Anúncio de programa para carros populares derruba preço de usados

247 - O anúncio do governo Lula (PT) do programa de carros populares, que prevê a redução de preços em modelos de até R$120 mil, já está causando impactos no mercado de carros usados. Segundo Sant Clair de Castro Jr., presidente da Mobiauto, ouvida pelo Valor Econômico, um dos maiores marketplaces do setor automotivo do país, na sexta-feira (26) os preços dos seminovos, carros com até três anos de uso, começaram a cair. Ainda não é possível quantificar exatamente a queda de preços, mas já é perceptível uma diferença na curva de valores.

Castro explica que muitos revendedores anteciparam-se à desvalorização dos seminovos em decorrência da futura redução dos preços dos carros novos, e baixaram os preços dos veículos neste fim de semana para evitar terem estoques com valores mais altos. Atualmente, a Mobiauto possui 250 mil veículos anunciados, e espera-se que o mercado continue agitado enquanto os consumidores permanecem confusos durante o prazo de 15 dias dado pelo Ministério da Fazenda para a análise do programa.

Embora o período entre o anúncio e a execução do programa gere expectativas e reflexos nos preços dos usados, Castro mostra-se favorável à iniciativa. Segundo ele, "vender carro novo a preços abaixo de R$60 mil muda muita coisa", destacando que a redução nas parcelas do financiamento pode fazer uma grande diferença para muitas pessoas.

No mercado de carros novos, o anúncio governamental paralisou as vendas dos modelos que serão beneficiados pelo programa, ou seja, aqueles abaixo de R$120 mil. Isso também atrapalhou os concessionários em um fim de semana importante para o setor automotivo, pois o último fim de semana do mês é tradicionalmente o período em que mais carros novos são vendidos no país. Aqueles consumidores que passaram a semana pesquisando e se interessando por determinado modelo têm a oportunidade de ir até a loja no sábado ou domingo para ver o veículo de perto. Nesse momento, as equipes de vendas são treinadas para conquistar o cliente. Além disso, é nessa época do mês que surgem as promoções, pois é a última oportunidade para as montadoras aumentarem sua participação mensal.

Com o anúncio do programa do carro popular, que prevê abatimento de preços em decorrência da redução de PIS/Cofins, os vendedores agora precisam focar nos negócios com modelos que custam acima de R$120 mil neste fim de semana.

O presidente Lula não conseguiu inserir no programa do carro popular o compromisso das montadoras em manter o nível de emprego, como pleiteavam os sindicalistas. O presidente do sindicato dos metalúrgicos do ABC, Moisés Selerges, destacou que é importante que os trabalhadores estejam incluídos na proposta, com proteção ao emprego e conteúdo local. Além disso, Selerges e outros dirigentes do sindicato defenderam medidas para estimular o mercado de caminhões e ônibus, que está em queda devido ao aumento de preços causado pela mudança na legislação de emissões.

Fernando Haddad, ministro da Fazenda, afirmou em uma entrevista à Globonews que estão trabalhando com caminhões em padrão Euro 6, que são mais avançados do ponto de vista ambiental, mas também mais caros. Segundo ele, a queda nas taxas de juros poderá reverter essa tendência.

A Fenabrave, entidade que representa os concessionários, emitiu uma nota defendendo que a comercialização dos carros beneficiados pelo programa seja feita exclusivamente pelas concessionárias, a fim de garantir que o benefício fiscal chegue efetivamente ao consumidor final. O governo cogitou a venda direta pelas montadoras, mas a venda de carros à pessoa física por meio de revendedores autorizados é prevista por lei.

Com todas essas mudanças e incertezas no mercado, consumidores e revendedores se mantêm atentos às novidades e aguardam o desenrolar do programa do carro popular nos próximos dias.