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Xingu, um filme que ignora Belo Monte

Produo de Cao Hamburguer sobre os irmos Villas-Boas esteticamente bem acabada, mas peca ao no retratar a situao atual do parque do Xingu

Xingu, um filme que ignora Belo Monte (Foto: DIVULGAÇÃO)

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Vivian Virissimo, do Sul 21 – Livremente inspirado em fatos reais, o filme Xingu é esteticamente muito bem acabado e cumpre a função importante de contar a história dos irmãos Villas-Bôas e sua épica missão de criar o Parque Nacional do Xingu. Além disso, traz à tona fatos históricos importantes para compreender o Brasil de hoje, como é o caso da construção da Rodovia Transamazônica. Mas peca ao dar um panorama atual do parque que ignora o impacto, ou pelo menos a suspeita de impacto, que terá o empreendimento da Usina de Belo Monte, a obra mais controversa em curso no país.

São muitos os méritos do filme ao contar o processo que possibilitou a criação do parque, as articulações políticas, o trabalho cuidadoso dos irmãos Villas-Bôas. Mas no dia que o Parque completa 51 anos de fundação, neste sábado (14), ignorar Belo Monte não contribui para responder uma das principais perguntas que podem perturbar o público: a preservação do Parque Nacional do Xingu está mesmo garantida?

É indiscutível a importância de contar a história do parque e de seus fundadores com o mínimo de fidedignidade, – trabalho que o filme faz -, mas o grande receio é que Xingu produza um falsa sensação de dever cumprido, que o brasileiro deve se orgulhar da política indigenista que é executada pelo Estado, desconsiderando os sérios riscos de retrocessos que enfrentam os povos indígenas na demarcação de novas terras indígenas — como é o caso da PEC 215 que tramita no Congresso Nacional, para ficar em apenas um exemplo.

Claro que o filme não se propõe a isso, e ele é muito bem sucedido ao retratar o período histórico que propiciou a criação da reserva, mas não citar Belo Monte, ainda que nos segundos finais do filme, é uma opção autoral que é difícil de ser defendida. Patrocinado pela Globo Filmes, esta é uma falha grave que dá a entender que o Estado brasileiro, ao fundar o Parque Nacional do Xingu, já fez bastante pelos índios, reservando um espaço de terra que nenhum outro país demarcou (são cerca de 2,6 milhões de hectares no Mato Grosso).

Mesmo sem citar Belo Monte no desfecho do filme, Cao Hamburguer falou, antes da primeira exibição de Xingu, sobre os riscos de retrocessos ambientais e políticos em jogo na Amazônia. “Estamos correndo o risco de andar para trás não só nas políticas indígenas, mas também nas questões ambientais”, afirmou. “Contamos uma história que se passou há cinquenta anos, mas que é muito atual e urgente”, comentou.

Pressionado sobre porque não é mencionada a construção da Belo Monte, o produtor do filme, Fernando Meirelles, se defende dizendo que as imagens da Transamazônica no final do filme já deixam implícita a questão. Ele confessou ser contra a usina que foi imposta, segundo ele, sem os devidos estudos de impacto. “Serão dezessete usinas ao longo do rio para produzir uma energia elétrica que não precisamos, para fazer alumínio para a China”, conclui.

Com Belo Monte ou sem Belo Monte, o futuro do Parque Nacional do Xingu é uma incógnita. De qualquer forma, Xingu é indispensável para saber detalhes da expedição Roncador-Xingu que mapeou o território, construiu pistas de pouso e abriu caminho para o modelo de “desenvolvimento” que é colocado em prática até hoje.

 

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