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A epopeia europeia

As crises externas não podem servir de pretexto para que o Brasil, ao ingressar no cenário das economias desenvolvidas, arrisque com medidas paliativas

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A pergunta que ninguém pode deixar de fazer, mas, ao mesmo tempo, poucos sabem responder, é por que a economia brasileira deixou de crescer, estagnando-se, com reflexos diretos nos mercados de capital e acionário?

O modelo investigativo parte da crise americana setorial, deflagrada no segundo semestre de 2008, porém, paulatinamente, debelada, bastante diferente do cenário europeu, contaminando e contagiando, como um todo, a economia globalizada.

Naturalmente, a epopeia grega deixou estilhaços espalhados para a economia italiana e, via reflexa, para aquela espanhola, sendo opinião comum que ambas podem trazer a desagregação do modelo da moeda única.

O cobertor é muito curto e as medidas aplicadas não estão surtindo os desejados efeitos, operando desnível de investimentos, além do menor crescimento das economias da China e da Índia.

Focados esses aspectos, o mercado brasileiro se ressente de programas, planejamento e de menor interferência do exterior.

As visitas realizadas na Alemanha e nos EUA não produziram nenhum ímpeto de melhora em relação ao crescimento industrial brasileiro e aos investimentos provenientes de recursos de fundos soberanos.

Havia uma previsão otimista no sentido de que o mercado acionário brasileiro alcançasse 80.000 pontos, fortalecido pela sistemática política monetária do Bacen na redução da taxa Selic.

Críticos outros relacionavam a moeda norte-americana e a excessiva valorização do Real como graves fatores adversos ao mercado exportador brasileiro.

Sobredito tiroteio de informações, diagnósticos e previsões não são necessariamente suficientes e fundamentalistas a ponto de explicarem o que acontece para que muitas empresas listadas na Bolsa apresentem prejuízo e o consumo interno seja reduzido.

O governo tem buscado descobrir a causa principal da reviravolta e ditado, ao Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, a redução de juros, principalmente do cheque especial, e o fortalecimento do acesso ao crédito, encontrando forte resistência do setor privado.

Enquanto não se ataca de frente o problema, constatamos desaquecimento em vários setores, indignação da classe industrial, o que evidencia forte crescimento do agronegócio, no mercado interno e no mercado externo.

Não tendo sido superada a crise europeia, foram dados sinais para alavancagem de recursos governamentais e diminuição das despesas públicas, os mercados tem reagido de maneira estressada e nervosa.

Em tão pouco tempo o cenário mudou radicalmente e, atualmente, as Bolsas despencam, lá fora e aqui dentro, o que pode consubstanciar movimento especulativo, e não uma tendência duradoura.

Efetivamente, o próprio governo sustenta que 60 milhões de brasileiros farão parte da classe média nos próximos 5 anos, de tal modo que a conjuntura prestigia o aumento da renda e, proporcionalmente, do consumo.

Alastra-se a crise para a América Latina e não podemos empenhar recursos para alimentar o Banco Mundial, FMI, ou qualquer outro organismo estrangeiro, inclusive as reservas depositadas do Bacen devem ser utilizadas para minorar os efeitos deletérios do mercado.

Algumas empresas podem utilizar-se da ferramenta da recompra de papéis, redução de ações negociadas e lançamentos secundários para aplacar o nervosismo generalizado e a desconfiança motivada do investidor.

O desenho demonstra que a queda experimentada pelo mercado nas últimas semanas não foi enfrentada pelas autoridades e, muito menos, desafiada pelo governo.

Calcula-se que mais de R$ 50 bilhões estejam em caixa do BNDES, sem utilização imediata, o que poderia significar falta de comunicação entre os setores público e privado no combate à assimetria da economia globalizada.

Os países desenvolvidos procuram proteger seus mercados, aliviar a concorrência, manter forte a própria moeda, mas muitos têm pela frente eleições presidenciais, cujas rupturas não são aconselháveis.

Quando se introduz o Brasil na 6ª economia do Planeta, causa preocupação e enorme desconforto a constante oscilação dos mercados e nenhuma resposta que o acionista e o investidor recebam para tranquilizar as respectivas perdas.

Acreditamos que o derretimento superficial tenha sido provocado por fatores externos, somados aos especulativos, mas chegou o tempo do governo assumir o risco de medidas de efetivo combate aos descontroles cíclicos da crise, reerguendo a economia, visando crescimento econômico sustentável, cortando o mote da inflação, sem deslocar para a conjuntura os problemas internos que afetam diversos setores do país.

Em resumo, as crises externas não podem servir de pretexto para que o Brasil, ao ingressar no cenário das economias desenvolvidas, arrisque com medidas paliativas, perdendo o rumo da história e se embrenhando pela contramão do crescimento e do próprio desenvolvimento que tanto o governo reclama.

Aspiram-se ações concatenadas, as quais têm propósitos igualmente àquelas ao exterior, para dissipar as nuvens carregadas e restabelecer a transparência do modelo econômico abraçado por meio de políticas públicas sem retrocesso. 

Carlos Henrique Abrão é desembargador no Tribunal de Justiça de São Paulo

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