos trópicos.
Ficha técnica
Título original:Stefan Zweig: Farewell to Europe
Diretora:Maria Schrader
Com: Tómas Lemarquis, Barbara Sukowa, Josef Hader
Gênero: Drama
Classificação: 12
Outros dados: ALE/FRA/Áustria, 2016, Cores, 106 min.
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