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Abilio vai ao JN; Guido e Luciano irão à Câmara

Globo, Abilio Diniz d como favas contadas emprstimo de R$ 4 bilhes: O BNDES fez um bom negcio; mas ministro da Fazenda e presidente do banco pblico tero de explicar a deputados o que h de bom em entrar com 85% do dinheiro e ficar com 9% do Po de Acar e Carrefour fundidos

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247 – O empresário Abilio Diniz tem para distribuir a quem se interessar um currículo pessoal com dez páginas datilografadas. Todas as vezes que ele foi eleito Homem do Ano, seus resultados esportivos, os detalhes de sua carreira iniciada como filho do fundador do Grupo Pão de Açúcar, tudo está lá. A partir da quarta-feira 29, Abilio pode anexar à peça uma cópia em DVD da entrevista que ele concedeu ao Jornal Nacional, da Rede Globo. Trata-se de um momento maior de seu desempenho. Como se já estivesse tudo certo, como se não existissem mecanismos de fiscalização, como se se pudesse rasgar um contrato vigente e criar, da noite para o dia, um monopólio no estratégico setor dos supermercados, ele aceitou falar com exclusividade ao JN para dizer que o Brasil está ganhando uma empresa chamada Novo Pão de Açúcar, resultado da fusão entre o próprio e o Carrefour, armada com R$ 4 bilhões repassados a ele pelo BNDES, o banco público de investimentos. Aos sócios franceses do grupo Casino, que consideram a fórmula uma “expropriação”, ao presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômico), Fernando Furlan, que vê na fusão um ato ilegal de concentração, e ao público que teme o monopólio como fonte de aumento de preços dos alimentos, uma banana. Ou algumas.

“O BNDES fez um bom negócio”, disse Abilio, como se o empréstimo de “dois bilhões de euros”, no dizer do BNDES, terceira maior operação já planejada pelo banco, já estivesse carimbado e depositado em sua conta. “O banco está evitando que o sistema de abastecimento brasileiro seja totalmente desnacionalizado”, completou. Nos ensaios que têm feito a respeito do que dizer em público sobre a mais controversa, atrapalhada e nebulosa tentativa de expropriação de um sócio e montagem, em paralelo, de um monopólio, que se tem notícia no Brasil, Abilio sustenta que o BNDES estaria apenas ajudando o Pão de Açúcar a se internacionalizar – e o próprio banco, numa notinha de poucas linhas, já ecoa essa versão. O que ainda não foi dito claramente, entre muitos outros aspectos dessa jogada, é que o banco público entraria com 85% do dinheiro para fechar o negócio, obteria, em troca, uma participação de apenas 9% no novo negócio e, talvez numa bandeja de prata, entregaria todo o comando para o próprio Abilio, 69 anos, currículo de dez páginas.

Nem tudo, porém, é como Abilio quer. Sua presença já anda causando, como diz a gíria. Causando constrangimento dentro do governo federal e, ao mesmo tempo, despertando críticas furiosas na própria base parlamentar da presidente Dilma Rousseff. Poucas horas antes de sua entrevista imperial, a Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados aprovou dois requerimentos convidando o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a participarem de audiência pública para discutir a fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour. Os requerimentos precisam ainda ser votados, o que deve ocorrer na próxima reunião, prevista para terça-feira, quando haverá audiência pública sobre a fusão entre Sadia e Perdigão com representantes da empresa e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

À tarde, em meio à reverberação de sua proposta de criação de um conglomerado que abarcaria sob uma mesma bandeira, de uma só vez, quase 30% do setor supermercadista do País, Abilio compareceu à reunião da Câmara de Política de Gestão, Desenvolvimento e Competitividade. Parecia, para ele, cuja jogada para fundir o Pão de Açúcar com o Carrefour abalou até mesmo o movimento normal da Bolsa de Valores de São Paulo, que nada estava acontecendo. Mas estava. Em lugar de comentar a presença do empresário como algo natural no encontro que ela própria presidiu, a ministra chefe do Gabinete Civil, Gleisi Hoffmann, tratou, diante dos repórteres que cobrem o Palácio do Planalto, de afastar qualquer proximidade com Abilio. “Foi uma enorme coincidência”, resumiu. Em seguida, passou a defender o governo quanto frente à manobra do empresário. Segundo ela, o tema não foi tratado na reunião à portas fechadas da Câmara de Gestão. Para ela, a questão é de "enquadramento" e "não tem dinheiro público, nem do FGTS, nem do Tesouro". "É dinheiro do BNDESpar", afirmou.

O visível constrangimento da ministra Gleisi pela presença de Abilio em Brasília é compreensível. A proposta de fundir os dois maiores conglomerados supermercadistas do País tem, na raiz, o apoio financeiro do BNDES. O banco estatal de investimento demonstrou disposição de enfiar nada menos que “dois bilhões de euros”, conforme os termos empregados hoje em nota oficial da instituição, para ajudar o empresário em sua manobra de passar por cima da vontade de seus sócios franceses do grupo Casino. Ou melhor, viabilizarm mais que ajudar. Afinal, a quantia que o BNDES está disposto a, digamos, investir corresponde a nada menos que 85% do valor total estimado para ser entregue ao Carrefour. Em contrapartida, o banco estatal, de acordo com a proposta divulgada na sede do privado BTG Pactual, na terça, em São Paulo, ficaria com algo como 9% do novo negócio. Isso mesmo: 85% do dinheiro para 9% do resultado da compra.

“O BNDES está jogando, com esse negócio, dinheiro fora, pelo buraco”, afirmou ao 247 o senador Valdir Raupp (PMDB-RO), que pertence à base de apoio do governo Dilma. “O banco tem de investir em empresas que irão gerar empresas e não, como nesse caso, num conglomerado a ser criado que irá cortar postos de trabalho”. Juntos, Pão de Açúcar e Carrefour, sob a gestão de Abilio Diniz, controlariam nada menos que 2,2 mil pontos de venda de alimentos, com atuais 214 mil funcionários. Enquanto os fornecedores temem, desde já, enfrentar esse poderia, os sindicatos receiam cortes na mão de obra. O público consumidor, por seu lado, teria menos opções para comprar, o que costuma resultar em elevação de preços. “O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) tem de vetar esse negócio, Abilio Diniz, se quiser, terá de se virar sozinho”.

Pela oposição, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) assinalou ao 247 que não existe interesse público no negócio, apenas o empresarial. “É sempre a mesma coisa. Quase setenta por cento dos recursos do BNDES são canalizados para as grandes empresas, e apenas 27,9% vão para as pequenas e médias empresas, que é onde estão os empregos que deveriam ser fomentados pelo BNDES”, disse o senador em plenário. “O ministro (da Ciência e Tecnologia) Aloizio Mercadante veio dizer aqui ontem dizer que faltam recursos para financiar ciência e tecnologia no Brasil. Esse dinheiro está sendo jogado fora”, completou.

Para tratar das manobras de Abilio Diniz, o grupo Casino, seu sócio no Pão de Açúcar e que não quer aceitar a proposta, contratou um dos melhores criminalistas do Brasil, o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias, para cuidar das estripulias comerciais de Abilio. “Sinto que há um cheiro de golpe de Estado sobre a vida corporativa”, disse o advogado, hoje, ao Brasil 247. Foi uma referência velada ao movimento de apoio dado ao BNDES para o monopólio que o empresário sonha formar.

 


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